Descrição de chapéu Eleições 2022

Damares fala em racha, insinua traição de Arruda a Bolsonaro e diz que foi chamada de ridícula

Ex-ministra diz que falha de comunicação explica baixo desempenho do presidente no eleitorado feminino

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Brasília

Ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves disse à Folha que se lançou candidata ao Senado Federal para representar o bolsonarismo no Distrito Federal diante do racha no campo da direita.

Há duas semanas, um acordo selado no Palácio do Planalto afastou Damares do palanque do governador Ibaneis Rocha (MDB), que disputa a reeleição. Estão na chapa do emedebista a ex-ministra Flávia Arruda (PL), que também quer a vaga no Senado, e o ex-governador José Roberto Arruda (PL), que tentará se eleger deputado federal.

No entanto, durante a pré-campanha, Arruda disse a correligionários que não pedirá votos a Bolsonaro no DF.

"Foi essa fala dele que me fez levantar do sofá de casa, correr atrás e dizer: Bolsonaro vai ter uma candidata pedindo muito voto para ele aqui", afirmou Damares.

Damares Alves durante convenção do Republicanos que lançou seu nome para candidata ao Senado (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) - Pedro Ladeira/Folhapress

Arruda chegou a ser preso e foi condenado em processos derivados da operação Caixa de Pandora, de 2009. Estão em discussão na Justiça os efeitos da condenação por improbidade administrativa que pode deixá-lo inelegível.

Damares expôs atritos com o ex-governador. "Arruda dizia que eu era uma jocosa, ridícula, fanática. Falou horrores."

Sobre a campanha presidencial, a ex-ministra disse que Bolsonaro falhou na comunicação das medidas adotadas para as mulheres e, por isso, não conseguiu ainda bons resultados com o eleitorado feminino.

A sra. estaria na chapa do governador Ibaneis Rocha, apoiada pelo presidente Bolsonaro. O que aconteceu? Houve realmente um acordo de a direita estar junta, mas a direita estava brigando entre si. O que a gente viu? Arruda declarar que não vai pedir voto para presidente da República. Essas motivações políticas também me fizeram repensar. Venho para esse pleito também [tendo] como prioridade a reeleição do presidente. E os bolsonaristas se identificam comigo.

A sra. acha que os outros candidatos não representavam o presidente Bolsonaro? Eles até poderiam representar, mas já tinham declarado que não iam pedir voto. Tem um áudio [do Arruda]. Eu tenho um presidente que está disputando com um outro líder, e eu não vou pedir voto para esse presidente? Então foi ruim. Foi essa fala dele que me fez levantar do sofá de casa, correr atrás e dizer: Bolsonaro vai ter uma candidata pedindo muito voto para ele aqui. A Michelle ficou o tempo todo querendo que eu voltasse para o processo. Nós temos muita coisa para fazer na área das pessoas com deficiência e doenças raras, e ela estava apostando demais em mim.

A sra. e Flávia Arruda são mulheres, foram ministras de Bolsonaro e disputam o Senado. Acha que dividem votos? Os evangélicos em Brasília sempre tiveram o sonho de ter uma senadora ou um senador evangélico. Já Flávia não tem essa identificação com o público evangélico. A Igreja Católica também veio falar comigo. Eu tenho a minha luta no enfrentamento à descriminalização do aborto. Os bolsonaristas se identificam mais comigo. Talvez não vamos dividir votos. Talvez as pessoas estejam querendo o novo.

Por que a senhora está atrás de Flávia nas pesquisas? Desde o início, as pessoas sabiam que a minha candidatura podia recuar em nome de uma composição pela direita. Mas, agora que isso é definitivo, eu creio que a gente vai mudar os números.

Por que a direita no Distrito Federal rachou? O que eu vejo é que o nosso povo, esse povo mais conservador, tem algumas pautas muito bem firmadas. Uma delas é o combate à corrupção. Eu prometi que não ia atacar. Não vou atacar. Mas eu não tenho nenhum processo de corrupção, pelo contrário. Eu tenho uma luta no enfrentamento à corrupção. A parte conservadora questionou. São direita, mas estão envolvidos com denúncias de corrupção? Isso foi o que dividiu.

A sra. disse que a campanha será respeitosa e que não vai atacar. A senhora vai tentar colar a pecha de corrupção em Arruda e na Flávia? Eu não vou fazer isso porque outros, como a esquerda, farão. Eu vou usufruir disso. Eu não preciso atacar o Arruda, não concordo com ele. Eu só preciso dizer que, entre mim e Flávia, eu tenho uma proposta. Eu não vou atacar a Flávia. A disputa eleitoral no DF vai ser ataque de um lado e de outro, mas eu quero muito que o meu time não entre nessa pilha.

Como a senhora avalia a atuação do presidente Bolsonaro duas semanas atrás pedindo a retirada da sua candidatura para apoiar o grupo de Arruda? É um grande mal-entendido porque o presidente não pediu para eu retirar [a candidatura]. Quando eles [Ibaneis, Arruda e Flávia] colocam que a direita está toda reunida, o presidente fala: ‘Então a direita se compôs? É isso que vocês querem? O que você acha, Damares?’. Eu confrontei Arruda, confrontei Ibaneis. Ele [Ibaneis] disse: ‘Estou confortável, é isso que eu quero’. Então, naquele momento, eu recuo da chapa deles. Isso deixou eles caminharem, mas parece que eles não estavam se dando muito bem.

Logo após esse episódio, Arruda disse que não pediria voto para governador e presidente. Acha que o presidente cometeu um erro de avaliação? Não, porque foram levados elementos muito bem construídos e o presidente tinha cinco minutos para ouvi-los. O presidente confiou. Essa cadeira do Senado é a cadeira mais importante para Bolsonaro. E aí vem essas histórias todas aí de não pedir voto. Então, eu entro no páreo para garantir que Bolsonaro teria um segundo nome.

Como Michelle e Bolsonaro vão atuar? A Michelle vai ficar comigo. Inclusive a Michelle brincou dizendo que ela quer coordenar a minha campanha em Ceilândia [região do Distrito Federal]. Ela quer ir na rua pedir voto para mim. O presidente vai ficar neutro. Eu acho que ele não vai se envolver mais. Aqui ele já foi até onde podia ir. E agora é esperar a coerência do Arruda.

Damares Alves ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro durante convenção do Republicanos em Brasília (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) - Pedro Ladeira/Folhapress

O que se dizia era que o Arruda gostaria que a senhora fosse candidata ao Senado na chapa dele para governador. O que eu ouvi foi o contrário, que o Arruda dizia que eu era uma jocosa, ridícula, fanática. Falou horrores. Pessoas muito próximas a mim estavam em reunião e ele não sabia. Arruda não morre de amores por mim. A Flavinha gosta de mim. Trocamos mensagens, uma desejou sucesso à outra. Eu acredito que a Flávia tem um futuro político brilhante. Ela é inteligente, articulada, bem-intencionada. A Flávia vai fazer carreira solo, um dia, eu creio. Acho que ela não vai precisar ser conduzida a vida inteira pelo marido. Ela aprendeu muito bem o jogo político. Enquanto deputada, a Flávia foi uma deputada parceira do nosso ministério. Enquanto ministra, foi companheira, irmã e amiga. Eu não vou permitir que ninguém fale mal da Flávia. Eu vou inclusive para cima defender a Flávia, se preciso for, e ela sabe disso.

Ibaneis e Flávia Arruda vão pedir voto para o presidente? Eu acredito que sim. Até porque eles precisam do voto dos bolsonaristas para serem eleitos. O Ibaneis não ganha essa eleição sem apoio dos bolsonaristas. Ele [Bolsonaro] teve quase 70% dos votos aqui. Ninguém ganha eleição aqui sem apoio do Bolsonaro.

De acordo com as pesquisas, o eleitorado feminino nesse momento está majoritariamente com Lula. Por que Bolsonaro tem dificuldades com esse eleitorado? Por 24 anos eu fiquei nos bastidores [da política] e eu vi muito discurso e pouca ação. Muitas mulheres foram deixadas para trás e, quando assumi, eu não queria que este governo cometesse os mesmos erros. O problema foi na comunicação. Por exemplo, quando ele sancionou o auxílio emergencial em dobro para mulher chefe de família. Faltou o presidente falar diretamente com as mulheres. Mas meu papel e o da Michelle será de mostrar que nenhuma mulher ficou para trás. A gente viu movimentos feministas que distorciam tudo o que ele fazia. Nós perdemos na guerra das narrativas no tocante às mulheres e a gente precisava fazer esse contraponto. E acho que Michelle vai fazer muito bem isso agora e eu também.

Como a Michelle vai atuar na campanha presidencial? Ela já está na campanha. Agora ela começou a viajar com o presidente, a ir à Marcha para Jesus, por exemplo. Mas agora na campanha eu creio que o partido vai ter que disponibilizar um transporte para Michelle se deslocar e vai ter que dividir os dois [Michelle e Bolsonaro]. Eles não vão conseguir ir em todos os lugares. Nessa divisão, eu quero estar com Michelle em alguns eventos.

O presidente Bolsonaro voltou a atacar as urnas. Se ele perder as eleições, há risco de uma ruptura democrática? Não. Se as eleições forem transparentes, não tem nenhum risco de golpe.

Mesmo com a vitória do Lula? Claro! Ele não está fazendo esse diálogo [levantar questionamentos sobre o sistema eleitoral] porque ele é presidente. A gente já fazia isso no Congresso. Eu participei de todas as audiências públicas no Congresso Nacional com relação à fragilidade do nosso sistema.

O que é uma eleição transparente? Quem sabe agora com essas análises dos códigos de fonte por parte das Forças Armadas não se veja o que precisa ser mais transparente na hora da contagem? Temos instrumentos práticos para isso. Eu não quero entrar na discussão. Tem muita gente fazendo isso. Mas o Bolsonaro não é louco. O Bolsonaro não vai liderar nenhum golpe. Ele chamou o povo paras as ruas para mostrar que o Brasil é verde e amarelo. Nós vamos ganhar [a eleição]. Então é para que a esquerda não nos acuse de fraude, porque nós vamos ganhar, e a esquerda vai para cima dizer que foi fraude.

RAIO-X

Damares Alves, 58
Nascida em Paranaguá (PR), é pastora evangélica e foi assessora no Congresso. Assumiu o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro. Formou-se em 1986 em pedagogia (Faculdade Pio X, de Aracaju) e, em 1992, direito (Faculdades Integradas de São Carlos)

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