O PT deve manter o apoio à candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSB) ao Governo do Rio de Janeiro mesmo com o impasse ainda não solucionado sobre o nome da chapa para o Senado no estado.
A decisão foi indicada após pessoas próximas ao ex-presidente Lula manifestarem contrariedade ao rompimento.
A executiva nacional se reuniu nesta quinta-feira (4) e, formalmente, decidiu adiar o posicionamento sobre o tema para esta sexta-feira (5), prazo final para a realização das convenções. Mas houve sinais de que a maioria não concordava com o rompimento proposto pelo PT-RJ.
Pesou na decisão a articulação que já dura mais de um ano entre Freixo e Lula para construção da candidatura.
O deputado trocou o PSOL pelo PSB em acordo avalizado pelo ex-presidente visando a disputa do Palácio Guanabara. Em comício no mês passado, o petista fez declaração enfática em defesa do nome do aliado.
O partido também sofreu pressão nas redes sociais de apoiadores que questionavam o abandono de uma candidatura de perfil progressista para, no lugar, alinhar-se ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), na chapa encabeçada pelo ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT).
O PT afirma que o acordo para apoio a Freixo destinava ao partido a indicação do nome único da chapa ao Senado. O indicado foi o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT).
O deputado federal Alessandro Molon (PSB), porém, afirma não ter participado desta negociação e teve o nome confirmado na convenção estadual.
O rompimento foi defendido pelo PT-RJ após o presidente do PSB, Carlos Siqueira, indicar que não interviria para que Molon retirasse sua candidatura ao Senado.
Durante a reunião, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-presidente do partido, Rui Falcão, defenderam a manutenção da aliança. As falas foram encaradas como um sinal de apoio de Lula ao deputado.
"Temos um compromisso. Quando fazemos um compromisso, a gente cumpre. Nós queremos que o PSB fale abertamente sobre como vai trabalhar nisso. Isso não é contra o Molon, ele tem legitimidade de pleitear. Mas isso tem a ver com uma estratégia política de unidade do nosso campo. Não é possível sair dividindo a disputa para o Senado num palanque tão importante como o Rio de Janeiro", afirmou Gleisi em entrevista.
"O PSB oficializou na executiva que não vai dar financiamento eleitoral. Isso já é grave o bastante, porque quando tira o financiamento, o candidato vai fazer o quê? Se virar? Vai ser candidato de quem? Dele mesmo? Teve um passo importante", disse ela.
Após a reunião, o vice-presidente do PT Washington Quaquá, até então o maior defensor do rompimento com Freixo, retirou a proposta de fim da aliança.
Pediu, porém, autorização para liberar a militância a apoiar outros candidatos, a fim de ampliar os palanques do ex-presidente no estado. O tema ainda será debatido na executiva nacional.
"No Rio não pode haver interesse individual ou de grupo que se sobreponha ao objetivo principal, que é isolar o bolsonarismo nos seus 25% a 30% e ampliar a campanha do Lula. As últimas divergências ocorridas em relação ao acordo feito e descumprido pelo PSB não podem prejudicar o principal", escreveu Quaquá.
"Solicito que seja dada a orientação para a militância de que, mesmo tendo dado o apoio formal do PT à chapa do PSB, que se busque ao máximo ampliar o palanque do presidente Lula, no estado, ampliando nossa campanha e isolando o bolsonarismo."
O movimento pelo rompimento com Freixo foi alvo de críticas nas redes sociais. A escritora Márcia Tiburi, candidata ao governo fluminense em 2018, defendeu a manutenção do apoio a Freixo.
"Evidentemente, o PT deve apoiar Freixo no Rio. A postura de Molon não nos leva a nada nem o levará a lugar algum, pois ele não se elegeria para o Senado nem com todo o esforço", escreveu ela.
O jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi, afirmou que "romper com Freixo é ajudar o governador bolsonarista [Cláudio Castro] e atrapalhar a candidatura de Lula".
"O PT tem direito a vaga de senador na coalizão pró-Freixo. A candidatura Molon viola esse acordo, goste-se ou não de Ceciliano. Cabe ao PT-RJ pressionar, mantendo seu nome ao Senado", escreveu Altman.
O youtuber Felipe Neto também se posicionou a favor do deputado.
"O PSB não cumpriu o acordo? Ok. Patético por parte do partido. Mas política não pode ser feita de forma intransigente. PT retirar o apoio ao Freixo é deixar claro que prefere o Castro ganhando no RJ. PT abraça até quem apoiou o golpe, porra! E vai largar a mão do Freixo? Poupe-me", escreveu o comunicador.
A movimentação de uma ala da sigla em favor dos planos de Paes também reavivou críticas que lembravam o apelido de Partido da Boquinha, cunhado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho em 1999 para se referir à seção fluminense da sigla.
Em áudio de oito minutos enviado a um grupo de militantes, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) respondeu aos ataques.
"O PT está aqui para dar todo o apoio ao Freixo. Mas peraí, o que é isso? O maior partido de esquerda na América Latina, no Rio de Janeiro, vai ficar fora da chapa? Acha que isso é normal? [...] Onde está o erro do PT nesse negócio? Onde é que estão os boquinhas nisso?", disse ela.
Há também resistência num setor do partido ao nome de Ceciliano, petista que tem bom trânsito com bolsonaristas no Rio de Janeiro e tem feito agendas ao lado de Cláudio Castro (PL).
Molon tem usado essa aproximação entre Castro e Ceciliano para reforçar a necessidade de sua candidatura.
No comício em julho de Lula no Rio de Janeiro, o deputado do PSB afirmou que é necessário derrotar o presidente Jair Bolsonaro e Castro "sem conciliação, sem ambiguidades". Ele recebeu o apoio de artistas, como Anitta, e de nomes do PSOL.
Ceciliano, por sua vez, vem tentando se aproximar da militância mais ideológica do partido. Ele tem se apresentado como um nome fiel a Lula por não ter deixado o PT nos momentos de crise da Operação Lava Jato, em contraposição à mudança de partido feita por Molon.
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