Índice de popularidade digital mostra correlação entre rede social e voto

Indicador apresentou quadros próximos a resultado das urnas, mas distantes na disputa ao Governo do Rio Grande Sul e à Câmara

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Rio de Janeiro

Redes sociais e voto são fatores intimamente ligados na política atual. É o que demonstra a comparação entre os resultados de primeiro turno e o desempenho dos candidatos na internet durante a campanha.

A performance de candidatos à Presidência, aos governos de sete estados e à Câmara foi medida no Índice de Popularidade Digital (IPD), calculado pela Quaest e divulgado mensalmente pela Folha.

Montagem com os dois candidatos gritando
O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputam o segundo turno - Bruno Santos e Antônio Molina/Folhapress

O indicador mostrou quadros próximos ao que as urnas revelaram. Apontou, por exemplo, maior aproximação do presidente Jair Bolsonaro (PL) do primeiro colocado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Diferentemente das pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos tradicionais como Datafolha e Ipec —que não têm como objetivo antever o resultado do pleito, mas medir como o eleitor, no momento das entrevistas, pretende agir—, o IPD foi criado para fazer esse tipo de prognóstico.

O índice, que varia de 0 a 100, é calculado desde 2018 pela empresa de consultoria por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis dos perfis de cada candidato nas redes sociais Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e nos sites Wikipedia e Google.

A ferramenta monitora seis aspectos: presença digital (perfis ativos), fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por post), mobilização (compartilhamentos), valência (proporção de reações positivas e negativas) e interesse (volume de buscas). A conta inclui também os resultados de eleições passadas, com o acompanhamento de milhares de candidaturas, e é atualizada a cada pleito.

Lula e Bolsonaro disputam, desde o início do ano, o topo do ranking de popularidade digital, alternando-se no primeiro lugar de acordo com os acontecimentos da campanha. Em 26 de setembro, data da última divulgação do índice, eles apresentavam 85,6 e 81,4, respectivamente.

Na ocasião, Simone Tebet (MDB) também já aparecia à frente de Ciro Gomes (PDT). Comparando esses resultados com o número de votos que receberam seis dias depois, a empresa de consultoria chegou a uma correlação de 99% entre o desempenho dos presidenciáveis nas redes sociais e nas urnas.

"Numa eleição em que o foco foi muita pesquisa e pouca rede social, o IPD mostra que, se olharmos para a internet com o modelo adequado, conseguimos antecipar resultados", afirma Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor de métodos quantitativos da UFMG (Universidade Federal de Minas).

O mesmo quadro se deu na maioria das corridas estaduais: em seis das sete disputas analisadas a correlação ficou acima de 82%. Ela chegou a 97% em São Paulo e Minas Gerais e a 95% no Rio de Janeiro.

Na eleição paulista, por exemplo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) já demonstrava vantagem sobre Fernando Haddad (PT) na internet desde abril, com raras ultrapassagens do petista. O governador Rodrigo Garcia (PSDB), por sua vez, distanciou-se dos dois líderes no último mês de campanha.

Na disputa fluminense, o índice apresentou uma disparada de Cláudio Castro (PL) na reta final sobre Marcelo Freixo (PSB), que acabou perdendo no primeiro turno. Em Minas Gerais, Alexandre Kalil (PSD) já se mostrava inviável contra Romeu Zema (Novo) desde junho.

O caso mais emblemático, porém, foi o da Bahia. Enquanto as principais pesquisas de intenção de voto ainda mostravam liderança de ACM Neto (União Brasil) na última semana, Jerônimo Rodrigues (PT) ultrapassava o rival nas redes —tendência que se confirmou nas urnas e levou ambos ao segundo turno.

O único estado em que o IPD ficou longe do resultado final, com uma correlação de apenas 22%, foi o Rio Grande do Sul. Eduardo Leite (PSDB) passou à frente na internet em setembro, mas terminou com 679 mil votos a menos do que Onyx Lorenzoni (PL), com quem também foi ao segundo turno.

"Foi um dos nossos erros importantes. O IPD tem desempenho pior onde a votação depende muito do interior, caso do RS", diz Nunes. "E como Leite é ex-presidenciável, as redes superestimaram sua atuação."

Na disputa pela Câmara, o indicador apontou ainda um encolhimento de partidos de direita, o que acabou não se confirmando. O PL de Bolsonaro, por exemplo, ganhou 23 cadeiras novas e se tornou a maior bancada eleita nos últimos 24 anos, com, ao todo, 99 representantes.

"No geral, não captamos o efeito do quociente eleitoral. Até mostrávamos Nikolas Ferreira [PL-MG] e Eduardo Bolsonaro [PL-SP] muito acima, mas, quando um candidato obtém 1,5 milhão de votos, puxa cinco pessoas. Como isso se traduz em cadeiras não está 100% ajustado", afirma o diretor da Quaest.

O pesquisador cita ainda dificuldades no quadro de candidatos a deputado eleitos por Acre, Bahia e Rio de Janeiro, estados com as menores correlações entre redes e voto. A hipótese dele é a de que o índice não conseguiu captar o desempenho de postulantes em lugares em que a influência das igrejas é grande.

Ainda assim, ele vê o acerto de 60% dos resultados da Câmara como alto, diante do grande volume de dados de 24 mil candidatos, da dispersão do sistema partidário e da incerteza que se tem nas disputas pelo Legislativo brasileiro.

"Foi a primeira vez em que publicamos os IPDs da disputa dos deputados, segmento no qual ninguém faz pesquisa. Em 23 de 27 estados a correlação foi acima de 60%."

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