Atos golpistas reuniram ex-BBB, políticos, influenciadores e servidores

Alexandre de Moraes, CGU e Ministério da Justiça trabalham com identificação de participantes em vandalismo

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Brasília

Entre os milhares de golpistas que participaram dos atos de vandalismo em Brasília neste domingo (8), ganharam destaque nas redes sociais políticos e influenciadores bolsonaristas, servidores públicos, um esportista e um ex-BBB.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), pediu à PF (Polícia Federal) que obtenha todas as imagens de câmeras da capital que possam auxiliar no reconhecimento facial dos vândalos.

Já a CGU (Controladoria-Geral da União) orientou todos os órgãos públicos a instaurar processos administrativos para apurar a participação de servidores públicos nos atos e pediu que eles "sejam punidos exemplarmente ".

Prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, danificado após ato de golpistas neste domingo (8) - Amanda Perobelli/Reuters

Também foi criado um movimento nas redes sociais para identificar autores de ataques golpistas, com o surgimento de perfis propondo ações colaborativas e pedindo informações sobre manifestantes.

Além disso, os Ministérios Públicos do Pará e do Distrito Federal e próprio Ministério da Justiça criaram canais de denúncia para identificar pessoas que participaram dos atos.

Confira alguns dos nomes ligados aos atos golpistas de domingo (8).

Karol Eller, influenciadora e ex-servidora da EBC

A influenciadora bolsonarista fez transmissões ao vivo em suas redes sociais dos atos golpistas e insuflou participantes.

Ela ganhou notoriedade entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o canal dela no YouTube. Depois, foi contratada pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que gere as emissoras públicas de rádio e de televisão.

Karol, que é próxima à família Bolsonaro, foi tema do noticiário em 2019, quando foi agredida após uma discussão com um frequentador do quiosque Tia Augusta, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Segundo a versão do agressor e de duas testemunhas, Karol empunhava a pistola da namorada, que é policial civil, minutos antes de ser agredida.

Nesta segunda-feira (9), a EBC anunciou que exonerou a funcionária.

Nas redes sociais, ela disse que é contra "qualquer tipo de vandalismo nas manifestações". "Estão tentando associar minha imagem à depredação de hoje ocorrida na manifestação, mas quem me segue sabe, sempre fui contra a qualquer tipo de vandalismo nas manifestações e sempre me posicionei somente a favor de atos pacíficos e democráticos", escreveu.

Silvia Waiãpi, deputada eleita pelo PL-AP

Durante a tarde da invasão, Waiapi postou um vídeo em suas redes sociais —depois, apagou o material— filmado de cima do teto do Congresso, com uma voz feminina narrando, dizendo que o povo tomou o poder e que o dia "vai ficar para a história".

"Tomada de poder do povo brasileiro insatisfeito com o governo vermelho", escreveu na legenda da postagem. Ela também publicou críticas às manchetes de jornais que chamavam o grupo de invasores de terroristas ou radicais. Posteriormente, ela apagou as postagens.

A deputada eleita também é alvo do Ministério Público, que pede a cassação de seu mandato por suposto desvio de verbas do fundo eleitoral. Segundo a procuradoria do Amapá, ela teria usado dinheiro público para pagar por um procedimento de harmonização facial.

Procurada pela Folha, Waiãpi não respondeu.

Randolfe Rodrigues, que é o líder do governo no Congresso, disse que irá denunciar à Comissão de Ética responsável os parlamentares que tiverem participado dos atos, inclusive Waiãpi.

Também deputado federal eleito, Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) afirmou que, assim que ambos assumirem o mandato —o que vai ocorrer no dia 1º de fevereiro—, entrará com uma representação contra Waiãpi no Conselho de Ética da Câmara.

Gilbert Klier, tenista

O tenista brasileiro Gilbert Klier publicou no domingo uma selfie sorrindo durante a manifestação golpista. Ele é brasiliense e está suspenso do esporte por ter sido pego no exame antidoping.

Depois, ele fez uma nova publicação, pediu desculpas às pessoas que entenderam que ele apoiava o ato golpista e afirmou que não imaginava que haveria depredação.

Léo Índio, sobrinho de Bolsonaro

Leonardo Rodrigues de Jesus, sobrinho do ex-presidente e conhecido como Leo Índio, postou imagens nas suas redes sociais de sua participação nos atos golpistas. Numa delas, ele escreveu: "Focarão no vandalismo certamente. Mas sabemos a verdade. Olhos vermelhos = gás lacrimogêneo."

Léo é um dos investigados no inquérito aberto pela PGR (Procuradoria-Geral da República) para apurar a organização e financiamento das manifestações de 7 de Setembro e os ataques contra o STF. Ele entrou na mira da investigação após compartilhar em suas redes sociais uma campanha de arrecadação de dinheiro para financiar as manifestações.

Ele também foi empregado, em 2019, no gabinete do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), então vice-líder do governo. Tratava-se do segundo maior cargo disponível na estrutura do gabinete, com um salário de R$ 22,9 mil.

Além disso, é considerado uma pessoa de confiança do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e já trabalhou para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), quando o filho mais velho do presidente era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Procurado pela Folha, ele não respondeu.

Depois dos episódios de violência, Leo Índio publicou em suas redes sociais um texto para repudiar os atos de vandalismo. Culpou ainda "alguns infiltrados e outros baderneiros".

"Jamais compactuarei com atos violentos, pois não há razão para agir com truculência em meio a um ato pacífico, de pessoas que apenas queriam expressar o seu descontentamento com o atual governo", publicou.

Aline Bastos, presidente do PL em Montes Claros (MG)

Uma das participantes do protesto que culminou na invasão do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto foi a suplente de deputado federal Aline Bastos (PL-MG).

Ela é a presidente do diretório do PL em Montes Claros, maior cidade do norte de Minas Gerais. "Nós não aceitamos ser governados por um ladrão que foi 'descondenado' para voltar ao poder com a ajuda de uma corte que infelizmente tá do lado errado da história", diz ela em vídeo compartilhado nas redes sociais.

Durante a campanha eleitoral, Aline participou de uma motociata em Montes Claros com o ex-presidente Bolsonaro.

Procurada, ela não respondeu aos questionamentos feitos pela Folha.

Adriano Luiz Ramos de Castro, ex-BBB

Castro, que é artista plástico, ficou conhecido por participar em 2002 da primeira edição do programa Big Brother Brasil, da TV Globo. Ele também marcou presença nos atos e fez transmissões ao vivo de sua participação.

Outros conteúdos que exaltaram manifestações golpistas foram publicados em seu canal do YouTube, no qual fala sobre política e exalta Bolsonaro. "Bora galera, bora patriotas, é selva", disse em um deles, quando passava entre os manifestantes de carro.

A Folha questionou Castro, mas não houve resposta.

Wagner Fisher, diretor do Ministério do Meio Ambiente

O diretor de Espécies do Ministério do Meio Ambiente, Wagner Augusto Fisher, fez postagens de apoio aos manifestantes golpistas e contra Lula.

Servidores do ministério afirmaram, sob condição de anonimato, que Fisher é conhecido por ser abertamente apoiador de Bolsonaro e crítico de Lula.

Segundo relatos e prints obtidos pela reportagem, ele já utilizou em sua mensagem no WhatsApp a frase "eu sei o que todos fizeram na gestão passada", em referência aos ambientalistas defensores de governos anteriores.

Procurado, Fisher não respondeu.

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