Datafolha: Maioria é contra atos golpistas e defende punição

Levantamento mostra que maior parte da população não apoia mobilização em frente de quartéis e bloqueios de rodovias

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São Paulo

Pesquisa Datafolha aponta que três quartos (75%) dos brasileiros se dizem contrários aos atos antidemocráticos que vêm sendo realizados pelo país contra o resultado da eleição, que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em disputa com o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

Com um índice mais baixo, a maioria (56%) também considera que deve haver punição às pessoas que estão pedindo um golpe militar nesses protestos.

Realizado na segunda (19) e na terça (20), o levantamento foi feito presencialmente e tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O instituto ouviu 2.026 pessoas em 126 municípios.

Pessoas de costas com bandeiras do Brasil amarradas nas costas em frente a quartel do Exército
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente ao quartel do Comando Militar do Sudeste, no bairro do Ibirapuera em São Paulo - Mathilde Missioneiro - 3.nov.2022/Folhapress

O Datafolha perguntou aos entrevistados se eles eram a favor ou contra os protestos realizados por apoiadores de Bolsonaro em frente de quartéis e bloqueios de rodovias em que exigem uma intervenção militar contra o resultado do pleito: 75% disseram ser contrários aos atos, e 21%, favoráveis.

Esses números são bastante distintos, se considerado o voto declarado no segundo turno. Entre aqueles que dizem ter votado em Bolsonaro, 50% são contra os atos, enquanto entre os eleitores de Lula o índice chega a 96%, e a 90% entre aqueles que anularam ou votaram em branco.

Lula foi eleito com 50,9% dos votos válidos, frente aos 49,1% recebidos por Bolsonaro.

Considerando a amostra total, 56% responderam que deve haver punição às pessoas que estão pedindo um golpe militar nesses protestos, porque consideram que elas precisam respeitar a Constituição e o resultado da eleição. Enquanto 40% avaliam que elas não devem ser punidas, porque têm o direito de se manifestar contra a democracia.

Entre eleitores de Bolsonaro, menos de um terço é favorável a uma punição (29%) e 67% são contra. Os que defendem que sejam punidas são ampla maioria entre eleitores de Lula (81%) e também majoritários, ainda que em percentual menor, entre os que votaram em branco ou nulo (58%).

Na região Centro-Oeste e Norte, há mais apoio aos protestos: 29%. Enquanto no Nordeste, apenas 14% se disseram favoráveis. Os contrários são 65% e 83%, respectivamente.

Quanto à punição, a diferença entre regiões se mantém. Entre os moradores do Nordeste , os que acham que aqueles que pedem golpe devem ser punidos chega ao maior patamar, com 69% de apoio

No Centro-Oeste e Norte, o percentual fica em 45% e chega a 54% entre os respondentes da região Sul.

Dos entrevistados católicos, 80% são contrários aos atos, entre os evangélicos, 65%. Os índices caem para ambos na questão quanto a se deve ou não haver responsabilização por defesa de intervenção militar, mas a diferença de posicionamento se mantém: 60% dos católicos são favoráveis a punição, e 45% dos evangélicos.

Por faixa etária não houve variação significativa quanto à primeira pergunta —as diferenças ficaram dentro da margem de erro de cinco pontos percentuais. Já na questão sobre punição, entre aqueles com 60 anos ou mais, 59% defendem que haja punição. A faixa com menor índice nesse aspecto foi a dos que têm de 25 a 34 anos, na qual 50% disseram o mesmo.

Os contrários aos atos entre mulheres (78%) ficam um pouco acima daqueles que dizem o mesmo entre os homens (73%).

Na faixa de renda mais baixa, de quem recebe até dois salários mínimos, 81% são contrários aos protestos e 63% defendem que quem pede golpe seja punido. Entre quem ganha até dez salários (a margem de erro nesta faixa é de 14 pontos), 51% não apoiam os protestos e 33% consideram necessária punição.

Ao longo de todo o seu mandato, Bolsonaro manteve um discurso de questionamento das urnas eletrônicas, colocando sob suspeição a confiabilidade da Justiça Eleitoral. Teorias conspiratórias e mentiras alegando fraude no pleito deste ano foram amplamente divulgadas pelas redes sociais após o primeiro turno.

Assim que terminou o segundo turno, no domingo de 30 de outubro, o discurso predominante em grupos bolsonaristas era de que o pleito tinha sido fraudado.

Na mesma noite, alguns bloqueios de rodovias já começaram a ser vistos pelo país. No dia seguinte à eleição, já havia 321 pontos de bloqueios em vias de 25 estados e no Distrito Federal.

O número de pistas bloqueadas foi diminuindo ao longo dos dias, mas de modo lento, apesar de determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, referendada pelo plenário da corte, de que todas as vias deveriam ser desobstruídas.

Diferentes vídeos que circularam nas redes mostraram integrantes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) agindo de maneira leniente com as manifestações antidemocráticas.

Além dos atos em rodovias, nos diferentes estados, apoiadores também se dirigiram para frente de quartéis, onde parte está acampada. Listas com os endereços começaram a circularam intensamente em grupos de conversa no dia seguinte à derrota de Bolsonaro nas urnas.

Desde que os atos começaram, houve uma escalada da violência, incluindo agressões, sabotagem, saques, sequestro e tentativa de homicídio, como mostrou reportagem da Folha.

A tensão e a violência tiveram um pico em Brasília no dia em que Lula foi diplomado em cerimônia no TSE, em 12 de dezembro. Apoiadores de Bolsonaro tentaram invadir o prédio da Polícia Federal e após serem repelidos pela polícia, foram para outras vias da cidade e atearam fogo em ônibus e em carros.

Na semana passada, em 15 de dezembro, a Polícia Federal cumpriu 81 mandados de busca e apreensão contra envolvidos em manifestações antidemocráticas, também por determinação de Moraes, no âmbito do inquérito que apura os atos antidemocráticos relacionados ao feriado de 7 de Setembro.

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