Valdemar diz à PF que afirmação sobre minuta golpista na 'casa de todo mundo' foi metáfora

Ele entregou espontaneamente à Polícia Federal o celular após interrogatório feito por investigadores

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Brasília

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou à Polícia Federal que foi uma metáfora a declaração que deu durante uma entrevista sobre a existência de propostas de minutas de teor golpista em poder de autoridades ligadas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele buscou minimizar os documentos, chamando-os de "bobagem". Valdemar afirmou não possuírem identificação, que "visivelmente não tinham sentido nenhum" e os triturava.

O dirigente disse, aos investigadores, ter recebido duas ou três propostas dessas, depois três ou quatro. E afirmou que "sempre foi contra golpe".

O dirigente do PL entregou seu celular espontaneamente à polícia para ser periciado. O depoimento ocorreu, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), após Valdemar dizer, em entrevista ao jornal O Globo, que também já recebeu minutas golpistas.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, prestou depoimento à PF sobre minuta golpista - Evaristo Sá 23.nov.2022/ AFP

Valdemar disse também aos investigadores que falou de "forma genérica", uma "força de expressão", e que não quis defender ninguém quando falou que também recebeu documentos como o que estava na casa de Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro.

O dirigente partidário também buscou se afastar de Torres, com quem disse não ter relação, nem participado de reuniões. Valdemar afirmou que só esteve no ministério uma única vez nos quatro anos de governo.

Uma cópia de uma minuta para que Bolsonaro decretasse o estado de defesa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), visando mudar o resultado das eleições, foi apreendida pela PF na casa do ex-secretário de Segurança Pública do DF e ex-titular da Justiça de Bolsonaro.

Em seu depoimento aos investigadores, Valdemar disse ainda que as propostas golpistas que recebeu evocavam o artigo 142 da Constituição Federal, um argumento utilizado por bolsonaristas para defender intervenção militar.

Ministros do STF, em decisões monocráticas, já afastaram a possibilidade de as Forças Armadas serem poder moderador, como defende a tese golpistas, e disseram não haver isso no texto constitucional. Apoiadores do ex-mandatário, contudo, sustentam essa tese.

Valdemar também afastou o seu partido e o ex-presidente de qualquer relação com as propostas golpistas. Ele afirmou que nunca tratou desse assunto no PL, nem com Bolsonaro.

"[Valdemar disse] que acreditava que se ficasse com um documento desses, alguém poderia dizer que estaria 'a favor do golpe'. Que também não se sentia a vontade em manter esses documentos em casa para que ninguém, inclusive sua família, pensasse que estava tramando alguma coisa, que sempre foi contra golpe", disse, ao ser questionado sobre o motivo de ter triturado as minutas golpistas.

Desde que Bolsonaro perdeu a eleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seus apoiadores se recusaram a aceitar o resultado das urnas e passaram a liderar movimentos golpistas, pedindo intervenção militar, em acampamentos nas regiões de quarteis do Exército.

Os atos culminaram no dia 8 de janeiro, quando golpistas depredaram a sede dos três Poderes em Brasília. O episódio levou à prisão imediata de mais de mil pessoas, em especial, todos que estavam na frente dos quarteis. Muitos foram liberados, mas a polícia já identificou mais de 200 pessoas que depredaram os prédios públicos e que estão detidas.

Questionado sobre os atos de 8 de janeiro, Valdemar disse que eles aconteceram por "falta de segurança" na praça dos Três Poderes, mas sem citar Anderson Torres, então secretário de segurança.

Ele também classificou golpistas de "animais", que tem de ser punidos, e disse que "esse pessoal radical" não tem contato com o partido, nem participa de eventos do PL.

"[Valdemar disse que no dia 8] o problema foi a falta de policiamento; que tem gente ruim em todo lugar; que o que precisa ter é policiamento forte; que tem 'animal' em todo lugar; que essa gente tem que pagar por isso", afirmou.

O dirigente foi questionado ainda pelos investigadores a respeito da iniciativa do PL de questionar juridicamente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o resultado das urnas —movimento explorado por bolsonaristas, mas que não tem embasamento técnico.

A sigla alegou que urnas antigas foram utilizadas e não contaram votos dados ao então presidente Bolsonaro.

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, negou a ação do partido que visava invalidar votos depositados nessas urnas e ainda bloqueou as contas do fundo partidário e condenou a coligação de Bolsonaro, formada por PL, PP e Republicanos, ao pagamento de multa no valor de quase R$ 23 milhões por litigância de má-fé.

Depois, o magistrado acatou retirar o Republicanos e o PP da condenação, deixando apenas o PL de Valdemar.

À PF o presidente da legenda disse que nunca teve reuniões com a empresa que contratou para fiscalizar as urnas, e que só o fez por "insistência do governo". Afirmou ainda que, "como não houve provas, deu assunto como encerrado".

Jair Bolsonaro liderou movimento de contestar urnas eletrônicas durante todo seu mandato, em especial nos últimos dois anos de governo.

Sem evidências científicas, atacou o sistema eleitoral e acabou sendo investigado por um inquérito do TSE a respeito de uma live em que falou sobre suposta fraude nas urnas eletrônicas. Anderson Torres, então ministro, também virou investigado, por participar da transmissão nas redes sociais.

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