Jornalista da Folha será ouvida sobre combate ao extremismo, mas não integrará grupo do governo

Grupo de Trabalho criado pelo Ministério dos Direitos Humanos vai contar com participação de representantes da sociedade civil

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Brasília

O grupo de trabalho criado pelo governo federal nesta quarta-feira (22) para propor estratégias de combate ao discurso de ódio e ao extremismo vai ouvir como consultora informal a repórter da Folha Patrícia Campos Mello.

A portaria prevendo a criação do grupo, no âmbito do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, foi publicada nesta quarta-feira (22) no Diário Oficial da União.

A iniciativa acontece pouco mais de um mês após os atos golpistas de 8 de janeiro, quando militantes bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadem e vandalizam o Palácio do Planalto - Gabriela Biló-8.jan.23/Folhapress

Por uma falha de comunicação, a portaria incluiu inicialmente o nome de Patrícia Campos Mello entre os 24 representantes da sociedade civil que vão compor o grupo de trabalho. A jornalista indicou que não poderia participar formalmente do grupo, por causa de sua atuação profissional.

"Como jornalista, não posso participar oficialmente de um grupo de trabalho do governo. Irei apenas colaborar com opiniões sobre o tema que pesquiso há muitos anos, mas sem nenhum vínculo formal com o grupo", afirmou Patrícia.

A incompatibilidade está definida no Manual de Redação da Folha. Segundo ele, "é responsabilidade do profissional atentar para situações que causem potencial conflito de interesses no trabalho cotidiano".

"O jornalista deve obrigatoriamente alegar impedimento e recusar pautas sobre pessoas e organizações com as quais mantenha relação que possa limitar ou pôr em dúvida sua autonomia ou isenção", diz trecho do Manual.

O Ministério dos Direitos Humanos divulgou nota na qual diz contar com as contribuições de Patrícia como especialista no tema.

"O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania informa que será retirado o nome da jornalista Patrícia Campos Mello como integrante do grupo de trabalho criado para combater discurso e extremismo. Ela havia sido convidada, mas por incompatibilidade profissional não poderá participar oficialmente do projeto. A jornalista será ouvida oportunamente pelo GT, apenas na condição de especialista. O novo nome que integrará as discussões no lugar de Patrícia deverá ser anunciado em breve", informa o texto.

Patrícia pesquisa a disseminação de notícias falsas e discursos de ódio pela internet, tendo publicado uma série de reportagens na Folha sobre o tema. Em 2020, publicou o livro "A Máquina do Ódio" (Companhia das Letras) no qual trata do assunto e relata os ataques pessoais que sofreu de bolsonaristas.

O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro a atacou com palavras de baixo calão. Bolsonaro foi condenado em duas instâncias pelas ofensas.

O grupo de trabalho será coordenado pela ex-deputada Manuela d'Ávila (PC do B-RS), que integrou como candidata a vice-presidente a chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT) em 2018.

Integrarão o grupo cinco representantes do Ministério dos Direitos Humanos e outros 24 representantes da sociedade civil.

Participam do grupo o influenciador Felipe Neto, a antropóloga Débora Diniz, o psicanalista Christian Dunker, a cientista social e acadêmica Esther Solano, o cientista político especialista em relações internacionais Guilherme Casarões, a antropóloga Isabela Oliveira Kalil e o epidemiologista Pedro Hallal, entre outros.

Também serão convidados a participar do grupo representantes de outros ministérios do governo, entre eles a AGU (Advocacia-Geral da União), Educação, Igualdade Racial, Justiça, Mulheres, Povos Indígenas e Secretaria de Comunicação da Presidência.

O grupo atuará inicialmente por um período de 180 dias, prazo que pode ser prorrogado. Em sua primeira reunião, o grupo de trabalho estabelecerá o calendário de encontros, seu modo de funcionamento e plano de trabalho com seus objetivos específicos.

Entre suas atribuições, estará a de assessorar o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, nas questões referentes ao discurso de ódio e ao extremismo. Também devem realizar estudos e elaborar estratégias para enfrentar essas questões.

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