Jornalista da Agência Pública sofre ameaças de bolsonarista após reportagem sobre crimes no Telegram

Texto revela que Jackson Villar da Silva usa grupos para insinuar a necessidade de cometer crimes diante do cenário desfavorável a Jair Bolsonaro (PL)

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São Paulo

O jornalista Thiago Domenici, diretor e editor da Agência Pública, está sofrendo ameaças após a publicação de uma reportagem de sua autoria que denuncia o uso de grupos no Telegram para a prática de crimes.

O texto analisa gravações nas quais o bolsonarista Jackson Villar da Silva propõe uma espécie de "eleição paralela", em que diz que vai provar "fraude nas urnas".

Logo do Telegram - Kirill Kudryavtsev - 18.mar.22/AFP

Após a publicação do texto, o bolsonarista passou a fazer ameaças de violência física e ofensas ao jornalista e uma ação orquestrada para derrubar os perfis da Agência Pública nas redes sociais.

"Vai ver um cara desse se encontrar comigo pessoalmente, pra ver se ele é esse cabra mesmo, mostrar pra ele como é que se dá uma pisa num cabra safado. Tava com medo, né? Vai engolir seu celular, seu vagabundo. Como tem gente sem vergonha, rapaz", disse Villar sobre Domenici.

Villar administra ao menos quatro grupos no Telegram. No total, seus grupos somam mais de 225 mil membros, segundo apuração da agência.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Villar.

Segundo a reportagem, o bolsonarista, que foi organizador de uma motociata com o presidente Jair Bolsonaro em junho de 2021, fala sobre a necessidade de cometer crimes diante do cenário desfavorável a Jair Bolsonaro (PL).

Ele fala ainda em seus grupos no Telegram sobre "quebrar esquerdistas no cacete", conclama seus seguidores a "quebrar a urna eletrônica no pau" e afirma que "cientista político tem que apanhar".⁠

A reportagem foi republicada por outros veículos de comunicação também como Uol, Carta Capital e Brasil 247.

Nas falas, Villar sugere a um bolsonarista a forma com a qual deveria lidar com quem vota em Lula: "Você tem que falar assim: ‘Os cara vão te ‘passar’ [expressão para matar], ‘os cara vão caçar todo mundo que é petista’. Você vai convencer uma alma sebosa com o medo, entendeu? Ele só respeita o cacete".

Em texto publicado em seu site, a Agência Pública afirma que os ataques contra o jornalista, representam além do risco para a segurança pessoal do profissional, um risco para o pleno exercício da liberdade de imprensa.

Ainda segundo a nota, por essa razão, a Agência Pública "está tomando as medidas pertinentes junto às autoridades públicas competentes para que investiguem a autoria e a prática de crimes, bem como para a proteção de seus profissionais".

Katia Brembatti, presidente Abraji (Associação Brasileira Jornalismo Investigativo) afirma que esse "é mais um [caso] que se soma a essa escalada de ataques e violência contra os jornalistas e que vem aumentando dia a dia".

O caso, segundo ela, é inaceitável pela violência direta contra o jornalista. "E esse caso é também emblemático porque se soma a outras que, não conseguindo contestar o conteúdo da reportagem, se voltam contra o jornalista, contra os profissionais que estão simplesmente cumprindo o seu dever de informar.

Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), afirma que a entidade repudia "de forma veemente as ameaças contra a Agência Pública e contra o repórter".

A atitude, diz, não é só uma ameaça ao repórter e ao jornalismo da Agência Pública, mas é uma ameaça a liberdade de imprensa.

"As informações publicadas na reportagem são de interesse público, expõe o submundo da campanha bolsonarista, são relevantes para o cidadão ver o que está em jogo nessa eleição, são relevantes para defesa da democracia, tem que ser defendida como matéria jornalística e as ameaças devem ser barradas", disse.

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