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Prefeitos evitam polarização para emplacar familiares em eleição a deputado

Cerca de nove gestores colocaram parentes na disputa eleitoral em campanhas que evitam a polarização nacional

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São Paulo, Osasco, Embu das Artes e São Bernardo do Campo | Agência Mural

Militantes lotavam a rua Marechal Deodoro, no centro de São Bernardo do Campo, em 17 de setembro em mais um ato da campanha eleitoral deste ano. Em meio às bandeiras de vários candidatos a deputado, alguns simpatizantes tentavam desvincular a disputa do cenário nacional.

"Para presidente vote em quem quiser, mas para deputado estadual é Carla Morando (PSDB)", disse um cabo-eleitoral sobre a parlamentar ser esposa do prefeito da cidade, Orlando Morando (PSDB).

Esse é o clima das campanhas em várias cidades da Grande São Paulo. Candidatos a deputado estadual e federal têm buscado evitar, no 1º turno, se vincular a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), para tentar garantir votos neste final de campanha.

Carla Morando é a candidata de Orlando Morando em São Bernardo do Campo (Divulgação)
Carla Morando é a candidata de Orlando Morando em São Bernardo do Campo - Comunicação Carla Morando/Divulgação

O tom tem sido adotado especialmente por prefeitos que buscam emplacar políticos que são mais que aliados: são esposas, irmãos, filhos e cunhados. Há ao menos oito gestores com parentes na campanha, fora outros ex-mandatários que também tentam emplacar familiares para manter o sobrenome vivo nos parlamentos.

Há algumas exceções. Em Barueri, o prefeito Rubens Furlan (PSDB) declarou apoio a Lula, se tornando o primeiro prefeito do PSDB na Grande São Paulo a sinalizar esse voto ainda no primeiro turno.

Após o anúncio, a página da deputada federal Bruna Furlan (PSDB) recebeu comentários críticos à posição. Um deles dizia que Furlan havia declarado apoio ao "comunismo". "Será que ela comunga das mesmas ideias do pai?". Bruna disputa o cargo de deputada estadual, após três mandatos na Câmara Federal. Bruna não comentou o apoio.

Outros prefeitos têm evitado tratar do tema e oficialmente dizem apoiar Simone Tebet (MDB), candidata que corre por fora e aparece em quarto lugar nas principais pesquisas de intenção de voto.

"Sou partidário e sigo a orientação do meu partido em apoio à candidatura de Simone Tebet", afirma o candidato a deputado estadual Gerson Pessoa (PSDB), cunhado do prefeito de Osasco Rogério Lins (Podemos).

Foi uma resposta como de candidatas do ABC paulista. Além de Carla Morando, esposa do prefeito de São Bernardo, há também a candidatura de Ana Carolina Serra (Cidadania), esposa do prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), que tenta pela primeira vez um mandato na Assembleia.

"Levamos o nome [da Simone Tebet] e apresentamos a nossa candidata aos eleitores. Simone esteve em agosto visitando Santo André, quando realizamos uma caminhada", afirmou a candidata.

"Ela é mulher, ficha limpa e representa uma alternativa", disse Carla. "Temos evitado entrar nessa polarização política, que é prejudicial. Não queremos nem direita nem esquerda. O Brasil precisa andar para frente," ressaltou, citando o mantra de Rodrigo Garcia (PSDB).

Apesar disso, há poucas menções à Tebet durante as caminhadas pelas cidades. Neste fim de semana, Orlando Morando (PSDB) discursou citando candidatos de deputado estadual a governador, mas sem citar a presidência.

O ABC também tem o candidato Thiago Auricchio (PL), filho do prefeito de São Caetano do Sul, Auricchio Júnior. Procurado, Thiago não respondeu sobre o apoio. Ao nível estadual, apoiam Rodrigo Garcia, apesar de o PL fazer parte da coligação de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Bolsonaro.

No caso de Danilo Ramos (PL), filho do prefeito de Vargem Grande Paulista Josué Ramos, a campanha a federal usa o nome de Bolsonaro em carreatas.

Para o cientista político, Marcos Agostinho, que acompanha as eleições na Grande São Paulo, a postura de gestores que evitam mencionar o apoio agora é também resultado de terem ficado ‘órfãos’ da chamada terceira via, que começou a ser construída no estado, mas não se concretizou no nome do ex-governador João Dória (PSDB).

"Aqueles que construíram sua carreira política e se mantém pelo bolsonarismo vão usar o Bolsonaro. Mas aqueles que pretendem pular fora do barco assim que essa onda passar vão continuar omitindo", afirma. "No caso dos candidatos de São Paulo, muitos deles do Podemos, do PSDB e mesmo alguns do MDB, não tem necessidade de tanto se mostrar junto do Lula ou mesmo do Bolsonaro", ressalta.

Sobre famílias

Não há irregularidade em lançar um candidato familiar, desde que a estrutura do poder público não seja utilizada para fazer a campanha.

Agostinho cita que a escolha busca manter o poder dentro do mesmo grupo, além de ser uma estratégia do próprio marketing, pois em tese é mais simples para chegar nas pessoas com um nome conhecido. Porém, essas postulações afetam a igualdade na disputa eleitoral.

"Há uma concentração de poder que não necessariamente vai trazer consequências para o resultado da gestão, mas do ponto de vista formal da democracia e da igualdade do exercício do poder, ele fica comprometido", afirma.

Candidatos apoiados pelos gestores costumam ter uma presença mais forte da propaganda espalhada pelas cidades, dificultando a renovação.

"Sou contra [candidaturas de familiares] porque acaba prejudicando outros candidatos que realmente tem interesse em trazer benefícios para cidade", opina a faturista Luana Rocha, 27, moradora de Embu das Artes, na Grande São Paulo.

Por lá, o prefeito Ney Santos (Republicanos) tenta emplacar a irmã Ely Santos (Republicanos) deputada federal. Antes da campanha na cidade, cartazes da pré-candidatura já estavam espalhados pelo município.

Na semana passada, a campanha foi marcada por um desabamento que matou nove pessoas na cidade vizinha de Itapecerica da Serra, e feriu a candidata. A campanha não retornou até a publicação deste texto.

Ney chegou a ser afastado da prefeitura este ano pela Justiça Eleitoral, por irregularidades na campanha de 2020. No entanto, o STF (Supremo Tribunal Federal) o reconduziu ao cargo.

Outro lado

Sobre a participação dos prefeitos nas campanhas, Carla Morando, Ana Carolina Serra e Gerson Pessoa afirmam serem candidatas pelo trabalho realizado. Ana diz que decidiu ser candidata pelo "pedido da população que aprovou os programas sociais implantados em Santo André", diz, afirmando que busca atuar pela economia das cidades da região.

Ela enfatizou que tem papel ativo no grupo político. "Eu e o Paulo Serra sempre trabalhamos juntos em prol da nossa cidade, e a população aprovou esse modelo de Gestão Pública, na reeleição 77% dos andreenses disseram sim ao nosso projeto".

Carla admite que tem Orlando como "modelo de gestor". "Nas horas vagas e aos finais de semana, ele tem ajudado na coordenação da minha campanha e atuado para levar o nosso projeto para as ruas", ressaltou.

Gerson enfatizou que a ideia é ampliar a presença da região de Osasco na Assembleia. Hoje a cidade tem apenas o deputado estadual Emidio de Souza (PT). "Sem representatividade, nós perdemos a oportunidade de canalizar muitos recursos para a região. Quero fortalecer politicamente o eixo Oeste, para que os municípios sejam mais assistidos pelos governos estadual e federal".

"O Rogério vem fazendo um excelente trabalho na prefeitura. Ele é um parceiro de todas as horas, somos amigos há mais de 30 anos. O apoio de Rogério Lins é fundamental."

Katia Flora , Matheus Oliveira , Paulo Talarico e Luita Duarte
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