Eleições no Brasil são modelo e EUA confiam em instituições, diz embaixada americana

Declaração foi feita após presidente Jair Bolsonaro tentar desacreditar sistema eleitoral brasileiro para dezenas de embaixadores

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Brasília

A Embaixada dos Estados Unidos disse nesta terça-feira (19) que as eleições brasileiras são um modelo para o mundo e que os americanos confiam na força das instituições do Brasil.

A declaração foi divulgada pela assessoria de imprensa da embaixada um dia após o presidente Jair Bolsonaro (PL) convidar dezenas de embaixadores para o Palácio da Alvorada e repetir mentiras e teorias da conspiração para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro.

O chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Koneff, durante apresentação do presidente Jair Bolsonaro em nova investida sem provas contra o sistema eleitoral brasileiro - Divulgação/ Palácio do Planalto.

O encarregado de Negócios, Douglas Koneff, que chefia interinamente a embaixada americana, participou da reunião com Bolsonaro.

"Como já declaramos anteriormente, as eleições no Brasil são para os brasileiros decidirem. Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores", disse a embaixada.

"As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo", completou.

A embaixada americana ainda afirmou que está confiante de que as eleições de 2022 vão refletir a "vontade do eleitorado" e que as instituições brasileiras continuam demonstrando o "profundo compromisso com a democracia".

"À medida que os brasileiros confiam em seu sistema eleitoral, o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, a força duradoura de sua democracia", concluiu.

Bolsonaro reuniu nesta segunda (18) dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para repetir teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditar o sistema eleitoral e atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

A fala do presidente com mentiras em série sobre o sistema eleitoral e mais uma vez em tom golpista provocou reações de repúdio em cadeia nesta terça (19) na cúpula do Judiciário e em diferentes setores do Ministério Público.

Um dos alvos dessa pressão foi o procurador-geral da República, Augusto Aras, que tem se mostrado alinhado ao presidente em diferentes temas e mais uma vez é cobrado a investigá-lo. Um grupo de integrantes enviou a Aras uma representação com pedido para que o mandatário seja investigado por ilícito eleitoral.

Embaixadores estrangeiros ouvidos pela Folha após o evento com Bolsonaro definiram a apresentação de segunda-feira como uma "tática trumpista" para desviar o foco ou mesmo para preparar o terreno para o questionamento das eleições.

A tática trumpista é uma referência ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, admirado por Bolsonaro. Derrotado por Joe Biden, Trump insuflou teorias conspiratórias de que o pleito foi fraudado e foi peça central no episódio que resultou na invasão do Congresso americano, no início do ano passado.

Após a palestra de Bolsonaro, que durou cerca de 50 minutos, a Folha conversou com diplomatas estrangeiros que estiveram no Palácio da Alvorada. Eles falaram sob condição de anonimato, por não estarem autorizados a comentar temas de política interna brasileira.

Na avaliação desses representantes estrangeiros, Bolsonaro tentou, com o evento, desviar o foco de problemas que afetam seu governo, como inflação e o preço dos combustíveis, ao mesmo tempo em que reforçou a narrativa que pode ser empregada para questionar o resultado das urnas em caso de derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A percepção de que Bolsonaro empregou uma estratégia trumpista, porém, não foi unânime entre os embaixadores.

Parte do grupo, de países com governantes simpáticos a Bolsonaro, considera os questionamentos levantados pelo líder brasileiro bem fundamentados e saiu do Alvorada com suas dúvidas contra as urnas reforçadas.

Não foi divulgada uma lista de participantes. No total, cerca de 60 representantes de missões diplomáticas estiveram no Alvorada.

Integrantes da campanha de Bolsonaro dizem que o encontro do presidente com embaixadores freou uma onda de positiva com a qual esperavam lucrar nesta semana.

Como a Folha mostrou, a campanha buscou se distanciar, ao alegar que nada sabia do encontro e que nem participou da organização dele. Com base em levantamentos encomendados pelo PL, a avaliação é a de que ele não ganha votos com ataques ao sistema eleitoral.

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