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Eleições 2022

Bolsonarismo dá demonstração de vigor e coloca Lula na defensiva

Presidente se sai melhor do que o previsto e vê aliados nos estados e no Congresso triunfarem

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São Paulo

Que Jair Bolsonaro (PL) não iria embora pacificamente, até as emas do Alvorada já sabiam. Mas as pesquisas não permitiam ensejar que o presidente teria instrumentos para tentar se manter na cadeira no segundo turno com a demonstração de fôlego do bolsonarismo dada neste domingo (2).

Foi um movimento de chegada, que dará um gás renovado aos apoiadores do presidente para a rodada final, daqui a quatro semanas, e coloca toda a ordenação tática do petismo em alerta. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá de sair da zona de conforto: jogar pedindo amor ao eleitor parece insuficiente.

O presidente Jair Bolsonaro ao chegar para votar em uma escola da Vila Militar do Rio
O presidente Jair Bolsonaro ao chegar para votar em uma escola da Vila Militar do Rio - Eduardo Anizelli/Folhapress

O que se viu foi uma onda bolsonarista de grandes proporções, não comparável à de quatro anos atrás, mas ainda assim surpreendente para quem registra a rejeição que tem o presidente.

Isso porque o desempenho de Bolsonaro e, principalmente, de alguns de seus candidatos principais ao Congresso e nos estados, indica uma resiliência do jogo que permitiu Bolsonaro sair do pântano político opaco em que vivia para a Presidência, em 2018.

Havia, claro, algumas barbadas. Era evidente que Damares Alves (Republicanos) ou Flávia Arruda (PL) iriam conquistar a vaga de senadora pelo Distrito Federal. Mas é significativo que ao fim tenha sido a ex-ministra da Mulher, lançada à disputa pela primeira-dama Michelle à revelia do presidente, a vencedora.

Ela encarna o que há de mais ideológico, por assim dizer, do bolsonarismo, a começar pelo reacionarismo religioso. O mesmo se via, ao longo da apuração, no desempenho de candidatos a deputado como Carla Zambelli (SP), Eduardo Bolsonaro (SP), Bia Kicis (DF) e Eduardo Pazuello (RJ), todos do PL presidencial.

Não houve a enxurrada maciça de votos de 2018, na vaga conservadora que varreu o país da terra arrasada da Lava Jato. O filho presidencial Eduardo, por exemplo, foi de 1,8 milhão para 740 mil votos. Se alguém esperava uma onda contrária de esquerda, ficou pelo caminho.

Nos estados, o destaque fica com Tarcísio de Freitas (Republicanos), que chega forte, quiçá favorito, para a disputa com Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Coveiro do PSDB, que tinha na manutenção do governo sua última esperança de poder real, o ex-ministro se cacifa imediatamente no cenário nacional.

Tarcísio pode ter surfado o bolsonarismo e seguirá fazendo isso dado o desempenho excelente neste primeiro turno. Basta ver a votação para senador de Marcos Pontes (Republicanos), o astronauta que embarcou na Soiuz russa numa empreitada paga por Lula como presidente.

Mas o espírito de sua campanha é se amparar no voto do ex-chefe e fugir de sua rejeição, enquanto o comando político todo é do grupo de Gilberto Kassab (PSD), o padrinho mais influente e menos visível de Tarcísio.

O mesmo não se pode dizer do Rio, onde Cláudio Castro (PL) se reelegeu. De obscuro vice de um governador que perdeu a cadeira, mas havia sido eleito na onda bolsonarista de 2018, Wilson Witzel (PSC), ele se firmou no cargo com o apoio do Planalto.

Para a esquerda do Rio, que sempre teve dificuldades de sair do Leblon, é mais uma derrota humilhante, como quando o mesmo Marcelo Freixo (PSB) perdeu para Marcelo Crivella (Republicanos) em 2016.

Romeu Zema (Novo) foi reeleito em Minas, também num diapasão de bolsonarismo, mas tendo se afastado do presidente ao longo do tempo —em 2018, ele foi catapultado ao poder regional. Já no Rio Grande do Sul, tanto Onyx Lorenzoni à frente no primeiro turno quanto a eleição do vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) ao Senado dão uma mostra de vitalidade bolsonarista.

Assim, o bolsonarismo mostra vigor no Sudeste, celeiro de 43% do eleitorado. O presidente tem muito a enfrentar para bater Lula no segundo turno, mas sua saída ante um adversário que namorava o salto alto da vitória na primeira rodada lhe dá um fôlego renovado.

A curiosidade agora será ver onde fica o discurso de contestação do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas promovido ao longo dos anos pelo presidente. Hoje, elas lhe sorriram.

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