Ex de Bolsonaro agora diz ser dona de mansão em Brasília, e PF pede investigação

Ana Cristina Valle afirmou em 2021 que alugava residência na qual mora com o filho mais novo do presidente

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Brasília

Ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL), a candidata a deputada distrital Ana Cristina Valle (PP-DF) informou à Justiça Eleitoral ser proprietária de uma mansão no Lago Sul, área nobre de Brasília.

A declaração de Ana Cristina contrasta com afirmação anterior da própria candidata, que negou no ano passado ao UOL ser dona do imóvel onde morava com o filho 04 do presidente da República, Jair Renan Bolsonaro.

A declaração da mansão no rol de bens de Ana Cristina foi revelada pelo site Metrópoles e confirmada pela Folha.

A Polícia Federal pediu à Justiça Federal a abertura de inquérito para investigar a compra da mansão.

Procurada pela Folha, Ana Cristina não respondeu.

A ex-mulher de, Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle, durante ato para Bolsonaro, nas ruas de Resende, interior do estado do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Em agosto de 2021, quando o UOL mostrou que Ana Cristina e Jair Renan Bolsonaro se mudaram para a residência no Lago Sul, um corretor que aparecia como o proprietário na certidão disse que o imóvel era alugado.

Na época, a mansão foi avaliada em cerca de R$ 3 milhões por corretores imobiliários consultados pelo UOL. Ana Cristina informou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no entanto, um valor bem menor: R$ 829 mil.

A casa tem 1.200 metros quadrados —sendo 800 m² de área construída— e inclui espaço de lazer com piscina, de acordo com o UOL.

A declaração patrimonial entregue à Justiça Eleitoral é feita pelos candidatos e não há padrão sobre como os bens devem ser descritos nem checagem dos dados.

Eventuais omissões ou incorreções descobertas, quase sempre pela imprensa, adversários ou eleitores, podem, em tese, ser objeto de questionamento pelo Ministério Público e resultar em ações por falsidade ideológica eleitoral. Punições para esses casos, porém, são muito difíceis.

A ex-esposa do presidente usa o nome de urna Cristina Bolsonaro. Em 2021, Ana Cristina trabalhava no gabinete da deputada federal Celina Leão (PP-DF) e recebia salário líquido de R$ 6.200.

O pedido de investigação feito pela PF à Justiça Federal foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela Folha.

O pedido tem como base os dados fornecidos pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que apontam para a incompatibilidade dos valores da transação com a função de assessora parlamentar exercida por Ana Cristina à época da compra do imóvel.

Segundo O Globo, os dados fornecidos pelo Coaf à investigação que apurava tráfico de influência de Jair Renan mostram que ela transferiu R$ 867 mil a uma empresa de transporte de cargas do Distrito Federal.

O proprietário da empresa, Geraldo Machado, utilizou parte desse valor para dar entrada na compra da mansão.

No pedido de investigação, a PF argumenta que a participação do empresário na transação financeira para compra da mansão pode caracterizar uma forma de dissimulação da propriedade do imóvel e ser enquadrado em lavagem de dinheiro.

Fachada da casa de Ana Cristina no Lago Sul, em Brasília - Eduardo Militão/UOL

No documento ao qual O Globo teve acesso, o delegado do caso afirma que "tal conduta possui alcance típico de delito contra o sistema financeiro."

O Coaf enviou os dados para o inquérito em que Jair Renan era investigado por suposto tráfico de influência.

Como mostrou a Folha, a PF concluiu o caso e afirmou em relatório final que não encontrou crimes na suposta atuação do filho do presidente em favor de empresários. Não houve indiciamentos.

O inquérito foi aberto em março de 2021, após pedido do Ministério Público Federal baseado em denúncias feitas por parlamentares da oposição ao governo.

A própria Ana Cristina chegou a ser intimada para depor na apuração, mas não compareceu às convocações da PF.

Os negócios imobiliários da família Bolsonaro são alvo de investigações e denúncias de irregularidades desde o início do governo.

Parte do período analisado na investigação de uma possível "rachadinha" no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) é de quando o presidente e Ana Cristina ainda eram casados.

Entre 2005 e 2008, o casal comprou cinco terrenos, uma sala comercial em Resende (RJ) e uma casa em Bento Ribeiro, zona norte do Rio de Janeiro.

Na declaração de bens de Ana Cristina constam uma casa em Resende (RJ), uma sala no centro da capital fluminense, e as quotas da empresa Total Vox Telecomunicações. Ao todo, são R$ 1,046 milhão em bens.

Outro caso da família Bolsonaro envolvendo a aquisição de uma mansão em Brasília durante o governo Bolsonaro aconteceu com o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Ele comprou uma mansão de R$ 6 milhões em um bairro nobre da capital federal e disse na Justiça que utilizou a renda que ganha como advogado, entre outros, para viabilizar a aquisição.

Não há, porém, registros de casos em que o senador atue como advogado no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, dois estados nos quais o parlamentar tem carteira válida da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Além do mais, reportagem do UOL divulgada na terça-feira (30) mostrou que metade do patrimônio do clã Bolsonaro é composto de imóveis comprados com dinheiro vivo.

Desde os anos 1990, o presidente, seus irmãos e filhos negociaram 107 imóveis. Desse total, 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo.

De acordo com o levantamento do UOL, as compras registradas nos cartórios como tendo sido pagas em moeda corrente nacional somam R$ 13,5 milhões.

Diante da revelação, o presidente Jair Bolsonaro afirmou não ver problemas na compra de imóveis com dinheiro vivo. "Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel? Eu não sei o que está escrito na matéria... Qual é o problema?", disse na terça, após participar de uma sabatina em Brasília.

Em 2018, ele tinha afirmado em sabatina que não pagava em dinheiro porque poderia ser roubado, preferindo transações bancárias.

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