Pacheco usa discurso da vitória para defender combate a golpismo bolsonarista

Discurso de ódio, mentiroso e golpista deve ser desmentido e combatido, diz presidente do Senado após reeleição

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Brasília

O presidente reeleito do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), usou a fala que fez após a vitória desta quarta-feira (1º) para pregar combate ao discurso de ódio e o golpismo que encontra amparo, principalmente, nas bases radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Diferentemente da fala que adotou na tribuna antes da votação, muito mais corporativista e que trouxe inclusive sinais ao bolsonarismo, após a reeleição Pacheco concentrou sua mensagem na ênfase de que o mundo político precisa dar um basta a escaladas golpistas, entendendo que busca da pacificação não significa fechar os olhos para mentiras e ameaças ao Estado democrático.

"A realidade do momento nos impõe um alerta. Pacificação não significa omissão ou leniência. Pacificação não é inflamar a população com narrativas inverídicas e com soluções que geram instabilidade institucional. Pacificação não significa se calar diante de atos golpistas."

O presidente reeleito do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) - Gabriela Biló/Folhapress

Pacheco, que foi reeleito com forte apoio do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou também que é preciso lutar pela verdade e abandonar o discurso de nós contra eles.

"A polarização tóxica precisa ser erradicada de nosso país. Acontecimentos como os ocorridos aqui neste Congresso Nacional e na praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 não podem, e não vão, se repetir. (...) Reitero que os acontecimentos do dia 8 de janeiro estão sendo superados, mas não serão esquecidos."

Na fala antes da votação, Pacheco havia adotado um tom bem mais ameno, em que incluiu a defesa das da integralidade dos direitos dos senadores, um aceno a bolsonaristas que apontam ingerência do Supremo Tribunal Federal sobre suas prerrogativas.

Após derrotar o ex-ministro de Bolsonaro Rogério Marinho (PL-RN) por 49 votos a 32, ele subiu o tom contra o grupo político bolsonarista mais radicalizado.

"Os brasileiros precisam voltar a divergir civilizadamente, precisam reconhecer com absoluta sobriedade, quando derrotados, e precisam respeitar a autoridade das instituições públicas. Só há ordem se assim o fizerem. Só há patriotismo se assim o fizerem. Só há humanidade se assim o fizerem."

O presidente reeleito do Senado voltou ao tema durante entrevista a jornalistas, após o término da sessão. Criticou o fato de que pessoas que tiveram envolvimento na preparação de um atentado terrorista em Brasília estiveram presentes em audiência no Senado.

"Portanto nosso compromisso é redobrado de buscarmos a pacificação, de buscar a estabilidade, mas sem esquecer um só minuto daquilo que aconteceu no Brasil, de ofensa à democracia brasileira. Nós tivemos presente neste Senado Federal pessoas que depois estiveram vinculadas a atos terroristas, bomba em caminhão, que participaram de audiências públicas no Senado Federal", afirmou.

"Quero afirmar aos senhores que nós nunca mais permitiremos acontecimentos desse tipo, que estava Casa seja usada para fomentar atos antidemocráticos, questionamentos antidemocráticos de instituições brasileiras", completou o senador mineiro.

Senadores aliados de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) seguram cartaz com os dizeres "A democracia venceu", com a foto do presidente eleito do Senado Federal
Senadores aliados de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) seguram cartaz com os dizeres "A democracia venceu", com a foto do presidente eleito do Senado Federal - Gabriela Biló - 1º.fev.23/Folhapress

Pacheco adotou durante a gestão Bolsonaro uma atitude de maior independência em relação ao governo, diferentemente do alinhamento próximo promovido por Arthur Lira (PP-AL) na Câmara.

Assim, sua candidatura à reeleição foi apoiada desde o começo pelo PT e pelo governo, que se mobilizou fortemente na reta final para evitar uma onda de traições que pudesse levar o bolsonarismo a triunfar no Senado.

"O discurso de ódio, o discurso mentiroso, o discurso golpista deve ser desestimulado, desmentido e combatido", disse Pacheco, nunca mencionando diretamente Bolsonaro ou seus aliados mais radicais, embora tenha ficado claro que o recado era para eles.

Os ataques bolsonaristas de 8 de janeiro, por exemplo, foram citados várias vezes. "Da parte da Presidência do Senado Federal, a resposta contra a tentativa de tomar de assalto a democracia foi incisiva e rápida."

Logo após a votação, e antes do discurso da vitória, o ex-vice-presidente Hamilton Mourão, eleito senador pelo Republicanos do Rio Grande do Sul, disse esperar que Pacheco faça uma gestão independente do Palácio do Planalto.

Apesar de o Congresso eleito ter mantido o perfil anterior, majoritariamente conservador, Pacheco voltou a prometer que, nos próximos dois anos, o Parlamento "seguirá produzindo normas em defesa das minorias, contra o racismo, a favor das mulheres", além "da busca de soluções para a desigualdade social, para a fome, para os problemas no meio ambiente".

Pacheco prometeu ainda ser colaborativo com o governo Lula para viabilizar medidas econômicas que permitam a volta do crescimento. "Queremos estabelecer pontes e ajudar a construir soluções. Não esperem de nós menos do que isso."

Também depois da sessão, Pacheco citou novamente as mudanças legislativas que podem avançar no Congresso Nacional, para impor limites à atuação de outros Poderes, sempre negociando e ouvindo as autoridades e especialistas jurídicos.

E acrescentou que não pode simplesmente usar as diferenças e problemas de maneira mais extremista, banalizando os pedidos de impeachment, seja de ministros do STF ou de presidentes da República.

" [Fazer discussões] Sem esse discurso fantasioso que foi criado de que impeachment para ministro do Supremo e para presidente da República resolve todos os males. Não podemos banalizar o instituto do impeachment e não será novamente banalizado pela presidência do Senado. Evidentemente é um instituto que existe, mas que não pode ser banalizado", afirmou.

Pacheco foi questionado sobre a abertura de espaço na mesa diretora do Senado para o PL, partido derrotado na eleição pela presidência da Casa. O senador disse que a questão precisa ser discutida entre o bloco vencedor das eleições. Afirmou que seria benéfico contemplar o máximo de siglas na divisão dos cargos, mas que não pode ignorar o fato de que houve uma disputa.

"Naturalmente nós vamos ouvir esse conjunto de forças [que o apoiou], conjunto de lideranças, para definirmos o espaço na mesa diretora. O quanto mais possível nós pudermos privilegiar os partidos políticos no Senado Federal, nós assim o faremos. Não há nenhum espírito de revanchismo, de retaliação, mas há uma realidade que se apresenta: houve uma disputa e dentro dessa disputa é natural que o campo político vitorioso tenha feito as suas definições em relação à mesa diretora", completou.

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