Os policiais federais recebidos a tiros e granadas por Roberto Jefferson no domingo (23) relataram em depoimento os momentos de tensão que passaram ao cumprir ordem judicial para prender o político.
O trabalho da PF foi dificultado por um portão colocado nos últimos meses pelo presidente do PTB na frente da residência e pelo fato de Jefferson ter se posicionado em um local estratégico —em cima de um muro de contenção no alto de um barranco, o que impediu ver que ele portava um fuzil na hora do ataque.
Um dos policiais que participaram da ação, o delegado Marcelo Villela, disse no relato não restar dúvida de que Jefferson esperava a chegada dos agentes e que ele agiu premeditadamente com intenção de matar.
O ex-deputado federal, um político de extrema direita, foi indiciado nesta segunda-feira (24) pela Polícia Federal sob suspeita de quatro tentativas de homicídio qualificado por motivo torpe.
A viatura da PF chegou por volta das 12h na cidade de Comendador Levy Gasparian (RJ), a cerca de 140 km da capital. Os relatos descrevem minutos tensos vividos pela equipe, da pane em uma das armas dos policiais e a dificuldade de abrigo contra os mais de 50 tiros de fuzil disparados pelo político até as três granadas de efeito moral e os estilhaços que provocaram ferimentos no rosto e na cabeça dos agentes.
"Todos os policiais estavam portando pistola Glock, nenhum estava com fuzil [arma equivalente à utilizada por Jefferson], gerando uma desproporção evidente entre o poderio de fogo do agressor e o dos policiais. Sem contar na posição mais elevada do agressor, o que lhe dava uma vantagem ainda maior", afirmou o delegado Bernardo Adame ao indiciar o ex-deputado por quatro tentativas de homicídio.
Segundo os depoimentos, foi um cunhado de Jefferson quem chegou e socorreu os agentes feridos.
O delegado Villela, um dos atingidos pelos estilhaços das granadas lançadas por Jefferson, relatou em depoimento que, quando a equipe chegou ao local, deparou-se com um portão instalado na entrada e, enquanto acionavam o interfone, um dos agentes pulou a estrutura que estava trancada com cadeado.
Pouco depois, relatou o delegado, Jefferson apareceu numa sacada, onde ficava "protegido por uma lateral e até a altura do abdômen". A agente Karina Lino, que também ficou ferida, detalhou que, assim que surgiu na sacada, o ex-deputado avisou que não seria preso nem seguiria com os policiais.
Segundo a policial, ao ser informado por Villela sobre a necessidade de cumprir o mandado expedido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, Jefferson mostrou uma granada, tirou o pino e disse que iria jogá-la. "Vocês estão juntinhos aí, vão se machucar", teria dito ele antes de jogar o artefato contra os policiais.
Nesse momento, relatou Lino, os três policiais correram para a parte de trás da viatura e ouviram o som da explosão. Em seguida, outras duas granadas foram lançadas, e então começaram os tiros de fuzil.
Enquanto tentavam se abrigar, Villela e Lino, segundo os relatos, perceberam que tinham sido atingidos e que estavam sangrando. A policial teve de emprestar sua arma para o escrivão Daniel Costa, já que a dele não funcionava. Costa e Villela foram os responsáveis por revidar os disparos após Lino ser atingida.
"Após a primeira explosão, não obstante os policiais buscarem abrigo utilizando a viatura, a agente Karina [Lino] foi atingida por estilhaços na região da bacia, da testa, da perna e dos braços, e Marcelo [Villela] por estilhaços na cabeça. Os policiais federais Marcelo e Daniel [Costa] dispararam em direção ao agressor para tentar cessar a agressão injusta", relatou a PF ao indiciar Jefferson.
A agente relatou ter sentido algo na cabeça enquanto se protegia dos disparos. Em seguida, de acordo com Villela, ela começou a perder os sentidos. "Em determinado momento, Karina gritou, dizendo que havia sido alvejada, ocasião na qual o declarante começou a atirar em direção de Roberto Jefferson, o que permitiu que Daniel fosse em direção a Karina para socorrê-la", afirmou Villela.
Em seguida, o delegado também foi atingido por estilhaços e se juntou à agente e ao escrivão na tentativa de se esconder dos disparos. "Em determinado momento, o declarante sentiu o sangue descer de sua cabeça. A quantidade de sangue era muito grande, atrapalhando a visão do olho direito", disse o delegado.
Um homem ajudou os policiais e os levou a um pronto-socorro. Segundo a agente, o veículo seria de uma pessoa que se identificou como cunhado de Jefferson. Em um primeiro momento, eles foram para uma unidade de saúde em Levy Gasparian, mas foi necessária a ida para um hospital na cidade de Três Rios.
Eles seguiram para o hospital em uma ambulância do Samu e, no trajeto, conseguiram perceber os locais dos ferimentos causados pelo ataque do ex-deputado.
Lino foi atingida na parte acima do olho e na região da cintura, onde foram encontrados fragmentos possivelmente de estilhaços das granadas. A agente tomou pontos no rosto e na coxa. O delegado, por sua vez, descobriu ter alguns fragmentos no crânio.
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