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Tiroteio em Paraisópolis interrompe agenda de Tarcísio; um homem morreu

Não há feridos na comitiva do candidato; homem morto tinha registro sob suspeita de roubo, diz polícia

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São Paulo e Brasília

Um tiroteio em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, interrompeu um compromisso da campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na manhã desta segunda-feira (17).

Tarcísio e a sua equipe visitavam um projeto social que inaugurou um polo universitário. Não houve feridos entre os integrantes da comitiva.

Um homem de 38 anos morreu no tiroteio –segundo a polícia, ele tinha registro sob suspeita de roubo.

Pouco após o ocorrido, o candidato ao Governo de São Paulo publicou no Twitter: "fomos atacados por criminosos". "Nossa equipe de segurança foi reforçada rapidamente com atuação brilhante da Polícia Militar de São Paulo."

Tarcísio de Freitas (Republicanos) senta no chão ao ouvir tiros em Paraisópolis
Tarcísio de Freitas (Republicanos) senta no chão ao ouvir tiros em Paraisópolis - Reprodução/GloboNews

O episódio repercutiu entre bolsonaristas, que repudiaram o suposto atentado e relacionaram a esquerda ao tráfico.

Durante a tarde, porém, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, afirmou que era prematuro afirmar que houve um atentado e que a investigação segue andamento.

Ele disse ainda que as câmeras nos uniformes dos policiais, medida que Tarcísio critica, serão usadas na investigação.

Já no fim da tarde, Tarcísio disse não acreditar que tenha sido alvo de um atentado, descartou ligação com a política e afirmou que pode ter havido uma intimidação do crime.

"Foi um ato de intimidação, um recado claro do crime organizado como ‘a gente não quer você aqui dentro’. É uma questão territorial e não tem nada a ver com a política", disse ele.

Para Tarcísio, não houve coincidência. "Os bandidos notaram a nossa presença ali desde cedo. Quatro motocicletas filmaram a nossa equipe, fizeram perguntas e voltaram armados. Não foi algo corriqueiro, não. Foi um tiroteio enquanto estávamos lá", disse.

"Em nenhum momento eu disse que era atentado, primeira coisa. Segunda, esse tipo de troca de tiro ali não é comum. O crime organizado aqui em São Paulo é hegemônico em determinadas regiões, então não é comum você ter troca de tiro", completou.

Tarcísio, que tem o apoio do governador Rodrigo Garcia (PSDB) no segundo turno, tem um discurso linha dura na segurança pública, inclusive afirmando que os paulistas não se sentem seguros.

Veículo atingido durante tiroteio em Paraisópolis nesta segunda (17) - Oslaim Brito/Futura Press/Folhapress

Segundo o fundador do polo universitário, Wallace Rodrigues, o prédio onde o candidato estava não foi atingido por tiros. "Ouvimos disparos do lado de fora do prédio. Foram disparos para o alto de opositores políticos do Tarcísio", disse Rodrigues.

Os tiros foram ouvidos no momento em que o fundador iria fazer um discurso. Tarcísio foi orientado por seguranças a deixar o local, desceu os três lances de escada do prédio, entrou na van e foi embora. O veículo, que é blindado, deixou o local em alta velocidade.

O agente licenciado da Polícia Federal e que acompanha Tarcísio, Danilo Campetti, pediu que todos se deitassem no chão.

De acordo com o secretário de Segurança, as investigações da Polícia Civil não podem ser influenciadas pela publicação do candidato afirmando que foi o alvo da ação.

Campos afirmou que nenhuma hipótese está descartada, mas que "o fato tende para outra linha de investigação", que não um atentado.

Ele declarou que não é possível saber ainda o motivo do tiroteio e que o primeiro confronto se deu com policiais à paisana que faziam a segurança do candidato.

O secretário disse não saber se o tiro que matou o homem partiu dos policiais que faziam a segurança de Tarcísio ou dos policiais militares que chegaram rapidamente ao local. Tarcísio afirmou crer que o tiro partiu da PM.

Em nota, a Secretaria da Segurança informou que um segundo suspeito foi identificado, que as armas dos policiais militares envolvidos serão apreendidas para perícia e que o caso é investigado pelo DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

"Um suspeito foi baleado após entrar em confronto com policiais militares nesta segunda-feira, na região de Paraisópolis. Ele foi socorrido ao Hospital Campo Limpo, mas não resistiu. Um segundo suspeito foi identificado e está foragido."

Segundo Campos, os tiros foram disparados a cerca de 100 metros do local onde estava a campanha. Ele informou que a entrada da polícia na comunidade causou um desconforto e um "ruído", o que teria desencadeado o tiroteio.

Líderes comunitários de Paraisópolis afirmaram que só souberam da visita do candidato uma hora antes da sua chegada.

O coronel Ronaldo Miguel Vieira, comandante-geral da Polícia Militar, detalhou que o tiroteio teve a participação de ao menos oito indivíduos que rondavam o local em motos. Dois deles estavam com armas longas. Uma van escolar foi atingida pelos disparos, mas, segundo o coronel, ninguém foi ferido.

"A Polícia Militar agiu rápido e garantiu a segurança de todos. Determinei a imediata investigação do ocorrido", declarou o governador em nota.

Em entrevista à CNN, Rodrigo afirmou que Paraisópolis é "uma comunidade de bem, onde todos andam livremente". O governador disse não ser possível denominar o que houve como atentado e, sim, como uma "tentativa de crime".

A declaração do secretário de que as câmeras dos policiais serão usadas para esclarecer o caso contraria o discurso de Tarcísio. Apesar dos números positivos de queda de letalidade, ele já afirmou que as câmeras inibem os policiais.

Chegou a dizer que, se eleito, retiraria o equipamento "com certeza", mas depois voltou atrás e afirmou que irá ouvir o comando da polícia e especialistas.

"Como eu falei, toda a política pública será reavaliada. Tenho uma posição crítica às câmeras por uma série de razões, mas, como já disse, vou rediscutir as políticas públicas se for eleito", repetiu nesta segunda.

Adversário de Tarcísio, Fernando Haddad (PT) ligou para o rival para falar sobre o episódio.

Haddad participava de uma caminhada em São Mateus, zona leste, quando foi avisado pela imprensa da troca de tiros. Sem detalhes do ocorrido, ele disse apenas repudiar "toda e qualquer forma de violência".

À noite, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o petista afirmou que o bolsonarismo está fazendo uso oportunista do episódio.

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) levou o tiroteio ao ar na sua propaganda de TV na noite de segunda-feira. A peça lembrou que Bolsonaro foi esfaqueado durante a campanha presidencial de 2018.

Antes disso, Tarcísio afirmou aos jornalistas que não pretende explorar o episódio. Ele não quis comentar declaração de aliados que associaram o tiroteio a um atentado protagonizado pelo PT.

O candidato afirmou que a campanha "vai seguir normalmente", inclusive com visitas a comunidades, e que não iria se intimidar. "Tem áreas de São Paulo dominadas pelo crime. As pessoas vivem com medo", disse.

Pela manhã, Bolsonaro havia comentado o caso. Ele disse não ter informações sobre a origem da violência, mas relembrou os tiros disparados contra uma igreja em que a primeira-dama Michelle Bolsonaro estaria e acrescentou que "isto está acontecendo e a gente lamenta".

"Tudo é preliminar ainda, eu não quero me antecipar, se foi uma ação contra a equipe dele, se foi uma ação isolada, se algum conflito já estava havendo por haver na região", completou.

Enquanto adversários de Tarcísio viram uma tentativa de cortina de fumaça ou de exploração política do caso, bolsonaristas prestaram solidariedade.

Filho de Bolsonaro, o senador Flávio (PL-RJ) relacionou o episódio à facada de 2018. O deputado Coronel Tadeu (PL-SP) cobrou investigação sobre supostos mandantes do que chamou de crime político.

"Só Lula e o PT conseguem entrar numa comunidade dominada pelo tráfico e serem recebidos sem nenhum tipo de problema", afirmou o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), em referência à recente visita do ex-presidente ao Complexo do Alemão, no Rio.

"A pergunta que fica é: por que a direita, que é contra o tráfico de drogas, não pode entrar em comunidade do PCC e o Lula pode entrar no Alemão, comandado pelo Comando Vermelho", tuitou a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

No final de semana circulou nas redes sociais um vídeo no qual o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirma que alguém estaria sendo ameaçado e, por isso, não compareceria aos debates. Tarcísio faltou a um debate na sexta (14).

A peça, no entanto, é de 2018 e não cita o nome de Tarcísio. Heleno se referia a Bolsonaro, que concorria à Presidência da República contra Haddad.

"O [não] comparecimento ao debate no qual muita gente vinculado ao medo de sair e debater com Haddad é porque está realmente ameaçado. É um atentado terrorista onde tem uma organização criminosa, que não vou citar o nome, envolvida. Isso é comprovado por mensagens, escutas telefônicas", disse Heleno.

A Folha mostrou que Tarcísio desistiu de participar de debates e entrevistas durante o segundo turno. Na avaliação da campanha de Tarcísio, os debates e as sabatinas terão menor força na hora de virar votos e, nesta reta final, o candidato deverá investir em comícios e caminhadas na capital e no interior paulista.

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