Descrição de chapéu vale do javari

Polícia prende mais um suspeito no AM e diz investigar possível homicídio

Segunda prisão ligada a caso de desaparecimento de indigenista e jornalista no Vale do Javari foi confirmada pela PF

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Atalaia do Norte (AM)

A Polícia Civil do Amazonas realizou nesta terça-feira (14) mais uma prisão de suspeito de participação no desaparecimento do indigenista Bruno Pereira, 41, e do jornalista britânico Dom Phillips, 57, na região do Vale do Javari (AM).

O novo suspeito é Oseney da Costa de Oliveira, 41, conhecido como Dos Santos. De acordo com Alex Perez, que comanda a delegacia em Atalaia do Norte (AM), ele é irmão de Amarildo Oliveira, o Pelado, preso desde a semana passada também por possível envolvimento no caso.

O policial afirmou que Oseney foi detido enquanto saía de sua casa no município. Ele tem ainda outra casa na comunidade São Gabriel, onde também mora Pelado.

O possível crime investigado é o de homicídio qualificado, segundo o delegado. Duas testemunhas, prosseguiu Perez, "colocaram" Pelado e Oseney "no local do suposto crime".

A prisão temporária de Oseney foi autorizada pela Justiça em Atalaia, município para onde Pereira e Phillips retornavam antes do desaparecimento em 5 de junho.

Segundo um comunicado da Polícia Federal, Oseney estava sendo interrogado na noite desta terça-feira e depois seria encaminhado para audiência de custódia. A Folha ainda não conseguiu contato com a defesa dele.

Policiais Federais, soldados do exército e indígenas fazem buscas no rio Itaquaí - Pedro Ladeira/Folhapress

A Polícia Civil do Amazonas realizou nesta terça buscas na comunidade São Gabriel. O outro suspeito de envolvimento no caso, Pelado, está preso desde a semana passada.

Policiais estiveram na comunidade, que fica às margens do rio Itaquaí, e vistoriaram casas de moradores. Na operação, foi apreendido um remo. A PF também disse em nota que alguns cartuchos de arma de fogo foram apreendidos, mas não especificou onde eles estavam.

As evidências colhidas até agora reforçam a hipótese de que a pesca e a caça ilegal estejam por trás de supostos crimes relacionados ao desaparecimento, como a Folha mostrou na segunda-feira (13).

No domingo (12), mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas encontraram uma mochila e outros pertences pessoais do jornalista e do indigenista. Os objetos estavam amarrados numa árvore submersa, no rio Itaquaí, o que indica, segundo os bombeiros, intenção de ocultamento.

Na Polícia Civil, o entendimento é que a localização dos pertences reforça a hipótese de que houve um crime.

A motivação mais provável, dizem investigadores, é o constante conflito entre pescadores ilegais e lideranças que atuam em defesa do território indígena —o local do desaparecimento fica a poucos quilômetros da entrada da Terra Indígena Vale do Javari.

Policiais também investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça pelo narcotráfico na região, um problema comum em praticamente toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.

Se for confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso passará a ter natureza federal e será investigado somente pela PF.

Desaparecidos desde 5 de junho, Pereira e Phillips faziam uma viagem pela região próxima ao território indígena, o segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares, no extremo oeste do Amazonas.

Pelado, preso após ter sido flagrado com porte ilegal de munição, mora na comunidade ribeirinha São Gabriel. Os pertences de Pereira e Phillips foram encontrados num ponto da margem do Itaquaí próximo a essa comunidade.

A área está isolada desde sábado (11), depois que um indígena mayoruna, integrante de um grupo de buscadores indígenas, identificou alterações na vegetação da margem do rio, como se uma embarcação tivesse adentrado pela mata de forma abrupta.

Foi nesse ponto que a mochila e demais objetos de Pereira e Phillips foram encontrados.

A região do desaparecimento é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da terra indígena.

Há relatos de tiros contra bases de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) por parte de pescadores ilegais. O cenário de conflitos levou a um reforço da vigilância empreendida pelos próprios indígenas, a partir de uma iniciativa da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

Pereira é servidor federal licenciado da Funai e prestava serviço à Univaja. Ele atuava como um fomentador da vigilância indígena.

Investigadores consideram que os resultados de três perícias serão decisivos para a elucidação do caso.

A mais importante, na visão deles, é a comparação do sangue colhido na canoa de Pelado com amostras de DNA das famílias de Pereira e Phillips. Se o sangue não for de nenhum dos dois, a investigação pode ser arrastar mais, segundo investigadores ouvidos.

Também está pendente de perícia um "material orgânico aparentemente humano" recolhido no Itaquaí e os objetos pessoais do indigenista e do jornalista retirados do igapó. Os próprios investigadores não sabem quanto tempo isso pode levar.

O último destino visitado pelos dois antes do desaparecimento foi a comunidade de São Rafael, vizinha de São Gabriel.

Pereira queria se encontrar com o pescador Manoel Sabino da Costa, o Churrasco, tio de Pelado. Ele é o líder da comunidade, e a intenção de Pereira era discutir formas de manejo sustentável do pirarucu, segundo Churrasco afirmou à Folha.

O pescador foi ouvido como testemunha pela PF, pela Polícia Civil e pela PM. Pereira deixou um bilhete para que Churrasco ligasse quando estivesse em Atalaia do Norte. O indigenista nunca chegou à cidade.

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