Lula diz que 8 de janeiro foi começo de golpe de Estado e que inteligência não existiu

Presidente afirma que não teria viajado caso soubesse do risco de invasão às sedes dos Três Poderes

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (18) que o sistema de inteligência do governo federal "não existiu" no dia 8, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O chefe do Executivo disse que viu os atos de vandalismo como um "começo de golpe de Estado" e disse que integrantes das Forças Armadas que quiserem fazer política têm de tirar a farda e renunciar do seu cargo.

"Enquanto estiver servindo às Forças Armadas, à Advocacia-Geral da União, no Ministério Público, essa gente não pode fazer política. Tem que cumprir com a sua função constitucional, pura e simplesmente", declarou em entrevista à GloboNews.

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Foto com técnica de múltipla exposição mostra o presidente Lula e vidro avariado no dia 8 no Planalto - Gabriela Biló /Folhapress

Lula também prometeu punir todos que participaram dos atos golpistas, incluindo militares. "Todos que participaram do ato golpista serão punidos. Todos. Não importa a patente, não importa a força que ele participe."

Ele fez duras críticas ao sistema de inteligência do governo federal.

"Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso. Se eu soubesse na sexta-feira que viriam 8.000 pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília. Eu saí porque estava tudo tranquilo."

O chefe do Executivo disse que estava em Araraquara (SP) no momento da invasão e que, na sexta-feira anterior, teve a informação de que "estava tudo tranquilo". "Depois aconteceu o que aconteceu no domingo, com convocação nas redes sociais. Nenhuma inteligência serviu para me avisar que poderia acontecer isso. Se eu soubesse, não teria viajado", afirmou.

Ele prosseguiu com as críticas à inteligência do governo e afirmou que a invasão foi preparada por "muito tempo".

"Eles não tiveram coragem de fazer nada durante a posse. Na verdade, nós cometemos um erro, eu diria elementar: a minha inteligência não existiu. Eu saí daqui na sexta-feira com a informação que tinham 150 pessoas no acampamento, que tava tudo tranquilo, que não iriam permitir que entrasse mais ônibus, que não iriam permitir que juntasse mais ninguém. Eu viajei para São Paulo na maior tranquilidade. E aconteceu o que aconteceu", criticou.

Também nesta quarta, em evento no Planalto com representantes das centrais sindicais, Lula disse que Bolsonaro tem culpa sobre os ataques e também afirmou que a invasão das sedes dos Poderes foram uma "tentativa de golpe por gente preparada".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de evento com centrais sindicais no Planalto nesta quarta (18) - Gabriela Biló/Folhapress

Lula voltou a criticar o ex-presidente na entrevista. "Impressão de que Bolsonaro queria voltar ao Brasil na glória de um golpe", disse.

"Eu fiquei com a impressão inclusive que o pessoal estava acatando ordem e orientação que o Bolsonaro deu durante muito tempo, por muito tempo ele mandou invadir a Suprema Corte, desacreditou do Congresso Nacional, por muito tempo ele pedia que o povo andasse armado, porque isso era democracia."

O presidente também afirmou que teve gente conivente dentro do Palácio do Planalto que facilitou a invasão.

O petista disse que recebeu sugestão de decretar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e que se negou a adotar a medida.

"Quando fizeram GLO no Rio de Janeiro, o Pezão, que era governador, virou rainha da Inglaterra. Eu tinha acabado de ser eleito presidente da República. O importante é que eu fui eleito presidente da República desse país. E eu não ia abrir mão de cumprir com as minhas funções e exercer o poder na sua plenitude", disse.

O presidente voltou a criticar a Polícia Militar do Distrito Federal e a dizer que houve conivência com as depredações na Esplanada.

Ele também mais uma vez elogiou o ministro da Defesa, José Múcio, e disse que ele seguirá no cargo. "Tenho dito para todo mundo: o Zé Múcio é meu amigo, de muitos anos. É uma pessoa que eu confio, é uma pessoa de muita habilidade política, por isso que ele foi escolhido. Porque ele é um homem que sempre que possível ele tenta evitar qualquer conflito. E tem gente que não gosta disso, tem gente que quer sair logo de cara na porrada. E não é assim", afirmou

Na última semana, o petista já havia demonstrado grande desconfiança em relação a militares que atuam no governo e mandou um duro recado às Forças Armadas.

"Essa a imagem que eu tenho das Forças Armadas. Umas Forças Armadas que sabem que seu papel está definido na Constituição. As Forças Armadas não são o poder moderador como pensam que são", disse, em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

Lula afirmou ainda estar "convencido" de que gente de dentro do palácio deixou golpistas entrarem no dia da invasão ao Planalto.

No dia 8, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro promoveram um grande ato golpista na Esplanada dos Ministérios. Avançaram sobre as forças de segurança e invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, deixando para trás um rastro de vandalismo e destruição.

À GloboNews Lula também disse discordar da ideia de instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar os ataques golpistas.

Afirmou que uma CPI neste momento pode "causar uma confusão tremenda".

Ainda falando sobre as Forças Armadas, o presidente foi questionado sobre seu papel na Amazônia e quais outras ações podem ser usadas para combater o crime organizado na região. Lula então anunciou que vai criar durante o seu mandato o Ministério da Segurança Pública, com uma força específica para guardar as fronteiras e atuar na questão ambiental.

"A gente vai trabalhar durante esse mandato a perspectiva de criar uma força, um Ministério da Segurança Pública, sabe, com uma missão de muita responsabilidade no cuidado das nossas fronteiras e dos nossos biomas", afirmou.

Ele falou em discutir"com as Forças Armadas o trabalho que a ser feito de modo "muito mais eficaz do que está sendo feito hoje". "Nós inclusive vamos fazer uma fiscalização mais contundente, mais forte, para que a gente possa tomar conta da nossa floresta, um compromisso que nós temos é até 2030 termos desmatamento zero na Amazônia. Eu vou buscar isso a ferro e fogo", completou.

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