Descrição de chapéu STF cartas pela democracia

STF terceiriza para TSE manifestações sobre atos pró-democracia

Participação de presidenciáveis dificulta posicionamento, avalia ministro; Fux preferiu que Fachin ficasse à frente do tema

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

No dia da leitura da carta em defesa da democracia na Faculdade de Direito da USP, o STF (Supremo Tribunal Federal) concentrou os seus posicionamentos públicos sobre o tema no atual e no futuro presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que integram ambas as cortes.

Nesta quinta-feira (11), como tem feito em outros episódios em que são cobradas manifestações relacionadas às eleições e ao sistema eleitoral, o presidente do Supremo, Luiz Fux, preferiu que o ministro Edson Fachin, que preside o TSE, ficasse à frente do assunto.

Os demais ministros do STF permaneceram em silêncio. A avaliação de um integrante da corte é que o evento na quinta acabou politizado, o que dificultou qualquer manifestação sobre o tema.

Fachin defendeu as urnas eletrônicas, disse que é preciso rejeitar o retrocesso e se opôs às fake news. "A defesa da ordem constitucional e, consequentemente, da dignidade humana, impõe a rejeição categórica do flertar com o retrocesso", afirmou Fachin em uma mensagem feita para ser lida nos atos.

Leitura dos manifestos pela democracia na Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, no centro de São Paulo
Leitura dos manifestos pela democracia na Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, no centro de São Paulo - Zanone Fraissat - 11.ago.2022/Folhapress

"Defender as eleições é preservar o cerne vital da agenda democrática, que, acima das cisões ideológicas, alinha, harmonicamente, os interesses de uma gente que almeja e merece buscar a prosperidade em uma comunidade pacífica, civilizada e livre", disse o ministro na mensagem.

O ministro Alexandre de Moraes, que tomará posse como presidente do TSE na próxima terça-feira (16), também divulgou em suas redes sociais uma breve manifestação sobre o tema. Segundo ele, a Faculdade de Direito da USP "foi palco de importantes atos em defesa do Estado de Direito e das instituições".

Ele e os demais integrantes do STF, porém, não compareceram nos atos e os outros ministros optaram por não se manifestar.

Um ministro do Supremo afirmou à Folha que, como a carta contou com assinatura de candidatos e como houve manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), uma pauta que era essencialmente de defesa institucional acabou politizada.

Por isso, segundo ele, não seria próprio que houvesse comentários a respeito do ato.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à eleição este ano, e outros presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Felipe D'Ávila (Novo) também assinaram o manifesto, assim como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT).

Os ministros do Supremo também não participaram da manifestação, embora parte deles seja oriunda da Faculdade de Direito da USP, como Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski.

Por temer acusações de participar de ação politizada, a OAB nacional também decidiu não aderir ao manifesto, sob protesto de ex-presidentes da entidade e de integrantes do conselho federal.

A cúpula da Ordem decidiu lançar um documento próprio e viu a decisão de não assinar outros manifestos como estratégica para que a entidade ocupe um posto chave na intermediação das eleições deste ano, com a confiança de setores antagônicos como a campanha de Bolsonaro e o TSE.

A "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito" foi assinada por mais 1 milhão de pessoas e lida na manhã da quinta, sob aplausos e falas contra o autoritarismo.

O texto não cita diretamente Bolsonaro, mas prega a manutenção do Estado democrático de Direito e o respeito às eleições diante das ameaças golpistas do presidente de contestar o resultado e questionar as urnas eletrônicas.

O movimento, a menos de dois meses do primeiro turno das eleições, é considerado um marco simbólico na reação da sociedade civil à escalada de ameaça às instituições promovida por Bolsonaro, que insufla apoiadores para saírem às ruas no 7 de Setembro, data do Bicentenário da Independência.

Segmentos que estavam inertes perante as intimidações, sobretudo no ambiente empresarial e financeiro, decidiram se juntar às mobilizações. Banqueiros, juristas, acadêmicos, artistas, sindicalistas e ativistas também participam, sob o discurso de união de divergentes em torno de um ideal maior.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.