'Eles querem é golpe, e golpe não vai ter', diz Lula em reunião com governadores

Presidente convocou reunião com chefes dos Executivos estaduais e de Poderes um dia após ataque de bolsonaristas

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse a governadores nesta segunda-feira (9) que os militantes golpistas que invadiram as sedes dos Três Poderes não tinham uma pauta de reivindicações e que apenas queriam um "golpe e golpe não vai ter". Depois da reunião, Lula e as autoridades caminharam pela praça dos Três Poderes até as instalações destruídas do STF (Supremo Tribunal Federal).

"O que vimos ontem foi coisa que já estava prevista. Isso tinha sido anunciado há algum tempo atrás porque pessoas que estavam nas ruas na frente de quartéis não tinham pauta de reivindicação", afirmou o presidente, na abertura de uma reunião com governadores estaduais e chefes de Poderes.

Ele acrescentou: "Eles querem é golpe, e golpe não vai ter. Eles têm que aprender que democracia é a coisa mais complicada para a gente fazer, porque exige gente suportar os outros, exige conviver com quem a gente não gosta".

Lula durante caminhada com ministros do STF nesta segunda-feira (9) - Mauro Pimentel/AFP

Lula recebeu os chefes dos Executivos estaduais para uma reunião no Palácio do Planalto, um dia após militantes golpistas apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) enfrentarem as forças de segurança e invadirem as sedes dos Três Poderes, deixando um rastro de destruição e vandalismo.

O presidente também criticou o Exército brasileiro que permitiu que os militantes bolsonaristas ocupassem as áreas perto dos quartéis, com reivindicações antidemocráticas. E acrescentou que "nenhum general se moveu para dizer que não pode acontecer isso".

Neste domingo (8), militantes golpistas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em um violento ato e ataque contra as instituições democráticas. Eles enfrentaram a Polícia Militar e furaram o cordão de isolamento, para na sequência invadir o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF.

O presidente exaltou no início da reunião que os governadores vieram prestar solidariedade, quando normalmente solicitam esses encontros para apresentar reivindicações.

Depois passou a criticar abertamente os manifestantes golpistas e disse que não houve diálogo.

"O gesto de vocês é demonstração de que aqui nesse país é possível tudo, é possível discordar, é possível fazer passeata, é possível fazer greve. A única coisa que não é possível é alguém querer acabar com a nossa incipiente democracia que já sofreu com o golpe da presidenta Dilma Rousseff", disse, em referência ao impeachment ocorrido em 2016.

O mandatário depois aproveitou para criticar as Forças Armadas, em particular o Exército. Disse que estava claro para todos que os bolsonaristas apenas tramavam o golpe e, mesmo assim, permaneceram em áreas militares por dois meses, com a complacência dos comandantes das unidades. Chegou a insinuar que o discurso golpista satisfazia os comandantes.

Disse que durante a ditadura militar pessoas eram presas e torturadas apenas por defender a queda de um governo.

"Agora as pessoas estão livremente reivindicando o golpe na frente dos quartéis. E não foi feito nada por nenhum quartel. Nenhum general se moveu para dizer não pode acontecer isso, que é proibido pedir isso", afirmou.

Disse que teve a impressão "que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando o golpe".

O presidente voltou a criticar a PM do Distrito Federal e afirmou que a corporação foi conivente com o vandalismo.

Lula optou por despachar do Palácio do Planalto nesta segunda-feira (9), mesmo com o prédio ainda destruído e passando por trabalho de limpeza e vistoria.

Depois da reunião, Lula, seus ministros e os governadores seguiram caminhando pela Praça dos Três Poderes, do Palácio do Planalto até o Supremo.

O presidente então descreveu a jornalistas, ao chegar ao STF, como "ato de fanatismo" os episódios de violência protagonizados pelos bolsonaristas e disse que o governo vai atrás para descobrir quem financiou a manifestação golpista.

"O que aconteceu aqui deve ser apenas do interesse de uma pequena minoria, de um bando de vândalos, de um bando de bandidos que fizeram isso. E vamos descobrir e mais cedo ou mais tarde a gente vai descobrir quem financiou. Tem gente financiando, tem gente que pagou para vir aqui e tem gente que fomentou", afirmou.

Participaram da reunião os governadores ou representantes dos 26 estados e do Distrito Federal, incluindo os chefes dos Executivos estaduais mais próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL).

Segundo o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), apenas não compareceram, mas enviaram representantes, os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que passou por cirurgia; o de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), que está licenciado; além de Gladson Cameli, do Acre e Mauro Mendes, do Mato Grosso.

Também participaram da reunião ministros do Supremo Tribunal Federal, entre eles a presidente da corte, a ministra Rosa Weber. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também estava presente, assim como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).

A presidente do STF, Rosa Weber, disse que a corte foi "duramente atacada" e agradeceu pela união "em torno do Brasil que todos queremos, que é um Brasil de paz, um Brasil fraterno".

"Na verdade eu estou aqui em nome do STF agradecendo a iniciativa dos governadores e das governadoras de testemunharem a unidade nacional de um Brasil que todos nós queremos no sentido da defesa da nossa democracia e do Estado democrático de Direito", disse.

A magistrada também relatou a situação da sede do tribunal.

"O nosso prédio histórico no seu interior foi praticamente destruído, em especial o nosso plenário. Esta simbologia a mim entristeceu de uma maneira enorme, mas eu quero assegurar a todos que vamos reconstruí-lo e que no dia 1º de fevereiro daremos início ao ano Judiciário como se impõe: Poder Judiciário independente e o STF como guardião da nossa Constituição."

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a democracia foi fortemente atacada por meio de seus símbolos e ressaltou a importância da união de políticos de diferentes campos no Palácio do Planalto.

"Quero ressaltar e agradecer o apoio à simbologia, a presença e a efetiva ajuda de todos os governadores do Brasil nessa união federativa de demonstrar à população brasileira que instituições não pararão", disse.

Lira ainda afirmou que assistiu ao ato golpista de sua casa em Alagoas e que a Câmara "nunca se renderá a vândalos e terroristas".

"A casa do povo está unida em defesa de medidas duras para esse pequeno grupo radical que hostilizou as instituições e tentou deixar a democracia de cócoras ontem no Brasil", completou

Helder Barbalho classificou os atos de "terrorismo" e "tentativa de golpe de Estado".

"Uma causa que nos une, a democracia. Não estamos aqui para defender ideias ou pensamentos de esquerda, de direita, mas para que acima de tudo possamos defender a democracia do país, para que possamos defender as instituições do país".

Aliado de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas afirmou que a democracia sairá mais forte e será reconstruída, após os ataques dos militantes golpistas bolsonaristas. No entanto, por outro lado, pediu "gestos" dos outros Poderes e entes federados.

"Estou muito feliz de estar participando dessa reunião e enaltecer a capacidade de diálogo. Peço a Deus que nos proporcione sabedoria para que a gente promova a pacificação, lembrando que a pacificação demanda gestos, gestos de todos, do Judiciário, do Legislativo, do Executivo, gestos dos estados", afirmou o governador de São Paulo.

"A gente tem que aprender a construir gestos para que a gente possa ter desenvolvimento, dignidade, que só serão alcançados por meio do diálogo", completou.

GOVERNADORA DO DF DEFENDE IBANEIS

A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), que assumiu após o afastamento de Ibaneis Rocha (MDB) manifestou solidariedade ao presidente Lula e também ao Congresso e ao STF. Afirmou que um novo ato como o de domingo não vai se repetir.

Celina também defendeu Ibaneis Rocha. Disse que ele é um democrata e que havia recebido infelizmente informações equivocadas e, por isso, as forças de segurança não conseguiram controlar a situação.

O procurador-geral, Augusto Aras, negou que tenha havido omissão da Procuradoria-Geral da República e que atuará para responsabilizar os vândalos. "Durante eventos de 2021 e 2022 não tivemos nenhum ato de violência capaz de atentar contra democracia como visto ontem [domingo] ."

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