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Lula intensifica busca por voto útil e recebe apoio de Meirelles e Cristovam no 1º turno

Petista se reúne com políticos que já foram candidatos à Presidência, enquanto Bolsonaro ataca TSE e diz que será reeleito

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu na manhã desta segunda-feira (19) com políticos que já foram candidatos à Presidência em outras eleições, entre eles o ex-ministro da Fazenda e ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo Henrique Meirelles (União Brasil) e o ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania).

O encontro é mais um movimento da campanha do ex-presidente em busca da vitória no primeiro turno. Meirelles foi presidente do Banco Central e Cristovam comandou o Ministério da Educação no governo Lula —Cristovam foi demitido pelo petista por telefone ainda no início do primeiro mandato.

Como a Folha mostrou, a equipe do ex-presidente prepara uma ofensiva pelo voto útil e contra a abstenção, além de apostar na mobilização da militância nas ruas, para gerar uma onda decisiva na reta final da campanha presidencial.

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (PL), principal adversário de Lula na corrida eleitoral, contraria sua desvantagem para o petista nas principais pesquisas de intenção de voto, repete ataques aos institutos e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e diz que será reeleito na votação do próximo dia 2.

O ex-presidente Lula e seu vice, o ex-governador Geraldo Alckmin, se reuniram com políticos que já foram candidatos à Presidência nesta segunda-feira (19), em São Paulo
O ex-presidente Lula e seu vice, o ex-governador Geraldo Alckmin, se reuniram com políticos que já foram candidatos à Presidência nesta segunda-feira (19), em São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress

No domingo (18), tanto em entrevista ao SBT como a apoiadores em Londres, Bolsonaro voltou a falar que vencerá o pleito em primeiro turno e, mais uma vez sem provas, atacou o sistema eleitoral. "Se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE", disse.

No sábado (17), durante visita a Pernambuco, o presidente afirmou em duas ocasiões –em Caruaru e em Garanhuns– que será vencedor em primeiro turno.

"Eu digo, se eu tiver menos de 60% dos votos, algo de anormal aconteceu no TSE, tendo em vista obviamente o 'datapovo', que você mede pela quantidade de pessoas que não só vão nos meus eventos, bem como nos recepcionam ao longo do percurso até chegar ao local do evento", disse Bolsonaro ao SBT.

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente, disse ao portal Metrópoles que, após o TSE aceitar sugestões feitas pelos militares, a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas neste ano passou a ser "quase zero". "Vamos para as eleições com a convicção de que vencerá quem tiver mais votos", afirmou.

Nesta segunda, pesquisa do Ipec apontou Lula com 47% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro (margem de erro de dois pontos). Quando considerados os votos válidos, excluindo brancos ou nulos, o petista atingiu 52% —um candidato precisa superar os 50% nessa métrica para vencer em primeiro turno.

No evento dos ex-presidenciáveis com Lula, Cristovam disse que o petista é o melhor candidato para presidir o Brasil hoje e que é preciso liquidar a fatura do pleito no primeiro turno. Ele afirmou ainda que seria uma irresponsabilidade deixar a eleição para o segundo turno.

Cristovam foi demitido por telefone por Lula em janeiro de 2004, quando ocupava o Ministério da Educação.

Cristovam, que estava em Lisboa no dia da exoneração, teria dito a interlocutores que se sentia "frustraliviado" com a decisão. Lula, por sua vez, teria dito que o então senador seria um bom formulador, mas um mau gestor.

Meirelles afirmou que participa do encontro "com tranquilidade e confiança", porque sabe o "que funciona e o que pode funcionar no Brasil". Ele citou dados da gestão de Lula, quando atuou como presidente do Banco Central, e disse se pautar pelos fatos.

"Mostrar quem faz, quem realiza. Essa história de só falatório pode impressionar muita gente, mas acredito em fatos. Olho e vejo o resultado em seu governo e isso nos faz estar aqui", disse.

Em seu discurso, Lula voltou a dizer que está trabalhando para tentar ganhar as eleições ainda no primeiro turno. "Cada gesto meu é na perspectiva de mostrar à sociedade que quero ganhar", disse.

O ex-presidente também afirmou que se trata de uma eleição atípica, porque todos os candidatos, inclusive o presidente Jair Bolsonaro, estão "numa briga mais forte contra mim do que contra o próprio presidente".

"Eles não querem que eu ganhe no primeiro turno", disse Lula.

Aos ex-presidenciáveis, o petista afirmou que a reunião desta segunda "não é um compromisso com o Lula". "O que vocês estão fazendo é assumir um compromisso de que este país vai voltar a funcionar democraticamente", disse.

Ao lado de Meirelles, o ex-presidente voltou a criticar o teto de gastos, sem citar o mecanismo.

Meirelles foi responsável por criar o teto de gastos quando era ministro da Fazenda há cinco anos no governo Michel Temer (MDB).

Ao falar sobre a necessidade de investir na educação, o petista afirmou que "esse dinheiro não pode ser considerado gasto, tem que ser investimento".

"É uma disputa que a gente tem que fazer com aqueles que acreditam que tudo que você investe para o povo é gasto e tudo o que você coloca ao empresário é investimento", disse Lula.

Além de Meirelles e Cristovam, estiveram presentes nomes como o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice de Lula, a ex-ministra Marina Silva (Rede), que declarou apoio a Lula na semana passada, o líder sem-teto Guilherme Boulos (PSOL), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), a deputada estadual Luciana Genro (PSOL) e João Goulart Filho (PC do B).

Goulart Filho conta ter sido convidado para o encontro pelo ex-ministro Aloizio Mercadante no sábado (17). A equipe de Haddad também foi comunicada nessa data.

Organizador do encontro, Mercadante justificou a ausência da ex-presidente Dilma Rousseff alegando que ali estavam "divergentes" do PT que apoiam Lula no primeiro turno. Ele explicou a participação de Haddad pelo fato de ter substituído Lula nas eleições de 2018.

"A Dilma foi isto, a mensagem era unir os divergentes que já disputaram com Lula para derrotar o antagônico", disse.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a campanha de Lula irá atrás de outras figuras até o dia 2 de outubro para compor essa aliança. "Essa fotografia está incompleta, ainda tem pessoas que vamos procurar. Essa foto é ampla e sintetiza o momento", disse.

Mercadante afirmou também que "a porta continua aberta para todos que quiserem vir".

Ex-presidenciáveis que integram partidos da aliança em torno de Lula Heloísa Helena (Rede) e Eduardo Jorge (PV) não compareceram. A ex-senadora já declarou seu apoio neste ano ao pedetista Ciro Gomes.

Já Eduardo Jorge é eleitor declarado de Simone Tebet (MDB) e já se manifestou publicamente contra a participação de seu partido na federação que reúne também PT e PC do B. Ele diz não ter sido procurado para participar do encontro.

"[O comando da campanha de Lula] não procurou. Nem eu procuro eles. A última vez que eu e o Lula nos falamos foi no século passado", disse Eduardo Jorge.

Haddad disse que a reunião serve para "celebrar as diversidades e nossas diferenças". "Porque o que existe no lado oposto é o autoritarismo que quer anular as nossas diferenças."

Alckmin afirmou que os presentes no encontro tinham projetos diferentes para o Brasil em suas candidaturas, mas que sempre tiveram em comum "a pedra basilar que é o respeito à democracia e ao povo brasileiro".

"É momento de grande alegria reencontrar aqui lideranças com espírito público que pensam de forma diferente, em muitos setores, mas estão comprometidas com a democracia brasileira", disse Alckmin.

Antes do encontro, Boulos afirmou à imprensa que, apesar de suas divergências com nomes como Meirelles e Alckmin, o que permite esse encontro é que a eleição de Lula "é a forma de preservar a democracia brasileira diante de um fascista no governo".

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