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Provável apoio de Tebet a Lula abre disputa no MDB

Ala liderada por prefeito de São Paulo pressiona partido por apoio contido de Tebet ao PT para evitar danos políticos locais

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Brasília e São Paulo

A sinalização enviada pela senadora Simone Tebet (MDB) —terceira colocada na eleição presidencial— de que pretende declarar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu uma disputa dentro do MDB entre alas próximas e refratárias ao petista.

Como Tebet já informou aliados que sua decisão é irreversível, emedebistas que são adversários do PT em suas regiões passaram a pressionar para que o apoio ocorra de forma contida e em caráter pessoal —para evitar que o gesto seja lido como uma aliança nacional com os petistas.

Simone Tebet ao votar, no domingo (2) - @Simone Tebet no Facebook

Por outro lado, um grupo formado por políticos do MDB no Nordeste e pelo governador reeleito do Pará, Helder Barbalho, atuam para que o partido declare apoio a Lula.

"Eu defendo que o MDB se posicione. O MDB não tem o direto de ficar omisso numa eleição nesse patamar. Ficar neutro nesse caso é se omitir", afirma Helder.

"Um partido da história do MDB, que tem valores como tem o MDB, que tem no nome Movimento Democrático Brasileiro, deve ser protagonista nessa eleição." Embora não diga de forma aberta que gostaria de ver o MDB endossando Lula, ele diz que não ficaria satisfeito caso o partido apoie o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A tendência hoje no MDB é liberar os filiados para que endossem quem preferirem. À Folha o presidente nacional do partido, deputado Baleia Rossi (SP), disse que gostaria de realizar uma reunião com correligionários sobre o assunto até esta quarta (5). Enquanto isso, ele tem consultado individualmente lideranças da sigla.

A ala bolsonarista do MDB diz que, se Simone confirmar a posição de apoio a Lula na corrida presidencial, a senadora deverá se desgastar com o partido.

"Não acredito que ela [Simone] vá fazer isso. Se ela declarar voto em Lula, ela vai sozinha, sem o apoio do partido", disse o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), que comanda a bancada ruralista no Congresso.

"Se a Simone for com o Lula, ela vai perder apoio dentro do partido, que agora vê a Simone como um excelente quadro pelo desempenho dela na eleição", afirmou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que também é do setor ruralista da sigla.

Aliados de Bolsonaro tentam ainda emplacar o apoio formal do MDB à reeleição do presidente, mas, diante da força da ala lulista no Nordeste, eles acreditam que a legenda deverá mesmo ficar neutra no segundo turno.

Para senadores próximos, Simone declarou que não há chance de se alinhar a Bolsonaro. Ela assumiu uma posição de enfrentamento ao governo na CPI da Pandemia e tem criticado o uso de emendas parlamentares para ampliar o apoio de Bolsonaro no Congresso.

Em outra frente, o ex-presidente Michel Temer, um dos quadros mais tradicionais do MDB, sinaliza resistência a apoiar Lula e indica disposição de endossar Bolsonaro caso o atual presidente se comprometa a respeitar a Constituição e a manter reformas e medidas construídas em seu governo (2015-2018).

Segundo seu entorno, o emedebista deseja preservar seu legado para o país —e vê proximidade maior de Bolsonaro com suas bandeiras.

Temer, de acordo com sua assessoria, está em viagem ao exterior e deve se posicionar até o fim desta semana. Ele tem expressado, no entanto, contrariedade com o espaço que a campanha de Lula tem dado a Dilma Rousseff (PT), de quem foi vice-presidente.

Os dois romperam em meio ao processo de impeachment contra ela, em uma relação que azedou ainda mais com as críticas que a petista faz ao ex-aliado até hoje. Além de golpista, Dilma se refere a Temer como traidor.

Em abril deste ano, a coluna Painel publicou que o ex-mandatário tendia a apoiar Bolsonaro em um segundo turno contra Lula. A justificativa seria a promessa de Lula durante a campanha de desfazer algumas das principais medidas aprovadas no governo do emedebista, como o teto de gastos e a reforma trabalhista.

A eleição presidencial será decidida no próximo dia 30, em segundo turno entre Lula e Bolsonaro. O petista terminou o primeiro turno neste domingo (2) com quase 6 milhões de votos à frente do atual mandatário —48,4% dos votos contra 43,2%.

Apesar de estar atrás, o resultado das eleições deu força a Bolsonaro, que conseguiu eleger os principais aliados e uma expressiva bancada no Congresso Nacional.

O terceiro lugar conquistado por Tebet, que teve 4,16% dos votos válidos, fez de seu apoio um ativo cobiçado por Lula.

Em sua primeira fala após o resultado, a senadora antecipou que não se omitiria no segundo turno e sinalizou engrossar as filas do petista.

"Não esperem de mim omissão. Tomem logo [presidentes dos partidos da coligação] a decisão, porque a minha já está tomada. Eu tenho lado e vou me pronunciar no momento certo. Eu só espero que vocês entendam que esse não é qualquer momento do Brasil", afirmou a senadora em pronunciamento na sede do comitê de campanha.

Aliados mais próximos de Tebet afirmam que a posição dela será firme, deixando claro o apoio a Lula e, em particular, destacando a necessidade de vencer Bolsonaro.

Além da vontade da senadora, os partidos também iniciaram uma negociação nos bastidores sobre eventuais condições para o apoio. Aliados de Tebet rechaçam que cargos estejam sendo discutidos, embora petistas afirmem que estão trabalhando com esse cenário.

Alguns emedebistas, no entanto, iniciaram uma articulação nos bastidores para que o apoio a Tebet não seja explícito. Querem evitar um evento no qual Lula e Tebet se deem as mãos em sinal de união. Pressionam ainda para que a opinião da senadora seja exposta num manifesto, que estabeleça uma espécie de apoio com ressalvas e contenha críticas ao PT.

Um dos emedebistas incomodados com o provável apoio de Tebet a Lula é o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). A avaliação é que o apoio pode enfraquecer o MDB localmente, uma vez que ele é adversário dos petistas.

O prefeito já tem indicado internamente que vai defender o apoio do MDB paulista a Tarcísio Freitas (Republicanos), o candidato de Bolsonaro para o governo de São Paulo. O ex-presidente Temer também tem propensão a endossar Tarcísio.

Além do MDB, os outros partidos da coligação vão se reunir para decidir uma posição a respeito do segundo turno. A tendência é que os tucanos fiquem neutros, apesar da manifestação de voto de membros históricos do partido a Lula.

Por outro lado, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), já declarou voto em Bolsonaro e em Tarcísio de Freitas.

O Cidadania, por sua vez, deve seguir com Lula no segundo turno. Esse foi o encaminhamento dado pelo presidente Roberto Freire, que será analisado na reunião virtual dos membros da Executiva. Chegou-se a circular que se trataria de um "apoio crítico"

"Não tem apoio crítico, não. O que eu defendo é que a gente apoie Lula pura e simplesmente", afirmou Freire, que acrescenta já ter comunicado os dirigentes dos outros partidos da coligação e a própria Simone Tebet sobre a posição.

"Já comuniquei a ela e o que posso dizer é que ela não ficou nada chateada", completou.

O PSDB se reunirá nesta terça (4), e a posição deve ser a de liberar os filiados da sigla a apoiarem o candidato que preferirem.

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