Suspeito foi visto seguindo indigenista e jornalista desaparecidos, diz PM

Pescador conhecido como Pelado foi preso em flagrante, mas não por sua possível relação com o caso

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Brasília

A Polícia Militar do Amazonas obteve indicações de que o homem preso nesta terça-feira (7) por porte de munição proibida seguiu Bruno Pereira e Dom Phillips pelo rio Itacoaí na manhã em que eles desapareceram, no Vale do Javari.

Segundo divulgou a PM, testemunhas que viram a lancha de Pereira e Phillips descer o rio rumo a Atalaia do Norte no domingo (5) "avistaram também uma outra lancha de cor verde, com o slogan da 'Nike' bem visível, que trafegava no rio, logo após passar a lancha dos desaparecidos".

A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha.

Suspeito conhecido como Pelado preso pela polícia do Amazonas
Suspeito conhecido como Pelado preso pela polícia do Amazonas - Reprodução / TV Globo

O barco foi rastreado até ser identificado com Amarildo, 41, conhecido como Pelado e que estava na comunidade de São Gabriel —a mesma onde a dupla desaparecida foi vista pela última vez.

A polícia, por segurança, não divulgou de onde são as pessoas que presenciaram a cena. Uma autoridade ligada diretamente à investigação disse à reportagem, reservadamente, que essas testemunhas não são de São Gabriel.

Com o pescador, os policiais encontraram também munições de uso restrito, de rifle 762, e um cartucho calibre 16, além de 16 chumbinhos. A polícia diz ainda que apreendeu uma pequena porção que acredita ser cocaína.

Foi por esse motivo, das munições ilegais, que Pelado foi preso em flagrante e encaminhado à 50ª Diretoria de Inteligência Policial, onde prestou depoimento.

O delegado da Polícia Civil do caso, Alex Perez, disse que a ligação dele com o desaparecimento de Pereira e Phillips ainda está em apuração.

Pelado é uma das cinco pessoas que até agora foram ouvidas nas operações de busca da dupla.

Segundo o Governo do Amazonas, quatro pessoas foram ouvidas como testemunhas e uma na condição de suspeito. Pessoas ligadas às investigações dizem que ele é quem foi interrogado como suspeito, mas essa informação não foi confirmada oficialmente pela Secretaria de Segurança Pública do estado.

Dentre as outras pessoas ouvidas estão os também pescadores Jâneo e Churrasco —ambos foram liberados na noite da última segunda-feira (6), após o depoimento.

Amarildo, conhecido como Pelado, sendo conduzido pela Polícia Militar do Amazonas
Amarildo, conhecido como Pelado, sendo conduzido pela Polícia Militar do Amazonas - Divulgação/PM do Amazonas

Churrasco, inclusive, é quem Pereira e Phillips iriam encontrar na manhã de domingo, quando retornavam de uma viagem. Eles chegaram a passar pela comunidade de São Rafael, onde ele vivia, mas não o encontraram.

Então, seguiram viagem no retorno para a cidade de Atalaia do Norte, mas, no meio do caminho, desapareceram.

Segundo a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), o último local onde eles foram avistados foi justamente passando pela comunidade de São Gabriel, onde Pelado foi encontrado.

Segundo Eliésio Marubo, advogado da Univaja, Pelado "fez algumas ameaças contra a equipe" da entidade no último final de semana. O grupo era acompanhado por Pereira e Phillips.

Dias antes da viagem, Marubo, Pereira e outros membros da Univaja haviam recebido uma carta com ameaças de morte.

A Secretaria da Segurança diz que "está tomando todas as medidas cabíveis para auxiliar na elucidação do caso, em colaboração ao Ministério Público Federal, Polícia Federal e Funai [Fundação Nacional do Índio]".

O subcomandante da Polícia Militar do Amazonas, coronel Agenor Teixeira Filho, afirmou que duas pessoas chegaram a ser detidas para averiguação nesta terça, por terem desavenças anteriores com Pereira.

No entanto, elas não foram presas, e a secretaria não confirma oficialmente se tratarem de suspeitos do desaparecimento.

O subcomandante disse que elas estavam custodiadas pela Polícia Federal no município de Tabatinga para serem ouvidas. "Tudo está sendo investigado para que a gente possa ter mais informações e entender o que ocorreu com os dois", afirmou.

Ainda nesta quarta, a juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Cível do Amazonas, determinou que o governo federal atenda imediatamente a pedidos de apoio operacional para a busca dos dois desaparecidos.

"Determino à ré União que efetive imediatamente obrigação de fazer no sentido de viabilizar o uso de helicópteros, embarcações e equipes de buscas, seja da Polícia Federal, seja das Forças de Segurança ou das Forças Armadas, tendentes a localizar as pessoas Bruno Pereira e Dom Phillips", assinou Fraxe na decisão.

O jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian (à esquerda), e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira (à direita) - Daniel Marenco/Agência O Globo e @domphillips no Twitter
Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior da reportagem identificava incorretamente o município do Amazonas como Altamira do Norte. O nome correto é Atalaia do Norte. O texto foi corrigido. 

 

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