Descrição de chapéu Eleições 2022

Rodrigo prioriza gasto com asfalto e usa máquina em SP como contraponto a Tarcísio

Governo de SP diz que faz maior programa de pavimentação da história; oposição critica dispensas de licitação

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São Paulo

"Vocês sabem que muitas vezes você anda no ônibus, com a estrada velha, o ônibus vai batendo, vai incomodando", diz o governador Rodrigo Garcia (PSDB), em cima do palanque e cercado por aliados.

"Agora vamos gastar R$ 22 milhões na recuperação da [avenida] Sezefredo Fagundes. A obra começa na outra semana e, em 12 meses, vai estar zero quilômetro a estrada, viu?".

O evento há duas semanas, que teve como um dos atrativos anúncio de melhorias em via que liga a capital paulista a Mairiporã, na Grande São Paulo, segue o roteiro de outros dos quais participa o governador, que assumiu o cargo em abril passado do então governador João Doria (PSDB).

Rodrigo Garcia durante evento liberação de verba para duplicação da Rodovia Raposo Tavares
Rodrigo Garcia durante evento liberação de verba para duplicação da Rodovia Raposo Tavares - Divulgação Governo de SP/1.jun.22

Em pré-campanha pela reeleição, ele tenta pavimentar o caminho ao Palácio dos Bandeirantes com muito, muito asfalto, com gastos concentrados às vésperas da disputa.

Para se ter uma ideia, até o ano passado a verba reservada para o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) seguia abaixo da média de outros anos. Com 2022 ainda na metade, os chamados empenhos feitos pelo departamento, na casa dos R$ 6,8 bilhões, são os maiores desde 2014, outro ano eleitoral.

A previsão é que o DER gaste R$ 9,7 bilhões neste ano, valor equivalente a mais de seis vezes o orçamento da Secretaria de Desenvolvimento Social, responsável pela assistência social no estado, com R$ 1,5 bilhão previstos.

Os anúncios em série de melhorias em estradas são uma maneira de o atual governador se contrapor ao pré-candidato visto como principal obstáculo para que ele chegue ao segundo turno, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Tarcísio, chamado pelos bolsonaristas de "Tarcisão do Asfalto" por suas inaugurações enquanto ministro do governo de Jair Bolsonaro, é acusado pelo tucanato de ter uma performance pífia nesta área no estado.

A avaliação de aliados é que os números mostram que Rodrigo vence com folga essa espécie de "guerra do asfalto".

Rodrigo, por sua vez, é apontado por adversários como responsável pelo uso da máquina do Governo de São Paulo de maneira eleitoreira, o que inclui abuso de obras com dispensas de licitação.

Um dos programas que tem sido mais amplificado pela gestão tucana no estado é o Estradas Vicinais, do qual faz parte a obra citada acima.

O órgão responsável pelo programa, o DER, é área de influência de aliados estratégicos de Rodrigo, no caso o clã do vereador paulistano Milton Leite (União Brasil).

Não à toa ao lado do governador no evento da Sezefredo Fagundes estava o deputado estadual Milton Leite Filho (União Brasil) e, entre o público, muitos dos apoiadores da família.

Dentro de uma União Brasil rachada, são os Leite, originários do antigo DEM, que têm trabalhado para que a aliança seja oficializada, embora a ala ligada ao presidente da sigla, Luciano Bivar, vinda do PSL, resista.

A área de transportes e logística do estado é uma das mais cobiçadas por aliados, justamente pela visibilidade e poder financeiro do setor, que se multiplicam no ano eleitoral.

Em 2022, por exemplo, o governo já empenhou R$ 1,8 bilhão apenas no programa de estradas vicinais, quase todo o previsto para o ano. O valor é mais que o dobro de todos os gastos na mesma dotação nos três anos anteriores.

As obras, numerosas e de valores relativamente pequenos, garantem visibilidade de Rodrigo em todo o estado.

Os anúncios da liberação de valores ocorrem nas visitas constantes do governador a diversas cidades, geralmente em pacotes que geralmente também incluem entrega de veículos e reformas de equipamentos públicos.

Os gastos concentrados no ano da eleição já despertam críticas de adversários. "O que adianta passar três anos entesourando, asfixiando, para agora despejar de qualquer jeito sem qualidade no gasto?", questionou Tarcísio em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan.

No mesmo dia da declaração, Rodrigo rebateu, evocando outro ponto visto como fragilidade de Tarcísio, o pouco vínculo dele com o estado. "Se ao menos ele morasse aqui, pagasse imposto aqui e ajudasse SP a crescer… mas nem isso. Ele ataca SP, eu defendo SP. Ele critica SP, eu me orgulho de SP."

Aliados do governador costumam fazer comparações com a atuação de Tarcísio à frente do Ministério da Infraestrutura em relação às rodovias paulistas.

Conforme a Folha mostrou, pesa contra ele o fato de que DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) investiu apenas R$ 44,8 milhões em 2021 no estado –gasto que está estimado em apenas R$ 14 milhões para este ano.

Já o governo paulista contabiliza que desde o ano passado já foram investidos R$ 11 bi no "maior programa de recuperação e asfaltamento de estradas da história do estado".

Em vídeo postado em seu perfil, o próprio governador afirma que o programa no estado é duas vezes maior do que o do país, contrapondo-se indiretamente ao trabalho de Tarcísio, responsável pela área no governo federal.

Uma ressalva em meio ao programa é a paralisia em relação às obras do Rodoanel Norte, à espera de leilão para concessionária terminá-las.

Outro ponto explorado é a forma como as obras têm sido feitas. Oposição a Rodrigo na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), o deputado Paulo Fiorilo (PT) pediu investigação da explosão de gastos sem licitação ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) e à Promotoria para investigar o assunto.

De acordo com levantamento do gabinete do parlamentar, as dispensas de licitação na dotação para duplicação, recuperação e implantação de rodovias passaram de R$ 51 milhões, em 2019, para R$ 288 milhões no ano passado, um aumento de 465%.

No ano, isso representou 25% dos empenhos desta dotação, segundo os dados divulgados pelo deputado.

Neste ano, até março, os gastos nesta modalidade de contratação já ultrapassavam R$ 100 milhões, ainda de acordo com o parlamentar.

Obras seguem a lei, diz Governo de São Paulo

Questionado sobre o assunto, o governo afirmou que as obras emergenciais são adotadas seguindo a lei e "em rodovias que necessitam de ação rápida do poder público, como aqueles serviços que evitam interrupção total ou parcial do tráfego".

O governo ainda afirmou lamentar que o deputado critique "obras e serviços que melhoram a vida da população".

A respeito da concentração dos gastos no período pré-eleitoral, a gestão Rodrigo afirmou que assumiu o governo com déficit orçamentário de R$ 10 bilhões e "implementou reformas estruturantes desde o primeiro dia de mandato".

A gestão antecessora da administração João Doria/Rodrigo Garcia foi a de Geraldo Alckmin, na época do PSDB e hoje no PSB e, no último ano, de Márcio França (PSB), ambos ex-aliados e hoje adversários políticos do grupo do atual governador.

"Desde o início de 2021, o Governo de São Paulo promove o maior programa de recuperação e asfaltamento de estradas da história do estado. Estão sendo investidos R$ 11,1 bilhões em mais de 10,2 mil quilômetros de melhorias em 918 estradas pelos programas Estrada Asfaltada e Novas Estradas Vicinais. São serviços que garantem melhora na mobilidade e na logística e também garantem mais conforto, segurança para a população", diz a nota do governo.

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