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PT é pressionado nas redes a manter apoio a Freixo no RJ; Anitta defende Molon

Histórico progressista e proximidade com Lula pesam por manutenção de aliança, apesar de impasse

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Rio de Janeiro e São Paulo

O PT é alvo de pressão nas redes sociais para manter o apoio à candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSB) ao Governo do Rio de Janeiro, apesar do impasse com o PSB em relação ao nome da chapa para o Senado no estado.

O histórico progressista do deputado e a articulação de mais de um ano com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a aliança pesam a favor de Freixo na discussão.

Marcelo Freixo com o ex-presidente Lula durante o evento na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro
Marcelo Freixo com o ex-presidente Lula durante o evento na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 7.jul.22/Folhapress

A executiva nacional da sigla adiou para sexta-feira (5) a decisão sobre a manutenção ou não da aliança, após o PSB-RJ confirmar a candidatura do deputado Alessandro Molon (PSB) ao Senado.

O PT quer o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano, como o candidato único da chapa e afirma que um acordo previa esse arranjo. Molon nega ter participado dessa negociação.

A crise se agravou após o PT-RJ defender o rompimento da aliança em razão do impasse. Uma ala da sigla no estado quer aderir à campanha do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), alinhando-se ao posicionamento do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD).

O movimento foi alvo de críticas nas redes sociais. A escritora Márcia Tiburi, candidata ao governo fluminense em 2018, defendeu a manutenção do apoio a Freixo.

"Evidentemente, o PT deve apoiar Freixo no Rio. A postura de Molon não nos leva a nada nem o levará a lugar algum, pois ele não se elegeria para o Senado nem com todo o esforço", escreveu ela.

O jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi, afirmou que "romper com Freixo é ajudar o governador bolsonarista [Cláudio Castro] e atrapalhar a candidatura de Lula".

"O PT tem direito a vaga de senador na coalizão pró-Freixo. A candidatura Molon viola esse acordo, goste-se ou não de Ceciliano. Cabe ao PT-RJ pressionar, mantendo seu nome ao Senado", escreveu Altman.

O youtuber Felipe Neto também se posicionou a favor do deputado.

"O PSB não cumpriu o acordo? Ok. Patético por parte do partido. Mas política não pode ser feita de forma intransigente. PT retirar o apoio ao Freixo é deixar claro que prefere o Castro ganhando no RJ. PT abraça até quem apoiou o golpe, porra! E vai largar a mão do Freixo? Poupe-me", escreveu o comunicador.

A movimentação de uma ala da sigla em favor dos planos de Eduardo Paes também reavivou críticas que lembravam o apelido de Partido da Boquinha, cunhado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho em 1999 para se referir à seção fluminense da sigla.

Em áudio de oito minutos enviado a um grupo de militantes, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) respondeu aos ataques. "Não sou boquinha. Sou Benedita da Silva, fundadora do Partido dos Trabalhadores, e acompanhei toda essa articulação."

Ela se posicionou de forma favorável ao rompimento caso o PSB se negue a cumprir o acordo. "O PT está aqui para dar todo o apoio ao Freixo. Mas peraí, o que é isso? O maior partido de esquerda na América Latina, no Rio de Janeiro, vai ficar fora da chapa? Acha que isso é normal?"

"Onde está o erro do PT nesse negócio? Onde é que estão os boquinhas nisso?", disse ela.

O PT decidiu adiar até sexta, prazo final para as convenções, a decisão sobre o tema. Relatos indicam que na reunião da executiva nacional desta quinta-feira (4) havia sinais de que a maioria era favorável à manutenção do apoio a Freixo, apesar do impasse.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) afirmou que Freixo é um defensor dos direitos humanos e que combate as milícias. Na avaliação da parlamentar, seria negativo para os setores progressistas abandonar a candidatura do deputado.

Também pesa em favor do deputado o fato de ele ter trocado o PSOL pelo PSB em junho do ano passado numa articulação que envolveu aval do próprio Lula. A escolha pela sigla socialista foi uma forma encontrada para ampliar o arco de alianças —o PSDB acabou indicando Cesar Maia como vice.

O vice-presidente nacional Washington Quaquá, do Rio de Janeiro, defendeu que, ainda que haja apoio formal ao candidato do PSB, a militância petista seja autorizada a "ampliar o palanque" de Lula.

Há também resistência num setor do partido ao nome de Ceciliano, petista que tem bom trânsito com bolsonaristas no Rio de Janeiro e tem feito agendas ao lado de Cláudio Castro (PL).

Molon tem usado essa aproximação entre Castro e Ceciliano para reforçar a necessidade de sua candidatura. No comício em julho de Lula no Rio de Janeiro, o deputado do PSB afirmou que é necessário derrotar o presidente Jair Bolsonaro e Castro "sem conciliação, sem ambiguidades".

O pessebista, que nega ter participado de acordo para ceder a vaga ao Senado, tem demonstrado disposição para manter a candidatura, apesar da ameaça de asfixia financeira feita pelo PSB. Diariamente ele tem publicado os apoios de artistas e de nomes do PSOL ao seu nome. A principal declaração foi da cantora Anitta, que declarou voto no deputado, sem se posicionar em relação ao governo fluminense.

Ceciliano, por sua vez, vem tentando se aproximar da militância mais ideológica do partido. Ele tem se apresentado como um nome fiel a Lula por não ter deixado o PT nos momentos de crise da Operação Lava Jato, em contraposição à mudança de partido feita por Molon.

O petista tem se encontrado com artistas e recebido declarações de apoio, a fim de afirmar seu posicionamento à esquerda.

Sem declarar apoio, o defensor público geral do estado, Rodrigo Pacheco, se manifestou sobre sua relação com Ceciliano como presidente da Assembleia, a fim de afastar a pecha de "aliado de bolsonaristas" usada por críticos.

"Logo no início de 2019, o presidente André Ceciliano apresentou emenda à Constituição do estado do RJ, garantindo a autonomia e blindando a Defensoria de qualquer interferência externa, resultando na Emenda Constitucional 72, fundamental para enfrentar os anos que viriam. Destaco aqui a enorme capacidade de diálogo do presidente e a compreensão do papel da Defensoria num ambiente hostil aos direitos humanos", escreveu ele.

"Basta uma conversa rápida com alguns gestores no estado do RJ nesses quatro anos para saber a importância dessa legislatura e da sua presidência para a defesa das instituições num ambiente complexo para a democracia, daí porque boa parte das críticas das redes me parece injusta."

O deputado André Ceciliano, à esquerda, ao lado do ex-presidente Lula, do deputado Marcelo Freixo e do ex-governador Geraldo Alckmin durante comício no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel - 7.jul.22 / AFP
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