Bolsonaro evita Lula em Salvador, faz motociata e promete combustíveis mais baratos do mundo

Presidente se une a apoiadores em passeio de moto e não participa de cortejo cívico da Independência da Bahia

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Salvador

O presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou um possível encontro como ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), faltou ao cortejo cívico pela Independência da Bahia e se uniu a apoiadores em uma motociata pelas ruas de Salvador neste sábado (2).

A presença de quatro presidenciáveis na capital baiana –Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) também participam do cortejo cívico pelas ruas do Centro Antigo de Salvador– é o primeiro grande teste da campanha presidencial, com militantes nas ruas e preocupação adicional com a segurança.

Jair Bolsonaro discursa em trio elétrico antes de motociata em Salvador - Reprodução Facebook

Bolsonaro chegou por volta de 9h30 ao Farol da Barra, ponto de concentração da motociata, e discursou em cima de um trio elétrico ao lado do pré-candidato a governador da Bahia, João Roma (PL), e da pré-candidata ao Senado, Raíssa Soares (PL).

No discurso, o presidente criticou os governadores dos nove estados do Nordeste e prometeu que o Brasil terá um dos combustíveis mais baratos do mundo.

"Lamento que os nove governadores do Nordeste tenham entrado na Justiça contra a redução de impostos da gasolina. Isso é inadmissível. [...] Vamos acreditar que a Justiça não dará ganho de causa a essas pessoas e teremos um dos combustíveis mais baratos do mundo", disse.

A alta nos preços dos combustíveis vinha preocupando o governo desde o início do ano, e é vista pelo entorno do presidente como um dos principais obstáculos para a sua reeleição.

O preço começou a cair nas bombas de postos de gasolina nos últimos dias, porque entrou em vigor lei que cria teto para o ICMS nesses itens - uma das medidas apresentadas por Bolsonaro. Governadores de 11 estados e do DF, contudo, acionaram o STF (Supremo Tribunal Federal) contra a medida.

Segundo pesquisa divulgada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), na sexta-feira (1), o preço médio da gasolina comum no Brasil caiu 3,6% nesta semana.

Em junho, ranking Global Petrol Prices mostrou que o Brasil tem a 83ª gasolina mais cara do mundo, dentre 170 países. O preço do litro estava 15% acima da média praticada nesses países.

Após a motociata, Bolsonaro falou de novo aos apoiadores. "Pode ter certeza que o preço aqui também vai abaixar. Porque a lei é federal. Governador vai ter que cumprir", disse, em referência ao chefe do Executivo baiano, Rui Costa (PT). O petista foi alvo de gritos da plateia também.

Em seus discursos na Bahia, o presidente ainda citou a data da Independência da Bahia e fez uma defesa da liberdade em uma referência às eleições.

"O que está em jogo neste ano é o bem-estar e a liberdade de cada um de nós. Tenho certeza que, se preciso, tudo faremos para que a nossa Constituição, nossa democracia, e nossa liberdade venham a ser preservadas."

Ainda que tenha escolhido governadores, em especial os de oposição, como alvo em seu discurso, Bolsonaro não citou diretamente nenhum, nem o ex-presidente Lula, que estava a poucos quilômetros de distância na capital baiana.

Nos atos bolsonaristas, antes e depois da motociata, as pessoas usavam as cores verde e amarelo. Ambulantes vendiam bandeiras do Brasil e camisetas do presidente. Adesivos de Bolsonaro com João Roma também estavam sendo distribuídos.

Um apoiador do presidente levou para o Farol da Barra uma placa com o nome "rua Soldado Wesley", em referência ao policial militar Wesley Soares, morto em março deste ano no Farol da Barra, mesma região dos atos realizados nesta terça-feira.

Na ocasião, o soldado passou quatro horas dando tiros para o alto, gritando palavras de ordem, e foi baleado após atirar com um fuzil contra policiais que negociavam sua rendição. Desde então, ele tem sido tratado como uma espécie de mártir por grupos bolsonaristas.

O empresário que trouxe a placa estava com farda preta, armas de brinquedo e o rosto pintado de verde e amarelo. Disse à Folha que não conhecia o soldado, mas que ele foi "executado por falar contra o comunismo".

Na concentração da motociata, nos arredores do Farol da Barra, um homem estendeu uma toalha com a imagem do ex-presidente Lula da janela de um prédio. Foi xingado e vaiado por bolsonaristas.

Embaixo do prédio, bandeiras do Brasil, camisetas e bonés de Bolsonaro eram vendidos por uma ambulante. Ela se queixava de que as camisetas, que custavam R$ 40, não estavam tendo muita saída, porque as pessoas tinham gastado muito nas festas de São João.

Azulimar Cruz, 52 anos, não estava de moto, mas acompanhou a concentração em frente à praia. Ela elogiou o aumento no Auxílio Brasil para R$ 600, aprovado na PEC de bilhões no Senado nesta semana. Para ela, o valor anterior de R$ 400 não era suficiente para a pobreza.

"Lula tem muito apoio aqui [na Bahia] por conta dos benefícios sociais, que aconteceram no passado. Acho que o Auxilio [de R$600] pode ajudar o presidente aqui, com certeza", disse.

Questionada também sobre a rejeição do presidente entre mulheres, atribuiu ao fato de ele "não ter filtro" e ser "muito sincero": "Fica difícil agradar a todos mesmo", completou.

​O ponto de partida da motociata acabou sendo alterado na última semana para evitar possíveis conflitos entre bolsonaristas e petistas.

O ato estava previsto inicialmente para sair às 9h das imediações da Arena Fonte Nova. Mas a concentração foi mudada pelos organizadores para o Farol da Barra após uma coincidência de data e local com o evento do ex-presidente Lula, que vai acontecer às 10h30 dentro do estádio.

A motociata percorreu um trajeto de 37 km até o Parque dos Ventos, no bairro da Boca do Rio, passando pela avenida Paralela. Carros devem se uniram ao trajeto na altura do bairro de Ondina.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), disse esperar que a legislação de trânsito fosse cumprida na motociata "para evitar qualquer tipo de aplicação de multa".

Desta vez, o presidente usou o capacete ao trafegar pelas ruas de Salvador. Em outros momentos, Bolsonaro não abre mão do equipamento de proteção em seus desfiles de moto, infração considerada gravíssima, passível de multa e da suspensão do direito de dirigir.

Data cívica máxima da Bahia, o 2 de Julho celebra a expulsão das tropas portuguesas de Salvador em 1823, quase dez meses depois da Independência do Brasil.

Diferentemente da maioria dos estados, onde a Independência aconteceu sem luta armada, na Bahia ela foi precedida por batalhas entre tropas aliadas a Portugal e tropas formadas por brasileiros.

A data é celebrada todos os anos em um cortejo no qual participam bandas de fanfarra, de percussão e grupos folclóricos, com a celebração das figuras do caboclo e da cabocla, que representam o surgimento da nação e lembram a miscigenação brasileira.

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