Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula deve adaptar plano de governo para ganhar já no 1º turno, diz presidente do PSB

Carlos Siqueira, dirigente de partido de Alckmin, defende diálogo com empresários e rejeita rótulo de 'sublegenda'

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Brasília

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, defende que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) use a apresentação de propostas e programa de governo para ampliar o eleitorado e buscar o apoio de empresários e setores fora do campo da esquerda.

"Penso que [a estratégia] devia ser nesse sentido, da coesão social, de programas econômicos e sociais e políticos que precisam ser comuns às diferentes forças políticas, principalmente às diferentes das nossas", afirmou Siqueira em entrevista à Folha.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, na sede do partido em Brasília. - Gabriela Biló -26.jun.2022/Folhapress

Pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (28) mostrou que o ex-presidente tem 47% das intenções de voto, o mesmo patamar anterior, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) oscilou positivamente um ponto, com 29%.

Siqueira declarou que a campanha precisa se dedicar a uma vitória já no primeiro turno da eleição presidencial.

"Isso deve ser o esforço de todos nós. Não subestimar o adversário porque a campanha sequer começou e porque ele tem sido surpreendente nos últimos tempos", afirmou, se referindo a medidas para driblar a legislação eleitoral.

Diz ainda que o partido não é "sublegenda" e que espera dar contribuição "programática" a um eventual governo Lula, que terá Alckmin como vice.

O PSB e o PT fecharam uma aliança na chapa Lula-Alckmin. A convenção do PSB será nesta sexta, mas ainda há conflitos em uma série de estados. Ainda tem como resolver essas questões? A aliança que será consagrada nesta sexta-feira na convenção do PSB no plano nacional é uma aliança histórica. Estamos vivendo um período de ameaça real à democracia brasileira. Bolsonaro já é resultado do que a classe política fez com a democracia brasileira gradativamente.

Como o sr. enxerga o centrão e como eventual governo Lula-Alckmin deve se relacionar com ele? Nós precisamos ter uma campanha que diga o que vai fazer, e que pedagogicamente esclareça o eleitorado, para que o presidente da República tenha capital político suficiente para cobrar do Congresso essas mudanças.

Mas o centrão tem muita força no Congresso. Mas o centrão nunca deixou de aprovar nenhum projeto, por exemplo, no governo Lula.

O Congresso tem ficado mais independente e controlado mais o Orçamento. Como lidar com esse novo cenário? A execução do Orçamento é uma tarefa exclusiva do Poder Executivo. Essa anomalia do orçamento secreto [emendas de relator] precisa ser combatida.

O sr. vê abertura no Congresso para rediscutir isso? Acho que a questão é o candidato a presidente da República denunciar isso e se comprometer a não permitir isso. Ele pode vetar essa parte do Orçamento. Os ministros não podem estar à disposição do Parlamento.

E se o Congresso derrubar esse veto? Significa que o Executivo não tem força política. Não se pode aceitar isso como uma coisa natural.

Qual deve ser o papel do PSB num eventual governo Lula? E o papel do próprio Geraldo Alckmin? O papel do PSB deve ser apoiar o governo, mas não pode ser uma contribuição apenas eleitoral. Deve ser uma contribuição político-eleitoral, e sobretudo uma contribuição programática, dando a nossa visão, obviamente, não queremos impor nada, e nem podemos e nem nosso desejo.

Como ficam as alianças estaduais com o PT que hoje ainda estão com impasses? A aliança no plano nacional não exime de ter alianças diferentes no plano estadual. Nós não somos uma sublegenda nem estamos submetidos a qualquer interferência. A nossa aliança nacional é incondicional, inabalável, mas não exclui projetos estaduais. Estamos apoiando o PT em vários estados, como Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e Piauí.

Mas como ficam as desavenças em outros estados? Eu chamo de diferenças. Não estamos brigando com o PT. Estamos disputando. O ex-governador do Ceará [Camilo Santana] veio aqui e pediu uma aliança com o PT no Ceará. O próprio [ex-]presidente Lula me pediu isso. Eu até gostaria, mas não é possível porque ficamos com o PDT, que o PT cogitou apoiar também. É importante ressaltar o que o PSB fez em São Paulo, abriu mão de uma candidatura competitiva do Márcio França [que vai concorrer ao Senado] pela candidatura do Haddad.

Por que o PSB abriu mão do Márcio França? Consideramos que São Paulo é tão importante para a eleição nacional que vale o sacrifício. Ganhar em São Paulo significa uma vitória ainda maior do [ex-]presidente Lula. E, portanto, aumenta a chance de ele ganhar em primeiro turno.

Como deve ficar a aliança no Rio de Janeiro? Uma ala do PT quer deixar de apoiar a candidatura de Marcelo Freixo ao governo do estado por causa da decisão de lançar Alessandro Molon ao Senado. A decisão foi do PSB do Rio de Janeiro. Nós estamos conversando aí internamente. Ainda não se tem uma definição sobre isso.

Qual a prioridade do sr. entre lançar Freixo ou Molon? O Freixo é um candidato importante para nós. Nós tínhamos 12 pré-candidatos [a governos estaduais] e nós reduzimos a cinco candidatos. Consideramos todas importantíssimas, inclusive Freixo. Ele e o Molon têm seus problemas regionais lá no Rio que eu espero que possam ser harmonizados.

Como o sr. avalia a insistência do PT em lançar candidatos que até agora não se mostraram competitivos? Eu acho surpreendente, porque o partido que tem a disputa presidencial deveria ter um pouco mais de generosidade e abrir mão de algumas disputas. Mas o PT é um partido autônomo como nós e vamos respeitar as decisões deles, assim como as nossas precisam também ser respeitadas.

No Rio, o sr. defende que o PT apoie o Freixo e o Molon? Eu sempre pedi para a direção nacional do PT apreciar essa possibilidade. O PT recentemente disse que não faria isso. E aí ficou esse quadro. Mas o PT fez uma concessão em Minas [abriu mão de um candidato próprio para apoiar um do PSD]. Eu achei que o PT pudesse fazer essa mesma concessão no Rio de Janeiro, com o Molon. No Rio, o quadro deles [Ceciliano] precisa dizer que apoia o Freixo para se acreditar que ele vai fazer a campanha para o Freixo. Estamos nesse sufoco para ver onde vamos chegar.

E se o PT decidir não apoiar o Freixo? Eu não acredito nessa hipótese.

Como o sr avalia o cenário de lançar duas candidaturas, a do PT e do PSB? Não é o ideal.

Qual a sua expectativa para o embate com o Bolsonaro daqui em diante? Eu não sei se ele vai crescer [na intenção de votos], mas nós devemos trabalhar uma perspectiva de que a eleição precisa ser ganha, de preferência, no primeiro turno. Isso deve ser o esforço de todos nós. Não subestimar o adversário porque a campanha sequer começou e porque ele tem sido surpreendente nos últimos tempos. Há uma série de medidas excepcionais fora da Constituição e aprovadas em ano eleitoral.

O ex-presidente Lula não tem conseguido subir muito nas pesquisas. Ele atingiu o teto? Como alavancar? O que pode melhorar a posição do [ex-]presidente nas pesquisas será o seu discurso, propositivo inovador, e capaz de empolgar uma parcela ainda mais significativa do eleitorado brasileiro. Acredito que ele vai fazer isso a partir do início da campanha com a formulação do seu programa de governo e penso que devia ser nesse sentido, da coesão social, de programas econômicos e sociais e políticos que precisam ser comuns às diferentes forças políticas. Principalmente às diferentes das nossas.

Alckmin vai viajar por São Paulo? Vai. Lula precisa crescer lá.

O sr. acha que o programa de governo tem que levantar a bandeira contra as armas? A bandeira do desarmamento é fundamental. O armamento da população nunca resolveu violência no lugar do mundo.

Mas isso não pode afastar o eleitor de centro? O [eleitor] de centro é uma coisa. Mas o eleitor que defende o armamento é do Bolsonaro. Esse eleitorado é perdido. Há hoje um setor organizado militante contra democracia. Não vamos ganhar esse setor, pois é ele que temos que derrotar.

O senhor acredita em novas alianças políticas até o primeiro turno? Não. Acho que a ampliação se dá em setores de alguns partidos. Mas a principal ampliação deve se dar em função do programa e em função da conquista de setores econômicos e sociais.

O sr. avalia ser importante ganhar no primeiro turno para evitar uma tentativa de ruptura democrática? Acho que sim. O esforço deve ser feito para ganhar no primeiro turno, mas isso foge ao nosso controle, está na mão do eleitor e não na mão dos partidos.

Mas o que o sr. acha que o Bolsonaro seria capaz de tentar uma ruptura política se ele perder a eleição? Nós temos assistido mundo afora ao surgimento de lideranças autoritárias que são eleitas, mas que não são eleitas no regime propriamente democrático. É o caso da Turquia, da Rússia e de outros países. Então nós não podemos subestimar a importância de ganharmos no primeiro turno.


Raio X

Carlos Roberto Siqueira de Barros, 67
​Advogado e presidente do PSB, foi homem de confiança do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Foi presidente da Fundação João Mangabeira de 2007 a 2014 e coordenou a campanha presidencial de Eduardo Campos em 2014. Assumiu a direção do partido após a morte de Campos

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