Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula dribla no JN pergunta sobre corrupção, admite erros de Dilma e enaltece Alckmin

Petista vê Bolsonaro refém do Congresso, critica emendas de relator e ditaduras de governos que têm simpatia de alas petistas

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscou driblar perguntas sobre como evitará corrupção no país caso seja eleito, admitiu desvios na Petrobras em governos petistas e erros da gestão Dilma Rousseff (PT) na economia e exaltou seu antigo adversário e atual candidato a vice de sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB).

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula participou de sabatina na noite desta quinta-feira (25) no Jornal Nacional, da TV Globo, e tentou reconhecer parte das críticas que são motivo de desgaste do PT nos últimos anos.

O petista também fez ataque a sigilos decretados no governo Jair Bolsonaro (PL) e afirmou que poderia ter nomeado um procurador-geral da República "engavetador" durante seu governo. Mas não quis se comprometer a indicar à PGR um nome apontado na lista tríplice da categoria, que acabou descartada pelo atual presidente.

Candidato a Presidência Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista ao Jornal Nacional - Marcos Serra Lima / G1

Questionado sobre a corrupção, Lula insistiu em dizer que ela só surge em governo que permite a investigação.

"Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram", disse Lula, em relação a escândalos na Petrobras em governos petistas. Ele não respondeu de forma clara quais seriam suas propostas para evitar que esse tipo de caso volte a acontecer em uma nova gestão, mas ressaltou mecanismos criados nos governos petistas.

Ao falar a respeito do escândalo do mensalão, que ocorreu durante seu primeiro mandato, Lula fez comparação com aquilo que chamou de "orçamento secreto", em referência às emendas de relator, nas quais parlamentares indicam verbas para obras sem transparência sobre os autores da destinação.

"Ele não manda em nada, é refém do Congresso Nacional e sequer cuida do Orçamento. Orçamento quem cuida é o [Arthur] Lira, ele que libera verba. O ministro liga para ele, não liga para o presidente da República. Isso nunca aconteceu desde a Proclamação da República."

Logo no começo da entrevista, o jornalista William Bonner afirmou que o Supremo Tribunal Federal deu razão a Lula e considerou o então juiz Sergio Moro parcial, além de ter anulado a condenação do caso do tríplex e outras. "Portanto, o senhor não deve nada à Justiça", disse ele ao petista, ressalvando em seguida que, apesar disso, "houve corrupção na Petrobras".

Lula voltou a criticar a Lava Jato, que apontou uma série de desvios em gestões do PT e a partir da qual ele foi preso. O petista disse que a ação da força-tarefa "entrou por um lugar delicado, entrou no limite da política e o limite era o Lula, condenar o Lula".

As investigações da Lava Jato mostraram que havia um esquema de corrupção na Petrobras, por meio de diretores indicados nos mandatos petistas, no qual empreiteiras pagavam propina a executivos, partidos e políticos. No fim de 2021, a estatal informou que mais de R$ 6 bilhões já haviam sido devolvidos aos cofres da companhia com base em acordos firmados na operação.

Em relação ao dinheiro recuperado pela operação, Lula disse "que ótimo que voltou", mas criticou os prejuízos, segundo ele, que a Lava Jato causou para a economia.

"Por conta da Lava Jato nós tivemos 4,4 milhões de desempregados nesse país", afirmou. "Você pode fazer investigação com a maior seriedade, como foi feita na Coreia na Samsung, como foi feito na França na Alstom, como foi feito na Volkswagen na Alemanha. Se empresário roubou, você prende, condena, mas você permite que a empresa continue funcionando", completou.

Lula também disse que a "polarização é saudável no mundo inteiro" e chegou a criticar ditaduras de governos que têm a simpatia de alas petistas. "Não tem polarização no partido comunista chinês, não tinha polarização no partido comunista cubano", afirmou. "Agora quando você tem democracia, tem mais que um disputando, a polarização é saudável, ela é importante, é estimulante."

Sobre sua sucessora na Presidência, Lula afirmou que Dilma é uma das pessoas por quem mais ele tem respeito, mas que a gestão dela "cometeu equívoco".

"Dilma fez um primeiro mandato presidencial extraordinário. Porque a crise se agravou, a crise internacional. Mesmo assim ela se endividou para manter as políticas sociais e para poder manter o desemprego em 4,5%", disse Lula.

"Cometeu equívoco na questão da gasolina, ela sabe o que eu penso disso. Eu acho que cometeram equívoco na hora que fizeram R$ 540 bilhões em desoneração de isenção fiscal de 2011 a 2040. Acho que quando ela tentou mudar ela tinha uma dupla dinâmica contra ela."

O governo Dilma registrou uma das maiores recessões da história do Brasil —e é lembrado muitas vezes como um desastre. No segundo mandato da petista, a inflação disparou, atingindo 10,67% em 2015. Quando deixou o governo, a taxa de desemprego superava 10%.

Apesar disso, Lula reagiu ao questionamento sobre o legado do governo da ex-presidente com bom humor, defendeu Dilma e culpou o Legislativo da época por parte das dificuldades econômicas que a ex-presidente petista enfrentou durante seu mandato.

"Sábado eu estive com a Dilma no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. E a Dilma sabia que eu vinha aqui. E ela disse para mim: Presidente, se perguntar do meu governo, não responda, fala para me convidar que vou lá discutir com eles."

Em diversas respostas, ele fez questão de citar a participação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) em um futuro governo, caso seja eleito, especialmente na área econômica, e disse que o Brasil era "feliz" quando a polarização era entre o PT e o PSDB.

De acordo com o petista, uma chapa entre os dois permitirá maior estabilidade na economia. "Ganhar credibilidade interna e externa para fazer as coisas nesse país", disse.

"Eu estou até com ciúmes do Alckmin. Você tem que ver que sujeito esperto, habilidoso, ele fez um discurso no dia 7 de maio quando foi apresentado oficialmente ao PT que eu fiquei com inveja, ele foi aplaudido de pé."

Ainda na área econômica, Lula disse que seu plano de governo será elaborado em conjunto com os dez partidos que fazem parte da chapa do petista que concorre à Presidência da República.

"Tenho a experiência do ex-governador Geraldo Alckmin. Muita gente pensava que era difícil Lula se juntar com Alckmin. Política não tem que ter ódio, a política é extraordinária para conviver."

O petista também defendeu "imprensa livre" e disse que Bolsonaro "parece um bobo da corte".

"Eu poderia, por exemplo, fazer decreto de cem anos. Sabe decreto de sigilo que está na moda agora? Eu poderia não apurar nada e colocar decreto de cem anos de sigilo para o Pazuello, decreto para os meus filhos, decreto para os meus assessores. Ou eu poderia não investigar", disse o petista em alusão ao presidente Bolsonaro.

"Pega um capitão e coloca em cima de qualquer denúncia, aí nada vai ser apurado e não vai ter corrupção. E a corrupção só aparece quando você governa de forma republicana, que você permite que as pessoas sejam investigadas independentemente de quem seja."

Ao ser questionado sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Lula defendeu o movimento social, disse que ele está fazendo um papel "extraordinário" na produção de alimentos e que "aquele MST de 30 anos atrás não existe mais".

Lula também aproveitou para criticar a política armamentista do presidente Bolsonaro.

"O Bolsonaro está ganhando alguns fazendeiros porque está liberando arma, tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que é bom matar alguém. Não!"

"O que nós queremos é pacificar esse país, porque o pequeno produtor rural e o médio produtor rural têm que conviver pacificamente com os grandes negócios. O Brasil tem possibilidade de ter os dois."

Lula disse ainda que há parte do agronegócio "fascista e direitista" que se coloca contra a preservação do meio ambiente —mas que ela não representa a totalidade do segmento.

"Os empresários sérios que trabalham no agronegócio, que têm comércio com o exterior, que exportam para a Europa, para a China esses não querem desmatar, querem preservar nossos rios, nossas águas e nossa fauna. Esses não. Mas você tem um monte que quer."

A entrevista provocou panelaços, mas o movimento foi menor do que o registrado na segunda-feira (22), durante a entrevista de Bolsonaro à emissora. Também ocorreram buzinaços e gritos de apoio ao petista.

Lula foi o terceiro candidato à Presidência entrevistado pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos. Na segunda-feira (22), o JN sabatinou Bolsonaro e na terça (23) foi a vez de Ciro Gomes (PDT).

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