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Campanha de Bolsonaro manteve contato com hacker da Lava Jato

Walter Delgatti se encontrou com Valdemar da Costa Neto e deputada bolsonarista Carla Zambelli

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Brasília

O hacker Walter Delgatti, famoso por ter invadido contas de Telegram de procuradores da Lava Jato, teve encontros nesta semana com integrantes da campanha e aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Interlocutores disseram à Folha que Delgatti se reuniu na terça (9) com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. Segundo aliados do dirigente partidário, o encontro foi intermediado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP).

Integrantes da campanha bolsonarista dizem que a deputada levou Delgatti sem aviso prévio ao partido e alegam que Valdemar não deu continuidade às conversas. Ainda de acordo com membros da campanha, Valdemar descartou aproximar o hacker da campanha por não ter gostado do teor do encontro.

Walter Delgatti (olhando em direção à câmera), acusado de ataques hackers contra autoridades, no episódio conhecido como 'Vaza Jato', entra em viatura da PF, na superintendência do órgão, para ser levado a depoimento
Walter Delgatti (olhando em direção à câmera), acusado de ataques hackers contra autoridades, no episódio conhecido como 'Vaza Jato', entra em viatura da PF, na superintendência do órgão, para ser levado a depoimento - Pedro Ladeira - 30.jul.19/Folhapress

Nesta sexta (12), reportagem da revista Veja exibiu imagens de um veículo, no qual estaria o hacker, entrando e saindo do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. De acordo com a publicação, um carro de um agente da Polícia Legislativa da Câmara foi visto, às 6h12 de quarta, no prédio em que Zambelli mora. Pouco depois, o veículo deixou o local e, às 6h40, buscou Delgatti em um hotel em Brasília.

Outra foto, que teria sido feita às 6h52, mostra o mesmo carro entrando na residência oficial. Quase duas horas depois, às 8h49, o carro foi fotografado saindo do local. Ainda segundo a revista, Delgatti teve um encontro com o próprio Bolsonaro, no Alvorada, na quarta (10). A reunião não constou na agenda oficial.

O encontro, segundo a Veja, foi articulado por Zambelli, uma das parlamentares mais próximas do mandatário. Na quarta, ela publicou uma foto com Delgatti nas redes sociais. Na postagem, chamou-o de "o homem que hackeou 200 autoridades, entre ministros do Executivo e do Judiciário brasileiro".

"Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito", escreveu.

De acordo com a revista, o objetivo da suposta reunião entre o presidente e Delgatti foi tentar engajar o hacker na cruzada de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. O chefe do Planalto realiza frequentes ataques contra o sistema eleitoral, e sua retórica golpista é apontada por críticos como um argumento que pode ser usado pelo mandatário para questionar o resultado das eleições, caso saia derrotado.

Procurada, Zambelli não confirmou o encontro com Bolsonaro. O Palácio do Planalto não respondeu se de fato houve a reunião e o que teria sido tratado. O advogado de Delgatti também não respondeu à Folha.

Delgatti foi preso em julho de 2019 pela Polícia Federal na Operação Spoofing, que apurava a existência de uma quadrilha responsável por "crimes cibernéticos". Segundo a corporação, ele liderou um ataque hacker contra autoridades e acessou trocas de mensagens dos procuradores da Lava Jato pelo Telegram.

O então chefe da força-tarefa da operação, Deltan Dallagnol, foi um dos hackeados. Assim, foram tornadas públicas mensagens dele com outros investigadores e também com o então juiz do caso, o ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e hoje candidato ao Senado Sergio Moro (União-PR).

Delgatti admitiu à PF ter entrado nos celulares dos procuradores e repassado as mensagens ao site The Intercept Brasil, que revelou o caso posteriormente conhecido como Vaza Jato. Outros veículos participaram da divulgação das informações obtidas, entre os quais a Folha.

Os diálogos vazados indicaram atuação conjunta dos procuradores com Moro nos processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na operação. O material teve papel central nos julgamentos no STF (Supremo Tribunal Federal) que declararam a suspeição de Moro nas condenações contra o petista.

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