Datafolha: 73% dizem que há corrupção no governo Bolsonaro

Para brasileiros, saúde, economia, miséria, educação e violência são principais problemas

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São Paulo

A percepção de que há corrupção na gestão Jair Bolsonaro (PL) é disseminada: 73% dos brasileiros acreditam que ela ocorre no governo federal. Mas ela é vista como um problema nacional secundário, em comparação com a saúde, temas econômicos, a miséria, a educação e a violência urbana.

Bolsonaro e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, que caiu por acusações de corrupção e chegou a ser preso pela Polícia Federal
Bolsonaro e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, que caiu por acusações de corrupção e chegou a ser preso pela Polícia Federal - Evaristo Sá - 4.fev.22/AFP

O quadro é desenhado na mais recente pesquisa nacional do Datafolha, realizada na quarta (27) e quinta (28), contratada pela Folha. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

Nela, o presidente está em segundo lugar na corrida pela sua sucessão, com 28% das intenções de voto no primeiro turno, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem 47%.

Acreditam que não há corrupção, por sua vez, 19% dos 2.556 ouvidos em 183 cidades. Outros 8% disseram não saber responder. Há dois meses, as proporções eram algo semelhantes: 70% viam atos corruptos, 23% não e 7%, não sabiam dizer.

A ideia de que há corrupção é mais aguda entre os mais jovens, 86% e, como seria previsível, entre quem reprova o governo (94%). Neste levantamento, Bolsonaro tem 47% de avaliação ruim ou péssima, ante 28% de aprovação.

Acham mais que não existe o problema os eleitores do presidente (49%) e os que aprovam sua gestão (51%), uma obviedade e também uma curiosidade, dado que é apenas metade de cada contingente. Entre os que votam no presidente, 43% acham que há corrupção. O mesmo índice é de 39% entre os que aprovam sua gestão.

O combate à corrupção foi um tema central da campanha de Bolsonaro em 2018, quando ele se apresentava como um herdeiro das práticas da Operação Lava Jato, que desmontara o arcabouço político tradicional ao revelar irregularidades envolvendo partidos, estatais e o setor privado, principalmente nos anos do PT no poder (2003-16).

Eleito, Bolsonaro trouxe o juiz-símbolo da operação iniciada em 2014, Sergio Moro, para ser seu ministro da Justiça e Segurança Pública.

Deu no que deu: em um ano, Moro sairia atirando do governo, e agora viu sua pretensão de disputar a eleição tolhida, tendo de se contentar a disputar uma vaga paranaense no Senado pelo União Brasil —partido nascido da fusão do PSL que elegeu e rompeu com Bolsonaro e o DEM, um ícone da "velha política" que a Lava Jato atacava.

Com apoio da Procuradoria-Geral da República aliada a Bolsonaro, a Lava Jato foi enterrada. Seus excessos, punidos no Supremo Tribunal Federal, com a anulação do processo que levou Lula à cadeia devido à suspeição declarada de Moro.

No geral, a PGR é vista como um órgão auxiliar da Presidência no arquivamento e embotamento de investigações que não interessam ao Planalto. O próprio Bolsonaro foi poupado de apuração nas acusações que lhe foram impingidas pela CPI da Covid.

Para coroar o processo e evitar que sua insurgência contra as instituições democráticas lhe arriscasse o mandato, Bolsonaro entregou a chave do cofre dos investimentos federais para o centrão que tanto combatia e filiou-se a um partido do grupo, o PL. Os inimigos de 2018 viraram ocupantes do governo federal.

Os casos de corrupção, como os investigados no Ministério da Educação ou na estatal Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco), esses intimamente ligados ao esquema ampliado de de emendas parlamentares criado por Bolsonaro para amarrar o centrão a si, pululam no noticiário.

Mas o problema, diferentemente do que ocorria a partir na era da Lava Jato, não é visto como uma grande prioridade nacional, aponta o Datafolha.

Ela é, disparada, a saúde, que preocupa como tal 20% dos brasileiros, ainda mais após mais de dois anos de pandemia da Covid-19, cujo manejo é um dos principais calcanhares de Aquiles do presidente.

Depois figuram problema econômicos diversos: desemprego (10%), economia (13%), fome/miséria (10%) e inflação (9%).

A educação tem 9% da atenção, enquanto a violência urbana a segue com 6%. Só então, com 3%, os entrevistados citam a corrupção.

É um sinal dos tempos, e para o discurso de Bolsonaro, uma mão na roda. No fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), em dezembro de 2014, a corrupção era o terceiro tema da pauta, com 9% das preocupações nacionais.

No fim da gestão da petista, impedida em 2016, já era o principal: 37%, com saúde num distante segundo lugar (17%). Era o auge do lava-jatismo.

Sob seu sucessor, Michel Temer (MDB), que também foi fustigado por acusações diversas, o tema seguiu em primeiro lugar: 20% em dezembro de 2018, quando o presidente se preparava para passar a faixa a Bolsonaro. Empatava com saúde, que tinha 22% de atenção, e violência, com 18%.

A pesquisa do Datafolha foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-01192/2022.

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