Lula diz que atos golpistas foram promovidos por 'pessoas alopradas'

Presidente recebeu Lira e um grupo de parlamentares que foram entregar o aval do Congresso à intervenção no DF

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (11) que os atos golpistas de vandalismo que tomaram conta de Brasília no último domingo (8) foram promovidos por "pessoas alopradas", "com pouco senso de ridículo" e inconformadas com o resultado da eleição.

Em sua fala a parlamentares e ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no Palácio do Planalto, o petista afirmou ainda que o próprio antecessor Jair Bolsonaro (PL) age em negação quanto à sua derrota e lembrou que ele próprio, nas disputas em que perdeu, ligou para os vencedores. Lula também defendeu as urnas eletrônicas, um dos alvos preferenciais de bolsonaristas, sem provas.

"Eu penso que o que aconteceu aqui, até não gostaria de pensar em um golpe, gostaria de pensar em uma coisa menor, em um grupo de pessoas alopradas que ainda não entenderam que a eleição acabou", disse Lula.

Lula em reunião com parlamentares recebe o decreto de intervenção federal na segurança pública do DF - Gabriela Biló/Folhapress

O petista também chamou os manifestantes golpistas de "gente com pouco senso de ridículo", lembrando o fato de que chegaram a questionar na Justiça o resultado das urnas, o pedido foi negado e o partido teve de pagar uma "multa grandiosa". Lula se refere ao PL, partido de Bolsonaro, sem mencioná-lo.

"Mesmo assim, tem gente que, quando conta a primeira mentira, não consegue parar de mentir, porque é preciso justificar mentira o resto de vida e é o que está acontecendo neste país."

Após o segundo turno, a legenda deu vazão ao discurso golpista de Bolsonaro e pediu, sem apontar provas de fraude, que fossem anulados votos de 279 mil urnas eletrônicas. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, condenou o PL a pagar uma multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé.

Nesta quarta-feira (11), um grupo de deputados e senadores foi ao Palácio do Planalto para entregar a Lula o aval do Congresso Nacional ao decreto que determinou a intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal.

O decreto foi editado por Lula no domingo, quando militantes golpistas invadiram o Congresso Nacional, Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. O ato, no entanto, precisava ser aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.

Os senadores aprovaram o texto de maneira simbólica na tarde de terça (10). Apenas senadores bolsonaristas, entre eles Flávio Bolsonaro (PL-RJ), registraram voto contrário. Os deputados já haviam aprovado o projeto de decreto legislativo no dia anterior.

Lula começou sua fala destacando que a União ajuda a pagar as despesas do Distrito Federal por meio do Fundo Constitucional, já que o Governo do DF é responsável pela segurança de bens e prédios do governo federal —como as sedes dos Três Poderes, atacadas no domingo.

"O meu papel aqui é só de agradecimento aos senadores e deputados, senadoras e deputadas, pelo gesto de vocês terem aprovado a decisão que nós tomamos de intervenção na polícia do DF. Na verdade, somos nós que pagamos a polícia do DF", afirmou Lula.

Ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes observa a destruição feita pelos golpistas no prédio da Corte Suprema, junto de assessores - Rosinei Coutinho - 11.jan.23/Supremo Tribunal Federal

O caos na sede dos Três Poderes no último domingo levou Lula a decretar intervenção federal na segurança pública do DF. O episódio também levou à prisão do então comandante da PM e ao pedido de prisão de Anderson Torres, então secretário de Segurança Pública e ex-ministro de Bolsonaro.

O chefe do Executivo disse ainda nesta quarta que não gostaria de ter feito intervenção, que queria ter resolvido "na conversa", mas que não teve essa opção.

"Eu, sinceramente, não gostaria de ter feito uma intervenção. Eu gostaria de ter resolvido conversando, mas as pessoas que estavam lá não estavam dispostas sequer a conversar, porque eles faziam parte daqueles que estava praticando vandalismo no Brasil", disse.

Lula afirmou ainda que qualquer gesto antidemocrático será punido dentro da lei. "Todo mundo terá direito de se defender, à prova da inocência, mas todo mundo será punido".

Presidente da Câmara, Lira afirmou que a entrega do decreto, agora aprovado pelo Congresso, a Lula, simboliza o fim do "rito democrático legal e constitucional" de uma medida tomada para a proteção da democracia.

"A presença da Câmara [na reunião de] hoje vem para findar o ciclo dessa semana na trilogia dos poderes —Executivo, Judiciário e Legislativo—, cumprindo rito legal e processual dentro da lei, [com] o executivo fazendo imediatamente o que era necessário para aquele momento de muita angústia e de uma reflexão futura, mas sem nunca sair das nossas memórias, do risco que o Brasil correu e superou", afirmou.

Ele acrescentou ainda que o fato de o texto do decreto ter sido aprovado na Câmara já na segunda-feira (9) e de forma simbólica é uma demonstração de repúdio aos "atos praticados de vandalismo, [à] ofensa às instituições e [à] democracia brasileira".

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), iria inicialmente acompanhar o grupo, mas depois cancelou alegando estar doente. Enviou em seu lugar o vice-presidente Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o país tem espaço para todas as posições políticas, mas não para o "fascismo e o terror".

"Cada um dos terroristas, estejam eles onde estiverem, usem ou não broche parlamentar, usem ou não toga, usem ou não farda, tenham certeza que aqueles democratas do país, liderada pelo presidente Lula, reagirão para defender a nação atacada e a democracia."

Os últimos dias foram marcados por manifestações conjuntas dos chefes dos Poderes e outros entes federados, contra os atos golpistas de domingo. Na noite de segunda-feira (9), Lula recebeu governadores para uma reunião, da qual também participaram a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, o procurador-geral Augusto Aras e o próprio Lira.

Ao término da reunião, todos caminharam até o Supremo Tribunal Federal, em um sinal de solidariedade do STF.

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