Carta pela democracia 'vira pop' com atletas e artistas

Manifesto também teve adesão de advogados, empresários, banqueiros e médicos, entre outros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Se em 1977 a "Carta aos Brasileiros" colecionou assinaturas quase que apenas dentro do mundo jurídico e limitadas à casa das centenas, o atual manifesto pela democracia já se encaminha para 1 milhão de signatários das mais diversas áreas da sociedade.

São artistas, atletas, intelectuais, médicos, economistas, ex-ministros, empresários e banqueiros –além de advogados de todas as gerações, que não poderiam faltar num texto a ser lido no dia 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP.

A pegada pop e ecumênica foi estratégia deliberada dos articuladores da "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito".

Montagem mostra a apresentadora Astrid Fontenelle, o ex-jogador Casagrande, a chef Bel Coelho, a cineasta Daniela Thomas e o ex-jogador Raí
A partir da esq., montagem mostra a apresentadora Astrid Fontenelle, o ex-jogador Casagrande, a chef Bel Coelho, a cineasta Daniela Thomas e o ex-jogador Raí - Keiny Andrade/Folhapress, Ramón Vasconcelos/Globo, Keiny Andrade/Folhapress, Ronny Santos/Folhapress e Greg Salibian/Folhapress

Eles procuraram redigir um documento suprapartidário, pensando em somar o máximo de apoio possível. Também buscaram figuras populares, capazes de atrair um público menos antenado com esse tipo de atuação.

Uma das primeiras personalidades a incluir seu nome na carta foi Walter Casagrande Júnior, ex-jogador de futebol e ídolo do Corinthians.

"Sou formado na Democracia Corinthiana. Participei da campanha das Diretas Já. Sempre fui defensor da democracia. Seria um absurdo eu não assinar", afirma Casagrande, que é colunista da Folha.

Em 1984, Casagrande foi ao Anhangabaú, no centro de São Paulo, e subiu no palanque durante ato realizado pelas eleições diretas. "Parecia um mar de pessoas", relembra.

"Tenho quase certeza de que o dia 11 de agosto vai repetir o Anhangabaú. Se não for igual, será muito próximo", diz o ex-jogador, que confirmou presença na leitura da carta na próxima quinta-feira.

Outro ex-jogador que aderiu foi Raí, ídolo do São Paulo. "Assino e apoio a carta contra o absurdo inaceitável que representam as ameaças contra a democracia", diz.

"Apesar das nossas profundas desigualdades sociais, não podemos nem pensar em retroceder. Seria uma catástrofe inimaginável tirar o direito maior de qualquer cidadão", afirma o craque.

Devido a compromissos profissionais, ele estará na França no dia 11, mas diz que acompanhará tudo de lá. "É fundamental e necessário apoiar iniciativas como esta carta. É preciso, mais do que nunca, estar atento e forte", diz Raí.

A lista de signatários famosos tem crescido em parte devido à atuação do 342Artes, coletivo de artistas brasileiros que lutam contra a censura e a difamação. O grupo ajudou na busca de nomes do mundo pop, embora vários tenham chegado à carta por conta própria.

Estão no manifesto gente como o escritor Paulo Coelho, o cineasta José Padilha, que assinou durante entrevista à Folha, e o apresentador Luciano Huck.

Huck encerrou seu programa na TV Globo neste domingo (7) com uma fala sobre o evento programado para quinta e fez um discurso em defesa das liberdades democráticas.

"Eu tenho certeza de que eu, você, as pessoas que estão na plateia, os nossos convidados, a gente não pensa exatamente igual. A gente pensa diferente em muitas questões. E isso é a base da democracia. E a gente avança assim", discursou o apresentador, que cogitou disputar a Presidência em 2022.

Huck afirmou que "pensar diferente não torna ninguém inimigo de ninguém".

"A gente precisa saber ouvir até para discordar. Por isso, numa democracia a gente precisa garantir que todas as vozes sejam ouvidas, que o voto seja respeitado, que o resultado das eleições seja obedecido, como tem sido desde a redemocratização do Brasil. Então, não dá para ficar de boa, fingir que não está acontecendo nada. A democracia depende do empenho e da vigilância constante de todos nós", concluiu.

Também estão na carta atores e atrizes como Adriana Esteves, Bruna Lombardi, Bruno Gagliasso, Camila Pitanga, Edson Celulari, Fernanda Lima, Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Marcos Palmeira, Miguel Falabella, Patrícia Pillar e Taís Araújo.

A cineasta Daniela Thomas assinou o texto, pretende ir ao ato e assim explica sua decisão: "Um dos maiores danos desse governo nefasto é o corrosivo assalto às instituições da nossa democracia. Essa carta trata de estabelecer essa linha demarcatória: daqui não passarão".

Diretora de filmes como "Terra Estrangeira" (1994) e "Linha de Passe" (2007), ambos em parceria com Walter Salles, ela afirma: "Acredito que é um grito que une gente bem diversa e, esperamos, alerta os fascistas de que irão encontrar resistência para além da oposição que já conhecem".

Quem também quer comparecer é a apresentadora Astrid Fontenelle, que incluiu seu nome no momento em que estavam sendo coletadas as primeiras adesões.

"[Assinar foi uma maneira de] firmar meu compromisso com a democracia conquistada e que em hipótese alguma pode ser colocada em risco."

Embora o manifesto não mencione a gestão de Jair Bolsonaro (PL), a chef Bel Coelho o faz ao justificar sua assinatura: "O Estado democrático de Direito está sendo constantemente ameaçado desde o primeiro dia desse governo".

"A carta surge, unindo finalmente uma frente ampla do campo democrático, em reposta aos ataques frequentes ao sistema eleitoral feitos pelo presidente", diz a chef do Cuia Café.

"Unimos vozes de diferentes áreas com opiniões políticas muitas vezes diversas em defesa da democracia e do direito de voltar a sorrir", afirma Coelho, que pretende ir ao ato no dia 11 de agosto.

Colaborou Renan Marra, de São Paulo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.