Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro chega à reta final acuado por caso Jefferson, salário mínimo e inserções de rádio

Após iniciar 2º turno em alta, presidente enfrentou desgastes que afetaram campanha

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Brasília

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) chega ao domingo decisivo em um clima muito diferente de como começou o segundo turno, quando o mandatário estava na ofensiva, comemorando o desempenho na primeira rodada de votação, atacando os institutos de pesquisa e agindo rápido para costurar apoios.

A reta final, por outro lado, mostrou um presidente acuado, precisando responder sobre o plano para desindexar o salário mínimo da inflação e sobre a resistência à prisão com tiros e lançamento de granadas contra policiais do seu aliado Roberto Jefferson (PTB).

A campanha ainda se dividiu sobre a estratégia de acusar sem provas que as inserções de rádio e televisão estavam sendo boicotadas por emissoras do Norte e Nordeste. Sinalizou assim que estava pavimentado o caminho para um terceiro turno, em caso de derrota, com questionamentos na Justiça Eleitoral.

Jair Bolsonaro se encontra com o ex-deputado Roberto Jefferson, em imagem divulgada em setembro de 2021 pelo PTB. O presidente é um homem branco, que veste um terno escuro. Ele aperta a mão de Jefferson
Bolsonaro disse que não havia fotos dele com o ex-deputado Roberto Jefferson, que reagiu à ordem de prisão com tiros e lançamento de granadas contra policiais - Reprodução

O último ato de campanha de Bolsonaro foi reservado neste sábado (29) para Minas Gerais. O mandatário participou de uma carreata em Belo Horizonte, acompanhado do campeão de votos para a Câmara dos Deputados, Nikolas Ferreira (PL-MG), e do senador eleito Cleitinho (PSC-MG).

Também estava presente o governador reeleito Romeu Zema (Novo), a grande aposta da campanha para tentar reverter a vantagem petista no estado. Questionado pela Folha sobre se Zema falhou em atrair prefeitos para sua candidatura, o presidente respondeu: "Zema é meu irmão".

Bolsonaro terminou o primeiro turno atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas saiu comemorando o seu resultado. A diferença entre os dois ficou inferior ao que vinha sendo apontado pelas principais pesquisas, o que deu munição ao mandatário para acirrar os ataques.

O chefe do Executivo usou isso à exaustão ao longo do segundo turno para tentar tirar a credibilidade dos levantamentos.

Em paralelo, seus aliados abriram outras frentes, reunindo assinaturas para uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os institutos.

A campanha de Bolsonaro foi ágil ao costurar apoios de governadores logo na primeira semana do segundo turno —além dos reeleitos Romeu Zema (Novo-MG), Cláudio Castro (PL-RJ) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), o de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), declarou apoio incondicional.

Bolsonaro também bateu recordes de audiência em suas participações em podcasts na internet, sinalizando grande engajamento de sua campanha nas redes sociais.

Na reta final do segundo turno, o presidente enfrentou uma sequência de desgastes.

Na quarta-feira (19), a Folha publicou plano do ministro Paulo Guedes (Economia) que prevê, entre outros pontos, a desindexação do salário mínimo e das aposentadorias, que não seriam mais corrigidas levando-se em conta a inflação do ano anterior.

O mandatário foi cobrado por eleitores e viu aliados de Lula explorarem o assunto. Bolsonaro buscou várias vezes afirmar que se tratava de "fake news" da esquerda, reconheceu que seu ministro da Economia cogita a desindexação do mínimo, mas chegou a prometer reajuste real para o próximo ano.

No último final de semana, a campanha se viu novamente em crise após o ex-deputado Roberto Jefferson ter atacado a ministra do STF Cármen Lúcia e ser alvo de mandado de prisão.

Jefferson resistiu à prisão, atirou com tiros de fuzil e lançou granadas contra a Polícia Federal, ferindo dois agentes. Bolsonaro buscou se dissociar do aliado, afirmou que nem fotos tinha com o presidente do PTB sendo desmentido poucas horas depois, com imagens sendo divulgadas. Bolsonaro ainda foi criticado por ter enviado ao local o ministro da Justiça, Anderson Torres.

Em uma ação possivelmente destinada para desviar o foco e que dividiu a campanha, o ministro Fábio Faria (Comunicações) e o integrante da campanha Fábio Wajngarten acusaram com base em um relatório frágil que havia um boicote às inserções de rádio da campanha de Bolsonaro nas regiões Norte e Nordeste.

A acusação foi prontamente rejeitada pelo TSE, que apontou possível cometimento de crime eleitoral e mandou o caso para ser avaliado dentro do inquérito das milícias digitais. E a convocação às pressas de uma entrevista coletiva para divulgar a acusação dividiu a campanha de Bolsonaro.

Na quarta-feira (26), Bolsonaro fez um pronunciamento reforçando as acusações sem provas, atacando Moraes e afirmando que recorreria da decisão do TSE "às últimas consequências".

A iniciativa passou a ser vista como uma forma de pavimentar o "terceiro turno" em caso de derrota. Alguns bolsonaristas chegaram a pedir medidas extremas, como o adiamento das eleições.

A estratégia sofreu um duro golpe com o desembarque de Fábio Faria. Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha, o disse se arrepender "profundamente" da entrevista sobre as rádios e reconheceu que a falha era do partido.

Colaborou Leonardo Augusto, em Belo Horizonte

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