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Empresária sugere que agro 'demita sem dó' funcionários que votam em Lula

Ministério Público do Trabalho na Bahia instaura inquérito para investigar possível ocorrência de assédio eleitoral

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Salvador

Uma empresária do setor agropecuário com atuação na cidade de Luís Eduardo Magalhães, oeste da Bahia, conclamou em uma rede social que os demais empresários demitissem funcionários que fossem votar no candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Eu queria falar algo para os nossos agricultores: façam um levantamento, quem vai votar no Lula e demitam. Demitam sem dó porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia também", afirmou no vídeo a empresária Roseli Vitória Martelli D'Agostini Lins.

Empresária Roseli D'Agostini Lins pede a agricultores que demitam "sem dó" pessoas que votarem em Lula - Reprodução

Na sequência, ela critica empresários do agronegócio que votam em Lula para presidente e também os que vão votar no ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) para governador.

"Nós, agricultores, temos que tomar posição. E não venham me dizer 'ah, não, tem que [respeitar] o direito'. Não é direito, é questão de sobrevivência."

A empresária é sócia da Imbuia Agropecuária LTDA, empreendimento que atua na produção de soja em Luís Eduardo Magalhães e associada da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia).

Nas redes sociais, se apresenta como "aposentada, conservadora, avó de dois meninos maravilhosos, entusiasta pelos rumos que o Brasil está trilhando" e costuma fazer postagens favoráveis ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

Após a divulgação do vídeo, o Ministério Público do Trabalho na Bahia instaurou um inquérito civil para investigar a possível ocorrência de assédio eleitoral em declarações da empresária.

A Promotoria vai notificar a autora das declarações para prestar esclarecimentos sobre o caso, que pode resultar em medidas extrajudiciais e judiciais.

Na apreciação prévia do MPT, a procuradora responsável pelo caso destacou que as declarações "extrapolam o âmbito da opinião, ultrapassando o limite da liberdade de expressão" por reprimir o exercício da liberdade de voto de empregados do setor do agronegócio.

"A liberdade de expressão não se preserva diante de cidadãos constrangidos ao ‘voto de cabresto’, característico do período de coronelismo", informou a procuradora.

A Folha tentou contato com a empresa Imbuia Agropecuária, mas o telefone que consta nos registros da empresa não existe mais. A reportagem ainda tentou contato com Roseli por meio da Aiba, entidade a qual é associada, mas também não obteve sucesso.

Em nota, o Ministério Público do Trabalho destacou que expediu uma recomendação em 26 de agosto destacando a ilegalidade do assédio eleitoral e orientando que empregadores respeitem os limites legais e não adotem atitudes que possam se caracterizar como constrangimento ou orientação aos trabalhadores em relação às eleições.

Com economia ancorada no agronegócio, Luís Eduardo Magalhães foi uma das quatro cidades da Bahia onde o presidente Jair Bolsonaro teve mais votos que Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018.

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