É falsa a postagem que mostra imagem adulterada de um boletim real de votação na cidade de Nagoia, no Japão, após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Como verificado pelo Projeto Comprova, o conteúdo manipulado altera os números de votos para os então candidatos Fernando Haddad, Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin para afirmar, falsamente, que houve fraude na eleição.
O conteúdo, que foi desmentido em 2018 pelo Comprova e diversos outros veículos, voltou a circular agora, sendo desmentido novamente, inclusive pelo TSE, que voltou a apontar manipulação de dados.
Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação
Até o dia 18 de julho, o tuíte tinha 4 mil interações. O conteúdo foi marcado como informação falsa pelo Twitter, que bloqueou as funções de curtir, compartilhar ou comentar. Já no Kwai, foram 516 visualizações.
O que diz o autor
O perfil no Twitter não permite o envio de mensagens. A conta posta conteúdo de apoio a Jair Bolsonaro e retuitou por várias vezes a postagem falsa aqui verificada, com o texto: "Derrubaram? Posto de novo".
Como verificamos
O Comprova localizou checagens anteriores sobre a mesma imagem: todas com a conclusão de que houve manipulação com o objetivo deliberado de atacar, a partir de informação falsa, o sistema eletrônico de votação.
Também foram consultadas informações no site do TSE, que, procurado novamente pelo Comprova, reafirmou que o conteúdo é uma fraude.
Números adulterados
A imagem compartilhada na postagem falsa, feita em 13 de julho, circula desde 2018, quando a disputa eleitoral para a Presidência da República foi marcada por ataques à lisura do sistema eletrônico de votação, o que também acontece agora. Na época, o Comprova mostrou que a imagem era falsa e tinha sofrido adulteração.
Os números referentes a Haddad foram alterados de 0009, como mostra foto do documento original obtido pelo Comprova, para 9909. Já os votos em Jair Bolsonaro, também candidato à época, tiveram o número manipulado de 0372 para 0000.
A fraude também foi mostrada, à época, pelo Fato ou Fake, do G1, e agora, pela AFP Checamos, quando volta a circular. À agência, o TSE reafirmou que o conteúdo se trata de fraude.
"Trata-se de reprodução adulterada de boletim oficial, que apresenta os mesmos códigos de verificação mostrados na imagem e que foi publicado pela Justiça Eleitoral", disse o TSE à AFP.
À época em que o conteúdo falso circulou pela primeira vez, os códigos de verificação do boletim, que não foram adulterados, permitiram a localização do boletim real. Nele, é possível encontrar diversas outras correspondências com a imagem manipulada, como data, horário de fechamento, ordem dos candidatos na lista de votação, os números de eleitores aptos, total de votos nominais, brancos e nulos etc.
O boletim real se refere à votação na cidade de Nagóia, no Japão, e pode ser consultado no site do TSE. Os dados reais são: 0009 votos em Haddad e 0372 em Jair Bolsonaro. Na imagem adulterada, os votos em Geraldo Alckmin também foram modificados, de 0011 para 0000.
A inscrição 0000, como também aparece para Bolsonaro no conteúdo manipulado, é mais uma evidência de que a imagem foi alterada, já que, como informou o TSE ao Comprova, os boletins de urna não exibem nomes de candidatos que não receberam votos.
Montagem
Procurado novamente pelo Comprova, o TSE reafirmou que a imagem "trata-se de reprodução adulterada de boletim oficial, que apresenta os mesmos códigos de verificação mostrados na imagem e que foi publicado pela Justiça Eleitoral".
No e-mail, o TSE ainda acrescenta outro indício de manipulação na imagem: "Os dígitos 9 estão desalinhados do resto dos números, o que sugere alteração digital da foto".
Em anexo, encaminhou novamente o boletim real.
Por que investigamos?
O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados com as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia da covid-19. Depois de ter sido desmentido em 2018, o conteúdo aqui verificado volta a circular com o intuito de tumultuar o processo eleitoral em andamento, uma prática adotada pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
Folha, Comprova, G1, AFP Checamos, Estadão Verifica, Boatos.org, UOL, Tribunal Regional Eleitoral-MT, e Terra foram alguns dos sites que desmentiram a informação, em 2018 e agora.
Ainda sobre as eleições presidenciais, o Comprova mostrou, recentemente, que post mente ao tentar associar Lula e Manuela D’Ávila a facada contra Bolsonaro e que é falso que estatuto do PT prevê confisco de bens dos brasileiros.
Em relação às urnas eletrônicas, o Comprova já realizou diferentes checagens como a da contagem de votos feita pelo TSE e não por empresa terceirizada, como afirmava post. Também, recentemente, o Comprova verificou que não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação, ao contrário do que dizia conteúdo.
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