Roberto Jefferson se entrega após reagir à prisão, ferir policiais e expor Bolsonaro

Aliado do presidente, político de extrema direita atirou em agentes da Polícia Federal

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Brasília e Rio de Janeiro

O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) foi preso pela Polícia Federal na noite deste domingo (23) e levado para a superintendência da corporação no Rio de Janeiro. Ele saiu de casa, no interior do estado, em um carro descaracterizado por volta das 19h. Chegou à PF pouco depois das 21h.

Ele, que cumpria prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, foi alvo da ação policial por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Movimentação da polícia antes de Roberto Jefferson se entregar, em Comendador Levy Gasparian, Rio de Janeiro - Ricardo Moraes/Reuters

Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-deputado federal reagiu à ordem judicial na sua casa, em Levy Gasparian (RJ), lançando granadas e atirando, e feriu dois policiais.

A decisão de prisão foi dada porque o ex-deputado descumpriu medidas impostas pelo STF em uma ação penal em que ele é réu por sob acusação de calúnia, incitação ao crime de dano contra patrimônio público e homofobia. Ele estava proibido de dar entrevistas, receber visitar e usar redes sociais.

Na sexta (21), o político de extrema direita atacou a ministra Cármen Lúcia, do STF. Ele a comparou a "prostitutas", "arrombadas" e "vagabundas" em um vídeo publicado por sua filha Cristiane Brasil (PTB).

Os policiais feridos foram levados ao hospital; eles foram liberados em seguida e estão bem. De acordo com as investigações, mais de 20 tiros de fuzil foram disparados.

Horas depois da chegada da PF à casa de Jefferson, ele seguia sem se entregar. Moraes determinou, então, no início da noite de domingo, nova prisão contra Jefferson.

O ministro ameaçou incriminar o titular da Justiça, Anderson Torres, que era esperado na casa do político. Por ordem de Jair Bolsonaro, ele estava a caminho do Rio.

Moraes afirmou na decisão que a intervenção de qualquer autoridade para retardar ou para que a ordem não fosse cumprida seria considerada delito de prevaricação.

Bolsonaro, primeiramente, divulgou uma nota nas redes sociais em que afirmou repudiar as "falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF". No texto, criticou também o STF pela ‘existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP [Ministério Público]’".

Depois, Bolsonaro tentou descolar sua imagem à do aliado e disse não ter nem foto com ele. Porém, há diversas imagens dos dois juntos, como os registros publicados pelo PTB em abril e setembro de 2020. Nas redes sociais de Jefferson, também existem postagens de encontros.

O ex-deputado de extrema direita foi recebido algumas vezes no Palácio do Planalto. Na agenda oficial, há registro de duas reuniões entre eles durante o atual mandato.

A última delas foi em 3 agosto de 2021. No dia 13 daquele mês, o ex-deputado seria preso, no âmbito do inquérito que investiga organização criminosa digital voltada a atacar as instituições.

Após a prisão deste domingo, Bolsonaro chamou o aliado de criminoso. "O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio", afirmou.

Ex-deputado Roberto Jefferson e o presidente Jair Bolsonaro (PL) juntos, em imagem divulgada em setembro de 2021 pelo PTB, partido de Jefferson.
Ex-deputado Roberto Jefferson e o presidente Jair Bolsonaro (PL) juntos, em imagem divulgada em setembro de 2021 pelo PTB, partido de Jefferson. - Reprodução

Em frente à casa de Jefferson, cerca de 100 apoiadores do presidente aguardavam a saída do ex-deputado. Os gritos eram direcionados ao ministro Alexandre de Moraes. Frases como "viemos cobrar", "Alexandre imoral não vai nos calar" e "liberdade".

Jefferson se entregou por volta das 19h. Antes disso, havia afirmado que não iria deixar o local, em vídeos publicado nas redes sociais.

"Eu não vou me entregar. Eu não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente, eu vou enfrentá-los", disse.

Em outro vídeo, o para-brisa do veículo da PF aparece estilhaçado. "Mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em mim, eu atirei neles. Estou dentro de casa, mas eles estão me cercando. Vai piorar, vai piorar muito. Mas eu não me entrego", afirmou.

O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio foi destacado para apoiar a operação da PF. Veículos da PRF (Polícia Rodoviária Federal) também foram deslocados para a área.

A polícia fez um cerco em volta da residência de Jefferson, mas permitiu a passagem de pessoas próximas ao ex-deputado, como o candidato do PTB à Presidência da República, Padre Kelmon, e seu vice, o pastor Luiz Cláudio Galmonal.

Kelmon, que foi à casa de Jefferson para dar apoio espiritual, segundo o PTB, entregou um fuzil do ex-deputado à polícia.

Na decisão em que ordenou a prisão preventiva de Jefferson, Moraes afirmou que o ex-deputado descumpriu as medidas impostas pelo STF.

Além de transformar a prisão domiciliar com tornozeleira em preventiva, o ministro determinou a realização de busca e apreensão na residência de Jefferson, que tem o costume de se exibir nas redes sociais portando armas, inclusive de uso restrito.

Em junho de 2022, o STF decidiu, por nove votos a dois, tornar o ex-deputado réu sob acusação de calúnia, incitação ao crime de dano contra patrimônio público e homofobia.

Os ministros decidiram abrir a ação contra o ex-deputado a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), devido a uma série de entrevistas nas quais Jefferson atacou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os senadores da CPI da Covid, o Supremo e as pessoas LGBTQIA+.

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