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'Esse louco chegou atirando', diz mulher de petista morto por bolsonarista no PR

Guarda municipal Marcelo de Arruda, que comemorava 50 anos com festa do PT, deixa bebê de 40 dias e mais três filhos

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Rio de Janeiro

"Eu estou arrasada. A gente estava entre amigos e família. Tinha pessoas de outras opiniões políticas e nem por isso estávamos alterados ou discutindo. Estávamos festejando o aniversário de 50 anos do Marcelo e esse louco chegou atirando", diz Pâmela Suellen Silva.

Pâmela é policial civil e companheira do aniversariante, Marcelo Aloizio de Arruda. Ela era uma das poucas pessoas ainda no local quando um homem passou de carro em frente ao salão de festas em Foz do Iguaçu (PR): "Aqui é Bolsonaro", "Lula ladrão", gritou, proferindo xingamentos.

O "Parabéns" já tinha sido cantado, e a maioria dos convidados já havia ido embora. Estrelas vermelhas e o rosto do ex-presidente Lula decoravam o ambiente na noite de sábado (9), mas o guarda municipal e tesoureiro do PT também tinha muitos conhecidos de direita.

O militante petista Marcelo Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu, foi assassinado
O militante petista Marcelo de Arruda - Reprodução Twitter Gleisi Hoffmann

Por isso, a princípio, seus amigos acharam que a gritaria era brincadeira de algum colega do aniversariante. "Um de nós até foi na cozinha e falou: Marcelo, vai lá recepcionar que chegou mais um amigo seu bolsonarista", conta o amigo e empresário de turismo André Alliana, 49.

Só perceberam que não era piada quando o homem fez o retorno na rua sem saída e, com uma mulher e um bebê no banco de trás, repetiu as ameaças.

"O cara tirou a arma para fora do carro e falou: 'Olha aqui para vocês, vocês merecem morrer, seus desgraçados", diz André. A essa altura, Marcelo já estava a cerca de um metro do veículo, ao lado de Pâmela, que afirma ter se aproximado para apaziguar a situação.

Marcelo então jogou o copo de cerveja em direção ao motorista, identificado depois como o policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, e procurou se esconder da linha de tiro. "Para com isso, vamos embora", gritou nesse momento a mulher do banco de trás, em desespero, ainda segundo os relatos.

Ninguém acreditou quando o homem falou que voltaria. Ou quase ninguém: Marcelo decidiu pegar sua arma no carro. "Eu até discuti, falei 'imagina, Marcelo'", conta Pâmela, que trabalha na delegacia local especializada em combate à corrupção e está de licença-maternidade.

André também afirma ter tentado demover o amigo da ideia: "A gente está aqui bebendo. Arma e chope não combinam", chegou a aconselhar, mas o guarda municipal respondeu que quase não estava bebendo porque estava com os filhos, um bebê de 40 dias, uma menina de seis anos e dois já mais velhos de outro casamento.

Cerca de 20 minutos depois, por volta das 23h40, o policial penal de fato voltou com a arma em punho. André afirma que estava a cerca de três metros de distância e viu quando o homem passou a disparar.

"Todo mundo procurou lugar para se refugiar. O Marcelo sacou a arma e falou 'para, polícia', mas ele [Guaranho] começou a atirar. Errou uns dois tiros e acertou um na perna. Depois, chegou em cima e deu um tiro no Marcelo, que se virou e descarregou no cara, a um metro e meio de distância", detalha.

Quando uma equipe de policiais chegou ao Clube Social Aresf (Associação Recreativa e Esportiva da Segurança Física), Marcelo estava caído ao chão, atingido por duas perfurações de arma de fogo e ao lado de sua pistola Taurus, municiada com dois cartuchos ainda intactos.

Guaranho estava ao seu lado, a princípio com três perfurações e 11 munições também íntegras no carregador de sua Taurus, como indica o boletim de ocorrência lavrado à 1h22. As armas foram recolhidas porque ainda havia muita gente no local, e os dois foram resgatados ao hospital.

O aniversariante Marcelo de Arruda não resistiu aos ferimentos e morreu. Guaranho, inicialmente dado como morto pela polícia, segue internado. Segundo o registro, a Delegacia de Homicídios foi acionada para fazer perícia no local, apreendeu as armas e aguardava as imagens das câmeras de monitoramento do clube.

Pâmela afirma que ninguém conhecia o agressor, que só ficaram sabendo que ele era agente federal no hospital, e que Marcelo nunca havia citado ameaças. "Mas a gente conversava muito que estava começando a ficar tenso por causa das eleições, das opiniões extremas", conta.

O companheiro tinha 28 anos de Guarda Municipal, estava prestes a se aposentar e sempre andou armado, porque a corporação tem essa prerrogativa em Foz do Iguaçu, afirma. "Era um cara extremamente tranquilo, nunca vi ele brigar com uma pessoa, nunca vi sacar a arma", diz André, amigo há três décadas.

Estava no PT havia mais de dez anos, já tendo concorrido a vereador e a vice-prefeito pelo partido nas últimas eleições municipais. Formou-se inicialmente em biologia na faculdade, onde conheceu Pâmela, com quem morava há seis meses. Deve ser sepultado nesta segunda (10), deixando os quatro filhos.

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