O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta quarta-feira (1º) que a candidatura do senador Rogério Marinho (PL-RN) para a presidência do Senado "representa chancela de uma visão política extremista", e que o governo está mobilizado pela reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Marinho é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem foi ministro do Desenvolvimento Regional. A disputa pelo comando das casas ocorre nesta quarta-feira, após a posse dos parlamentares.
Dino, que foi exonerado para tomar posse e participar da votação, disse que Pacheco representa "ponderação", e demonstrou otimismo com a vitória do aliado do governo.
"A eleição do senador Rodrigo Pacheco é um sinal fundamental para o Brasil, uma vez que ele conduz aquela Casa e o Congresso Nacional com muito equilíbrio, ouvindo todas as correntes políticas, como deve ser", disse o ministro e senador eleito.
"Infelizmente, a candidatura do senador Rogério Marinho representaria uma chancela a uma visão política extremista, isso que esta na base da candidatura dele, lamentavelmente. Por isso, espero e tenho convicção de uma grande vitoria do Rodrigo Pacheco, que representa ponderação, equilíbrio em defesa da democracia, que o Brasil precisa", concluiu.
A declaração de Dino foi feita a jornalistas, na saída do STF (Supremo Tribunal Federal), onde participou da abertura do ano Judiciário nesta manhã.
Depois, à Folha, ele fez previsão de placar de 15, 20 votos a mais para Pacheco na disputa desta tarde. Ele disse ainda que o "governo está todo mobilizado" pela vitória do aliado, porque é "questão fundamental para governabilidade e harmonia".
Outro ministro de Lula, o senador Renan Filho, dos Transportes, descreveu uma conversa que teve com o presidente da República. De acordo com Renan, Lula pediu empenho na campanha por Pacheco.
"Estive ontem com o presidente. Ele me perguntou como eu estava vendo a eleição. Eu disse: ‘olha, presidente, estou vendo a eleição do Rodrigo Pacheco consolidada’", disse o senador. "O presidente falou assim: ‘está bom, Renan, vamos ajudar. o PT está votando’’.
Em resposta a Lula, Renan Filho lembrou que o MDB integra um bloco em apoio a Pacheco. "Eu disse: ‘estamos juntos, presidente, o MDB formou um bloco com o PSD e está sustentando a candidatura de Rodrigo’."
Ao ser questionado se tinha sido escalado por Lula para atuar em favor de Pacheco, Renan Filho afirmou:
"Fui acionado como senador, sou eleitor. Mas o governo não me mobilizou. Vou declarar meu apoio ao Rodrigo. O governo está apoiando o Rodrigo. O PT está dando os votos. Os partidos que compõem a base do governo também, majoritariamente todos, estão dando votos a ele. E, por isso e pelo trabalho que ele está fazendo à frente do Senado, acredito que terá uma eleição tranquila".
Renan Filho foi chamado a participar, com outros ministros, de uma reunião em apoio à candidatura de Pacheco. Além de ministros que são senadores, a exemplo Flávio Dino e Camilo Santana, participaram do encontro os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Comunicação, Paulo Pimenta, bem como os líderes do governo no Senado e no Congresso, Jaques Wagner e Randolfe Rodrigues, respectivamente.
Na chegada ao Senado, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD-MT), afirmou que os senadores perceberam que Pacheco será reeleito, e já estão "pensando no day after [dia seguinte]", e perdendo a vontade de votar em Marinho.
Fávaro disse que o presidente Lula pediu para que todos os ministros que são parlamentares participassem das eleições internas para mostrar que o governo está aberto ao diálogo.
"O presidente Lula pediu para que os ministros viessem para mostrar o símbolo de que o Executivo está aberto ao diálogo com o Legislativo. [A ideia é mostrar] que é um governo aberto ao diálogo, e que quer conversar. Este é o símbolo principal que estamos trazendo aqui", disse.
Como mostrou a Folha, mesmo no meio do mandato, Fávaro decidiu reassumir sua vaga no Senado provisoriamente para garantir o voto a Pacheco, de quem é amigo. O ministro disse que está "em modo campanha", e confiante na reeleição do presidente do Senado.
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez um comentário na contramão de Dino, pela manhã. Eleito deputado federal, ele também foi exonerado do ministério e voltou para o Congresso para votar em Arthur Lira (PP-AL) na Câmara.
A jornalistas na casa, ele disse que, independentemente de quem vencer a disputa, o governo terá relação institucional e que "vai continuar com a postura que tem de não intervir, não interferir".
"A era de fuzilar oposição, de criar conflito com o congresso nacional acabou. Nós queremos relação de muito diálogo", disse Padilha.
Questionado se o governo tem convicção da vitória de Pacheco no Senado, o ministro e deputado eleito afirmou ainda que não cabe ao Executivo ter "prova, nem convicção", numa referência ao bordão da Lava Jato em um dos casos envolvendo o presidente Lula.
"Cabe ao governo respeitar o que está sendo feito tanto na Câmara quanto no Senado. [Mas] Tenho ouvido não só do presidente Rodrigo Pacheco, mas também do líder do governo no Senado é de muita segurança com a vitória", afirmou.
Reservadamente, parlamentares aliados do governo admitem que o nome de Davi Alcolumbre pesou contra, e não a favor, da candidatura de Pacheco, em alguns casos.
São lembrados, por exemplo, quebras de acordo feitas por ele durante a primeira eleição de Rodrigo Pacheco, como promessas de um mesmo cargo feita a dois parlamentares. Além disso, também é citada a pouca atividade da Comissão de Constituição e Justiça enquanto ele a chefiou, nos últimos dois anos.
Também é apontado o grande poder dado por Pacheco ao seu aliado, que passou a controlar desde gabinetes a cargos.
Ainda sobre gabinetes, também pegou mal a obra feita no antigo gabinete de Simone Tebet, que acabou reduzido e perdendo uma grande parte de seu espaço para o vizinho, justamente Alcolumbre.
Senadores que articulam a candidatura de Marinho citam estes fatos como motivo para não votar pela reeleição de Pacheco —e, portanto, acabou sendo usado pela oposição para tentar conquistar esses nomes.
Os deputados federais e senadores que tomam posse nesta quarta-feira ampliarão levemente as bases fiéis a Bolsonaro e a Lula no Congresso, mas, em geral, mantêm o padrão da legislatura passada, de maioria conservadora.
Com isso, o presidente da República tem tentado formar a sua base de apoio com distribuição de ministérios e cargos do segundo escalão a partidos de centro e de direta.
Lula chegou a prometer que não se envolveria nas eleições do Congresso, mas na semana passada almoçou com Pacheco na Residência Oficial e até posou para foto com o candidato.
No final do seu discurso na abertura do ano judiciário no STF, o chefe do Executivo disse que pode-se não gostar no Congresso Nacional, mas "ele é resultado da quantidade de informações e do humor no dia da votação."
"Portanto temos que respeitar e só mudar quatro anos depois, quando tiver uma próxima eleição, assim que a gente vai sustentar definitivamente a democracia mais longíqua que conseguimos conquistar na República Federativa do Brasil", completou.
A declaração ocorreu em meio a uma fala em defesa da democracia e do que chamou de decisões corajosas do Supremo. Lula também atribuiu a escalada golpista no país a uma descrença na política.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.