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PF vê acirramento político e aciona estados por mais segurança na eleição

Direção do órgão aponta necessidade de somar esforços para garantir segurança de candidatos

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Brasília

A Polícia Federal decidiu acionar forças estaduais para reforçar os cuidados com a segurança de presidenciáveis na eleição.

A direção do órgão orientou suas 27 superintendências regionais a fazerem contato com as respectivas secretarias de Segurança nos estados para mobilizar esforços no processo.

A PF é diretamente responsável pela proteção dos candidatos à Presidência —com exceção do presidente Jair Bolsonaro (PL), que fica sob os cuidados do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Esquema de segurança montado na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, para o evento da pré-campanha de Lula (PT)
Esquema de segurança montado na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, para o evento da pré-campanha de Lula (PT) - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o que terá o maior efetivo envolvido, decisão que obedece regra interna da PF baseada na medição de risco detectada.

A recomendação da cúpula da PF partiu do diretor-executivo, Sandro Avelar, número dois na hierarquia do órgão. Fica sob seu guarda-chuva a área que cuida da segurança dos candidatos.

A Folha teve acesso ao ofício redigido pela PF para as superintendências encaminharem às secretarias estaduais.

No texto, a direção da PF afirma que o "cenário atual evidencia a necessidade de somarmos esforços, haja vista o acirramento das relações entre correligionários dos principais candidatos e os incidentes já registrados na fase de pré-campanha eleitoral".

O documento foi elaborado no final de junho, antes do assassinato de Marcelo de Arruda em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho. O militante petista foi morto por um apoiador de Bolsonaro durante a festa de seu aniversário de 50 anos em um clube na cidade. Os temas da festa eram Lula e o PT.

A PF também classifica como "complexa" a tarefa de realizar a segurança dos presidenciáveis.

Como mostrou a Folha em abril, integrantes da polícia afirmam que essa deve ser a mais preocupante eleição da história por causa da polarização instalada no país.

Aos estados o órgão diz que espera contar com o serviço de inteligência das instituições, a força preventiva e ostensiva das Polícias Militares, o emprego de batedores e a disponibilidade dos Corpos de Bombeiros —além do apoio de órgãos de trânsito.

Um dos objetivos do envio do documento é definir um responsável em cada estado para centralizar a comunicação rotineira durante o processo eleitoral para que ela se dê de forma mais ágil.

O trabalho de segurança da PF se dá somente na proteção dos presidenciáveis e terá início logo após a homologação de cada candidatura em suas respectivas convenções, a partir de 20 de julho.

A decisão de contatar os estados com o objetivo de fortalecer as ações de segurança durante a campanha eleitoral vem no momento de aumento de tensão política no país.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, por exemplo, informou à Folha que recebeu o ofício da PF e já se prepara para dar o apoio necessário.

"Recebemos o ofício e estamos a postos. Vamos dar total apoio para a PF. Temos 30 mil homens aqui e estamos prontos para ajudar. Vamos mobilizar todo mundo que for demandado", disse Sandro Caron, chefe da pasta.

A secretaria da Paraíba também recebeu o documento e disse à Folha que tem reuniões agendadas com a PF e o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para tratar da segurança durante o período eleitoral.

"Estamos trabalhando de maneira coordenada e nossos órgãos operativos têm a recomendação de apoiar a PF durante as eleições, já que o pleito exige ações colegiadas. Sempre mantivemos o diálogo e integração entre as forças estaduais e a PF e neste ano não será diferente", disse o secretário Jean Nunes.

Além da morte do militante petista em Foz do Iguaçu, outros episódios de violência política foram registrados desde o início das pré-campanhas.

No dia 7 de julho, por exemplo, um artefato explosivo foi lançado contra a área isolada em frente ao palanque onde Lula faria um ato horas depois na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro.

Antes, em maio, o carro do petista foi cercado por bolsonaristas quando saía de um almoço após evento da pré-campanha em Campinas, no interior de São Paulo.

Dias depois, já em junho, apoiadores do ex-presidente foram alvos de um drone que sobrevoou a região de um evento em Uberlândia (MG).

Nesta semana, após o assassinato do petista em Foz, o partido enviou orientações de segurança a seus apoiadores que acompanhariam um evento realizado em Brasília na terça (12).

O PT pediu para os militantes evitarem se expor a situações de risco e sugeriu o deslocamento em grupos, sem uso de camiseta com referência à legenda em locais fora do ato.

Também foram registrados outros fatos relacionados à polarização política.

No início de julho, estudantes ligados à UJC (União da Juventude Comunista) fizeram um protesto e impediram o vereador paulistano Fernando Holiday e outros pré-candidatos do partido Novo de falar em evento na Unicamp, em Campinas.

No final de junho, o juiz federal Renato Borelli foi alvo de ameaças após decretar a prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação de Bolsonaro.

Dias depois, já em julho, o carro do juiz foi atingido por fezes de animais, ovos e terra. O ataque ocorreu enquanto Borelli dirigia o veículo em Brasília, saindo de casa em direção ao trabalho. A PF abriu inquérito para apurar os dois casos.

A tensão eleitoral fez a PF reforçar e aumentar a organização do processo de segurança dos presidenciáveis desde o início do ano.

A preocupação tem como pano de fundo o receio de casos como o da eleição de 2018, quando Bolsonaro foi alvo de um atentando a faca em Juiz de Fora (MG).

Para este ano, entre 300 e 400 policiais federais vão participar da operação de segurança dos candidatos. O número de agentes em cada campanha será definido de acordo com uma análise de risco.

O reforço prevê várias medidas. Uma delas estipula que os candidatos devem avisar suas agendas com 48 horas de antecedência para que os policiais possam analisar a periculosidade de cada evento e fazer varreduras em determinados locais, se necessário.

A PF afirma que já investiu cerca de R$ 32 milhões no esquema de proteção a candidatos. A corporação comprou 71 veículos SUV blindados, coletes e pastas balísticas —que são usados hoje apenas pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional)—, uniformes e kits de pronto-socorro.

Outros R$ 25 milhões serão gastos durante a operação com despesas que envolvem diárias e passagens para os policiais envolvidos. Os valores, segundo a PF, estão dentro do orçamento deste ano.

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