Ministro da Justiça manda PF investigar institutos de pesquisa

Anderson Torres diz que pedido atende representação que aponta supostas condutas que 'caracterizam a prática de crimes' por alguns institutos

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Brasília

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou nesta terça-feira (4) que encaminhou à PF (Polícia Federal) um pedido para abrir inquérito sobre os institutos de pesquisas eleitorais.

"Esse pedido atende a representação recebida pelo MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública), que apontou 'condutas que, em tese, caracterizam a prática de crimes perpetrados' por alguns institutos", disse o ministro nas redes sociais.

O advogado da Folha, Luís Francisco de Carvalho Filho, disse que não há fundamento jurídico para o inquérito contra os institutos. "Ainda não conheço detalhes, mas não há fundamento jurídico para este inquérito. É uma tentativa de intimidação bisonha. O Datafolha tem uma vocação histórica de bem informar e vai continuar a exercer seu papel."

O ministro da Justiça, Anderson Torres, no primeiro turno da eleição - Adriano Machado-2.out.22/Reuters

Desde domingo (2), ministros do governo Jair Bolsonaro (PL), aliados no Congresso e apoiadores passaram a criticar os institutos de pesquisa pela disparidade com o resultado da eleição divulgado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, pediu nesta terça aos apoiadores do presidente que façam um boicote aos institutos de pesquisa e não respondam às perguntas.

"Divulgar pesquisas como arma de manipulação do eleitor deve ser proibido. Não vamos permitir que os institutos prestem esse desserviço. Peço a todos que apoiam o presidente que NÃO respondam nenhuma pesquisa do Ipec, Datafolha e similares no 2º turno", publicou nas redes.

Na segunda (3), o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, também criticou as pesquisas. "O Ipec e o Datafolha tentaram explicar como a diferença entre 15 e 5 milhões de votos pró-Lula NÃO é erro! Conclusão: as desculpas das empresas de pesquisas 100 POR CENTO não convencem NINGUÉM!", escreveu.

Bolsonaro deverá fazer ofensiva contra institutos de pesquisas no segundo turno. No domingo (2), o Painel mostrou que era cogitado pedir a abertura de um inquérito ao Ministério da Justiça por suposta manipulação de informação.

Em meio à ofensiva bolsonarista contra os institutos de pesquisa, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) apresentou um requerimento para criação de uma CPI para investigar as pesquisas eleitorais de intenção de voto.

Segundo o documento, o objetivo é "aferir as causas das expressivas discrepâncias entre as referências prognósticas, principalmente de curtíssimo prazo, e os resultados apurados".

Nesta terça, do Val informou ter conseguido 16 das 27 assinaturas necessárias para a abertura da CPI. Questionado sobre o requerimento, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que todo pedido será avaliado.

"Será dado o tratamento devido a todo pedido de CPI. A avaliação dos requisitos e o encaminhamento dentro da normalidade do regimento. Não avaliei o mérito ainda, o requerimento ainda não foi formalizado com as assinaturas suficientes. Uma vez feito isso, vamos fazer, obviamente, uma avaliação", afirmou Pacheco.

Durante a sessão plenária desta terça, o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), pediu o apoio dos colegas para a abertura da CPI e sugeriu uma audiência pública para um eventual projeto de lei. O senador também criticou a campanha pelo voto útil e disse que o movimento se baseou em "pesquisas mal realizadas".

"É lógico que essa não é uma ciência exata porque a vontade do eleitor muda, mas vi aqui o senador Marcos do Val pedindo uma CPI para tratar das pesquisas. Quero dizer que assinei e peço assinatura, mas o mais importante é que a gente possa debater aqui no Senado trazendo os institutos de pesquisa", disse.

"Que seja por uma mera audiência pública, mas que a gente possa entender e tentar, talvez em um projeto de lei, estabelecer parâmetros mínimos. Temos que ouvir os institutos, até para que a gente possa separar o joio do trigo. Porque ficou ruim pra eles", completou.

Segundo o Datafolha, Lula tinha 50% dos votos válidos, ante 36% de Bolsonaro —a margem de erro era de dois pontos para mais ou menos. De acordo com o Ipec, o petista alcançava 51%, ante 37% do atual presidente, com mesma margem. Finalizada a apuração nacional, o TSE anunciou 48,43% para Lula e 43,20% para Bolsonaro.

Após ser alvo de críticas de Bolsonaro e aliados, o Datafolha afirmou que as pesquisas eleitorais servem para mostrar tendências, e não o resultado final de uma eleição.

"Pesquisa não é prognóstico. Cada pesquisa é a fotografia de um determinado momento. O resultado final é só na urna", disse Luciana Chong, diretora do Datafolha, que refuta a tese de ter acontecido algum tipo de erro metodológico.

"As pesquisas eleitorais medem a intenção de voto no momento em que são feitas. Quando feitas continuamente ao longo do processo eleitoral, são capazes de apontar tendências, mas não são prognósticos capazes de prever o número exato de votos que cada candidato terá", afirmou a direção do Ipec em nota.

Segundo Chong, é bastante provável que tenha emergido nas horas finais um voto útil pró-Bolsonaro oriundo dos eleitores que antes declaravam preferência por Simone Tebet e, principalmente, por Ciro Gomes. O temor de que Lula fosse eleito no 1º turno pode, segundo ela, ter contribuído para esse comportamento.

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