Lira usou tese bolsonarista e citou Adélio ao debater morte de petista, diz oposição

Deputados afirmam que menção ocorreu durante reunião sobre posicionamento da Câmara após assassinato no PR; Lira nega

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Brasília

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), citou o caso de Adélio Bispo, autor da facada em Jair Bolsonaro (PL) na campanha de 2018, durante reunião sobre o posicionamento adotado pela Casa sobre a morte de um militante petista por um bolsonarista no fim de semana.

O relato sobre a fala de Lira foi feito à Folha reservadamente por seis deputados que participaram de uma reunião em que opositores cobraram do chefe da Câmara um posicionamento mais contundente sobre a morte do petista Marcelo de Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho. O crime aconteceu na noite de sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR).

De diferentes partidos da oposição, todos descreveram a mesma cena: que Lira citou Adélio ao ser cobrado sobre o assunto, num discurso que se assemelha ao adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e por seus filhos.

Procurada, a assessoria de imprensa da Câmara disse que o presidente nega. Segundo Lira, se há deputados comentando isso, eles estão mentindo.

Arthur Lira durante sessão na Câmara - Sergio Lima/AFP

Lira foi uma das últimas autoridades a se manifestar sobre a morte de Marcelo. Em nota divulgada na segunda-feira (11), ele não mencionou diretamente o ataque que resultou na morte do petista.

"A Câmara dos Deputados repudia qualquer ato de violência, ainda mais decorrente de manifestações políticas", disse a nota divulgada por Lira. "A democracia pressupõe o amplo debate de ideias e a garantia da defesa de posições partidárias, com tolerância e respeito à liberdade de expressão."

"A campanha eleitoral está apenas começando. Conclamo a todos pela paz para fazer nossas escolhas políticas e votar nos projetos que acreditamos. Esta é a premissa de uma democracia plena e sólida, como a nossa", concluiu.

À Folha parlamentares disseram que, na reunião com Lira na terça, eles defenderam que a Câmara tivesse um posicionamento firme diante do que consideram uma escalada grave da violência política no país.

Eles lembraram que, no domingo, várias instituições e autoridades se posicionaram, mas que a Câmara não tinha feito um pronunciamento contundente. Na avaliação deles, a Casa não poderia se furtar de condenar o crime de forma mais incisiva.

De acordo com relatos de deputados, Lira reclamou dos telefonemas de jornalistas pedindo um posicionamento dele como presidente da Câmara.

Segundo eles, o presidente da Câmara também citou declarações de outras autoridades mencionando que tanto o petista como o bolsonarista tinham morrido —como foi inicialmente divulgado pela polícia e que, depois, confirmou apenas o falecimento de Marcelo.

O presidente da Câmara afirmou que a situação era complicada e que havia violência de um lado e do outro. Segundo os deputados presentes, ele exemplificou com a campanha presidencial de 2018 e, então, disse que Adélio havia sido filiado ao PSOL e tinha frequentado o gabinete do partido.

Adélio foi filiado ao PSOL de Uberaba (MG) de 2007 a 2014, mas nunca militou. A Polícia Federal concluiu, em duas investigações, que ele agiu sozinho, sem nenhuma evidência real de que tenha sido auxiliado por outras pessoas ou obedecido a um mandante. Adélio foi considerado inimputável por ter doença mental e cumpre medida de segurança em um presídio federal.

Ao ouvirem a citação, os deputados reagiram. Ainda de acordo com os relatos, disseram ser mentira e ressaltaram que não havia paralelo entre os casos. Eles argumentaram que há uma situação em que o presidente Jair Bolsonaro estimula a violência.

Além disso, os parlamentares da oposição destacaram que, um dia após a facada em Bolsonaro, candidatos ao Planalto em 2018 suspenderam suas campanhas e se solidarizaram com o então presidenciável. Diante da reação, Lira disse que apenas usou Adélio como exemplo e não mencionou mais o caso, de acordo com a descrição feita pelos opositores.

O presidente Bolsonaro já falou em "fuzilar a petralhada" —fato que tem sido lembrado em meio aos desdobramentos do caso.

​No sábado, o policial penal Jorge Guaranho invadiu a festa de aniversário de Marcelo. O petista reagiu e, na troca de tiros, acabou morrendo. Jorge ficou ferido e permanece internado.

A delegada responsável pelo caso, Iane Cardoso, afirmou que a hipótese de motivação política para o crime contra o petista é investigada. Ela disse que ainda está sendo apurada se a razão foi divergência política.

Ainda na terça, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ligou a familiares de Arruda e disse que a esquerda tenta "politizar" a morte do petista para desgastar o governo.

A ligação por vídeo foi feita pelo deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), que esteve na casa de um dos irmãos de Arruda, com o aval de Bolsonaro, para intermediar a conversa.

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