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Victoria Damasceno

Faltou falar de raça, candidatos

Debate contou com representantes da esquerda, direita e do centro, mas nenhum debateu as questões negras e indígenas

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Victoria Damasceno
Victoria Damasceno

Editora de Equilíbrio, é jornalista formada pela USP e foi pesquisadora na Universidade Howard (EUA)

São Paulo

Às vésperas da Lei de Cotas completar 10 anos, ocorreu o primeiro debate entre candidatos à Presidência da República. Estavam lá representantes da esquerda, direita, do centro, mas nenhum debateu a fundo a temática racial.

O terreno era fértil, afinal, uma das maiores políticas públicas voltadas para a população negra e indígena faria aniversário. De notório êxito, o sistema de cotas foi responsável por mudar o perfil das universidades brasileiras ao se tornar a porta de entrada para negros e indígenas no ensino superior.

Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Felipe d'Avila, Simone Tebet e Soraya Thronicke no debate - Bruno Santos-28.ago.22/Folhapress

Se partissem apenas deste lugar, os candidatos poderiam questionar, por exemplo, sobre os recentes cortes do Pnaes (Programa Nacional de Assistência Estudantil), o que compromete o auxílio estudantil, algo essencial para os alunos cotistas. Muitos abandonam a faculdade para trabalhar, uma vez que não há bolsas suficientes.

Mas, como negros representam 56% da população brasileira, o tema não se esgotaria aí. Quando falaram da fome, poderiam lembrar que enquanto 53,2% dos brancos têm acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequada, a taxa cai para 35% no caso de negros.

Quando o assunto foi emprego, deveriam questionar os adversários sobre as taxas de desemprego, que entre negros era de 16,2% no segundo trimestre de 2021, enquanto a dos brancos estava em 11,7%, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

Poderiam ainda falar sobre violência sexual, segurança pública, saúde, pobreza… Uma vez que, em todos esses campos, infelizmente, o negro sai perdendo.

Os candidatos também perderam a oportunidade de mencionar os quase quatro anos de um governo que negligenciou a população indígena, defendeu o garimpo em suas terras, e que sancionou medidas que resultaram em violência recorde contra os povos originários, segundo organizações indigenistas.

A temática racial precisa estar no centro das propostas dos candidatos porque quem está no foco da bala e da fome são principalmente negros e indígenas.

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