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Eleições 2022

Fim de semana mais tenso desde a facada prenuncia escalada assustadora

Ato de bolsonaristas pelas armas, fala de Lula e crime no Paraná mostram clima desfavorável a pacificação

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São Paulo

A campanha presidencial ainda nem começou oficialmente, mas já produziu o fim de semana mais tenso na política brasileira desde a facada em Jair Bolsonaro (PL), há quatro anos.

No sábado (9), apoiadores do presidente concentraram-se na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para defender o armamento da população. Não é por armas, é por liberdade, gritavam, um slogan que busca dar um verniz nobre ao chamado para que o bolsonarismo resista a qualquer cenário em que tenha de deixar o poder.

O militante petista Marcelo Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu, foi assassinado
O militante petista Marcelo de Arruda, assassinado em Foz do Iguaçu - Reprodução Twitter Gleisi Hoffmann

Mais ou menos simultaneamente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parabenizava publicamente, em um ato em Diadema (SP), um militante de seu partido que quase levou à morte um opositor político após uma agressão em 2018.

O recado do ex-presidente também tinha seu próprio verniz, o da lealdade a um companheiro que se sacrificou pessoalmente em nome da causa. Mas o chamado à tribo vermelha era outro: não se intimidem com as agressões vindas do outro lado e respondam à altura se for preciso.

Nada, no entanto, que se comparasse ao que ocorreu em Foz do Iguaçu (PR) na noite do mesmo dia, uma notícia que explodiu na manhã de domingo (10).

Segundo os relatos da polícia, um bolsonarista ameaçou um petista que comemorava aniversário, entrou atirando em sua festa e sofreu revide. O apoiador de Lula morreu, o de Bolsonaro ficou ferido gravemente.

Os primeiros sinais após o crime na cidade paranaense foram pouco encorajadores. Em redes sociais, petistas colocaram a culpa pelo ocorrido diretamente no colo de Bolsonaro, algo não muito diferente do que fazem apoiadores do presidente ao responsabilizarem o PSOL, partido ao qual Adélio Bispo foi filiado no passado, pela facada de 2018.

A grande maioria dos bolsonaristas, não exatamente uma turma discreta em redes sociais, fez pior, ignorando o ocorrido na cidade paranaense.

O silêncio é um recado eloquente, de que consideram o fato como algo corriqueiro, talvez até desejável, no contexto de guerra eleitoral que o país vive. Jogar na confusão, afinal, é a maior linha de ataque do presidente. O próprio Bolsonaro só se manifestou no início da noite, e indo para o ataque contra a esquerda.

A verborragia intimidadora de Bolsonaro nos últimos anos é sem dúvida a principal responsável por insuflar o clima de hiperpolarização que se instalou no Brasil em meados da década passada. Nesse ambiente, eventos banais tornam-se mortais, especialmente se os dois lados estiverem armados.

Como disse um ministro do Supremo Tribunal Federal em caráter reservado, a lógica do que ocorreu em Foz do Iguaçu não é muito diferente de uma briga de vizinhos que termina em tragédia.

O risco, agora um pouco mais real do que antes dos eventos de sábado, é que esses episódios pontuais degenerem em uma ação organizada nos próximos meses, com a chancela que vem de cima. O próximo passo nessa escalada é assustador.

Poucos foram os pedidos de calma e concórdia neste domingo (10) para evitar que nos próximos meses essas situações se repitam. Possivelmente, porque o ar já esteja pesado demais para algum tipo de pacto de convivência.

O perigoso fim de semana que passou dificilmente terá sido o pior desta campanha, quando ela terminar, no distante mês de outubro.

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