YouTube derruba live de Bolsonaro sobre urnas de 2021 e analisa mentiras a embaixadores

Empresa derrubou vídeo que continha alegações infundadas sobre as urnas

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São Paulo

O YouTube derrubou na segunda-feira (18) uma live de julho de 2021 em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz conspirações e afirmações infundadas sobre a segurança das urnas eletrônicas.

O conteúdo da live derrubada embasou parte do que foi apresentado no evento desta segunda-feira (18) com embaixadores. A empresa também avalia se vai manter no ar a transmissão desta segunda.

A embaixadores, o presidente deu a entender que uma empresa estrangeira conta os votos, não a Justiça Eleitoral, disse que há mais de cem vídeos com apoiadores reclamando que a urna autocompletou o número 13, do PT, na eleição passada, e que "o próprio TSE diz que em 2018 números podem ter sido alterados", o que não é verdade.

Procurado, o YouTube afirmou que suas regras devem ser seguidas por todos os usuários da plataforma e que a empresa tem trabalhado para manter suas políticas e sistemas atualizados para reduzir a disseminação de informações enganosas.

Bolsonaro fala a embaixadores
Bolsonaro durante pronunciamento a embaixadores; tela mostra notícia com tradução errada ao inglês - Reprodução

"Desde março de 2022, removemos conteúdo com alegações falsas de que as urnas eletrônicas brasileiras foram hackeadas na eleição presidencial de 2018 e de que os votos foram adulterados. Esse é um dos exemplos do que não permitimos de acordo com nossa política contra desinformação em eleições."

A plataforma de vídeos do Google tem desde março uma política que garante a remoção de conteúdos que contenham alegações falsas de fraudes, erros ou problemas técnicos sobre a eleição de 2018.

Embora tenha retirado o vídeo de Bolsonaro de 29 de julho de 2021, a Folha identificou mais três cópias dessa transmissão, uma na TVBrasilGov, com 1,8 milhão de visualizações, outra na TVPajeu e outra na Jovem Pan, com quase 303 mil visualizações.

Nesta segunda, Bolsonaro fez uma apresentação a dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para repetir teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditar o sistema eleitoral, promover novas ameaças golpistas e atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

O chefe do Executivo concentrou suas críticas nos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.

Fachin é o atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Barroso presidiu a corte eleitoral, e Moraes deve comandar o tribunal durante as eleições.

Em mais de um momento, Bolsonaro tentou desacreditar os ministros, relacionando especialmente Fachin e Barroso ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O petista lidera as pesquisas de intenção de voto, a menos de 80 dias do pleito. Bolsonaro está em segundo lugar, com 19 pontos de diferença, segundo o Datafolha.

Na fala aos embaixadores, Bolsonaro adotou um tom manso, como se buscasse dar um verniz de seriedade a mais um punhado de ilações sem provas ou indícios ao sistema eleitoral, no momento em que aparece distante do ex-presidente Lula nas pesquisas de intenção de voto.

No Brasil, nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996.

Na live de 2021 derrubada pelo Youtube, Bolsonaro apresentou vídeos e teorias já desmentidas que circulam na internet, com cálculos errados, como supostas provas de fraude nas eleições. Admitiu, porém, que na verdade não tinha provas, apenas "vários indícios".

Um exemplo disso é que o presidente diz que tem provas de que as eleições foram fraudadas. No entanto, durante a live em que apresentaria provas, Bolsonaro disse que tinha apenas indícios.

"Um crime se desvenda com vários indícios. Vamos apresentar vários indícios aqui", disse.

​Bolsonaro nunca apresentou provas ou indícios sobre as urnas, mas repete o discurso golpista como uma forma de esconder os problemas de seu governo, a alta reprovação e as recentes pesquisas.

Por meio de uma profusão de mentiras, Bolsonaro vem fomentando a descrença nas urnas. No entanto, ao invés de ser barrado por aqueles ao seu redor, o mandatário tem contado com o respaldo de militares, membros do alto escalão do governo e seu partido em sua cruzada contra a Justiça Eleitoral.

As Forças Armadas têm repetido o discurso de Bolsonaro. Em ofício recente, solicitaram ao TSE todos os arquivos das eleições de 2014 e 2018, justamente os anos que fazem parte da retórica de fraude do presidente.

Antes de ser eleito em 2018, Bolsonaro já dizia que só não ganharia se houvesse fraude.

O discurso aparenta assim funcionar como um plano B para o caso de perder o pleito. Também funcionou como uma tentativa de pressionar o Congresso pela aprovação do voto impresso.

No ano passado, veio a mais forte ameaça golpista ligada ao tema. Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que "a fraude está no TSE" e ainda atacou o então presidente da corte eleitoral e ministro do STF, Luís Roberto Barroso, a quem chamou de "idiota" e "imbecil".

"Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem", disse.

A fala ocorreu após uma sequência. No dia anterior, também ao falar com apoiadores, o mandatário fez outra ameaça semelhante: "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições".

Pesquisa Datafolha mostrou que, em meio à ofensiva feita por Bolsonaro, o percentual de eleitores que confiam nas urnas eletrônicas passou de 82%, em março, para 73%, em maio.​

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