Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro trava embate com Ciro, Tebet e Soraya, e Lula é atacado por ausência em debate

Padre Kelmon (PTB) faz dobradinha com Bolsonaro e pauta aborto no encontro

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São Paulo

Em debate marcado pela ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornou alvo principal das críticas dos adversários e protagonizou embates com Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

Substituto do bolsonarista Roberto Jefferson (PTB), impedido de concorrer, Padre Kelmon (PTB) fez dobradinhas com o presidente, em meio a perguntas permeadas de críticas à esquerda sobre temas como aborto e perseguição aos cristãos na Nicarágua.

Debate entre candidatos à Presidência no SBT - Marlene Bergamo/Folhapress

O debate deste sábado (24) foi organizado em pool por SBT, CNN Brasil, O Estado de S. Paulo, Terra, Veja e as rádios Eldorado e Nova Brasil.

O púlpito reservado a Lula ficou vazio. O petista disse que não poderia comparecer porque já tinha compromissos agendados previamente e porque não haveria tempo para ele se preparar. Ele deve participar do debate da Globo na quinta-feira (29).

Enquanto seus adversários debatiam no estúdio, o ex-presidente criticava Bolsonaro em Itaquera, na zona leste de São Paulo.

"Todo dia ele fala 'eu não sou ladrão'. Ele vai ver se é ladrão ou não quando eu tomar posse e acabar com esse sigilo. Qualquer coisinha, ele faz um decreto de sigilo de 100 anos. Vou acabar no primeiro dia com isso, para [a gente] ver o que está escondido", disse.

A ausência do líder nas pesquisas foi criticada pelos demais candidatos. Bolsonaro disse que essa atitude demonstra falta de compromisso com a população, Ciro chegou a falar que o petista está de salto alto, e Tebet disse que o ex-presidente pede à população um cheque em branco —a expressão tem sido usada diante da falta de detalhes sobre o que pretende fazer se for eleito.

Sem o petista, Bolsonaro protagonizou os embates mais duros com as senadoras Tebet e Soraya. Na primeira pergunta, Tebet cobrou o presidente sobre o corte de recursos para merenda e creches, disse que mães têm de explicar a seus filhos palavras chulas que o presidente diz e indagou por que ele não dá prioridade para as crianças.

Na resposta, Bolsonaro insinuou que a emedebista dá apoio velado a Lula e disse que fala sim alguns palavrões, mas não defende ladrão.

Ele acusou tanto Tebet como Soraya de se beneficiarem com verbas das emendas de relator, o chamado orçamento secreto, gastas com pouca transparência, e disse que o Orçamento é feito a quatro mãos, com o Executivo e o Legislativo.

"Eu não sei para onde vai o dinheiro do orçamento secreto", chegou a afirmar o presidente.

Em suas interações, Soraya fez referências veladas à aquisição de leite condensado, viagra e próteses penianas pelo Exército ao atacar Bolsonaro.

"O que é o que é, não reajusta merenda escolar, mas gasta milhões com leite condensado, tira remédio da farmácia popular, mas mantém a compra de viagra, não compra vacina para Covid, mas distribui prótese peniana para os amigos?", afirmou a senadora.

Ela disse ainda que o presidente "não deveria cutucar onça com sua vara curta".

Com alta rejeição entre as mulheres e desgastado após ataque à jornalista Vera Magalhães no debate anterior, o presidente focou suas críticas às duas senadoras principalmente na verba que elas usaram das emendas de relator.

Bolsonaro, que encerrou sua participação lembrando o reajuste do Auxílio Brasil e a redução do preço da gasolina, também ouviu críticas de Ciro.

O pedetista, empatado tecnicamente em terceiro lugar com Tebet, distribuiu os ataques entre Lula e Bolsonaro de forma equivalente e citou mais de uma vez investigações contra os filhos dos dois líderes nas pesquisas.

Ele pregou contra o apelo ao voto útil feito pela campanha petista para terminar a eleição no primeiro turno e falou em "morte do jornalismo" e "falta de respeito" quando foi indagado sobre eventual apoio do PDT a Lula no segundo turno.

Com falas contra a esquerda, Padre Kelmon (PTB) atuou em linha com Bolsonaro e teve discussão ríspida com Tebet em questão sobre o aborto.

A senadora chegou a falar que jamais se confessaria com o padre. "O feminismo no Brasil precisa ser entendido não como uma pauta de esquerda, mas como uma pauta cristã", afirmou ela.

Bolsonaro voltou a criticar no debate o STF (Supremo Tribunal Federal) e disse que mudará a corte com as duas nomeações que poderá fazer em um eventual segundo mandato.

"Com quatro pessoas lá dentro pensando em prol do Brasil, o Supremo mudará a forma de agir. Não mais mudará a vida de todos nós", afirmou, referindo-se à duas nomeações que já fez —os ministros André Mendonça e Nunes Marques.

Antes do evento, ele comentou decisão de Mendonça retirando a censura sobre reportagem do UOL a respeito de compra de imóveis pelo clã Bolsonaro com dinheiro vivo.

"Viram a decisão do Supremo sobre imóveis ontem? Vamos cumprir a decisão do Supremo. O UOL fez um trabalho sujo. Desde 1990 levantou os imóveis que familiares meus compraram, não levantou o que venderam", disse o presidente. "Continua valendo decisão do Supremo de ontem, mas quem persistir nos ataques de imóveis meu é da minha família vai responder civil e criminalmente."

Candidato do Novo, Luiz Felipe d'Ávila endossou críticas ao Judiciário, falando em "enquadrar o Supremo".

Questionado sobre os episódios de violência por motivação política registrados na campanha, o presidente respondeu com ironia, pedindo que a torcida do Palmeiras não brigasse, senão ele seria responsabilizado.

Em julho, um policial penal federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).

Em setembro, um homem que defendia o ex-presidente Lula foi morto por um apoiador de Bolsonaro após uma discussão em Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).

Em sua resposta, Bolsonaro citou o caso de um homem com a tatuagem de Lula no braço preso no mês passado após atirar e matar a ex-mulher e um filho.

Ausência de Lula

Após condicionar sua participação em debates à formação de um pool de emissoras, Lula deverá comparecer a somente dois deles no primeiro turno das eleições.

O ex-presidente teve seu desempenho criticado no debate organizado pelo pool da TV Bandeirantes, Folha, UOL e TV Cultura, em agosto, principalmente por não responder diretamente a questionamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre corrupção.

A presidente do PT e coordenadora da campanha de Lula, Gleisi Hoffmann, disse que o petista irá ao debate da TV Globo, o último antes do primeiro turno, na próxima quinta-feira (29).

Na noite desta sexta (23), Lula disse que o SBT demorou para formar um pool para o debate, o que a emissora nega.

"Eu tenho profundo prazer de participar de debate. É bom participar. Lamentavelmente o debate do SBT demorou um pouco. A minha coordenação mandou uma carta para fazer um pool e, quando veio a resposta, eu já tinha agenda no Rio de Janeiro e em São Paulo", afirmou o petista.

Ele que não poderia desmarcar os atos que já tinha confirmado presença. "Porque faltando uma semana para as eleições, você desmarcar compromissos avisados para o povo é muito delicado."

Em nota, o SBT afirma que, diferentemente do que foi declarado pelo candidato, a formação do pool ocorreu antes da sugestão feita pela campanha do petista.

"Em 22 de março, os quatro grupos enviaram formalmente email às campanhas presidenciais, comunicando a realização do debate e informando as datas escolhidas para os confrontos do primeiro e do segundo turno", diz um trecho do texto.

Ainda segundo a nota divulgada pela emissora, "em 28 do mesmo mês, foi realizada a primeira reunião presencial com representantes dos candidatos convidados. A campanha de Lula esteve presente em tal reunião, assim como em todas as demais reuniões convocadas para discutir os detalhes e regras do debate".

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