Bolsonarista Zé Trovão participa de reunião no Planalto e fala em 'mostrar diplomacia'

Deputado foi o primeiro a chegar e provocou olhares de espanto em encontro de ministro com parlamentares

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Brasília

O líder caminhoneiro e deputado federal bolsonarista Zé Trovão (PL-SC) provocou olhares espantados das pessoas que frequentam o Palácio do Planalto, na manhã desta terça-feira (7), ao chegar para uma reunião com integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O parlamentar participou de um café da manhã promovido pelo ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Internacionais) para novos deputados das regiões Sul e Centro-Oeste. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) também estava presente.

Trovão disse brevemente a jornalistas que sua presença era uma forma de "mostrar diplomacia entre os Poderes".

Durante o encontro, no entanto, falou que é "oposição ao governo, e não ao Brasil", e pediu gestos dos demais Poderes, citando especificamente a libertação de "presos políticos" dos atos de 8 de janeiro.

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Zé Trovão em reunião no Planalto com o ministro Alexandre Padilha - Lucas Borges Teixeira/UOL

Zé Trovão chegou ao Palácio do Planalto com mais de uma hora de antecedência para o evento, sendo o primeiro de todos os parlamentares que participariam do evento com Padilha.

Na saída, o deputado afirmou inicialmente que não concederia entrevistas, porque ainda enfrenta os efeitos de decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. "Estou aguardando derrubarem essa ordem, para que eu possa falar com a imprensa. Se não, complica a minha vida", afirmou.

Na sequência, questionado apenas sobre o encontro com Padilha, se tinha sido positivo, respondeu que a reunião mostrava respeito entre os Poderes.

"O encontro é um encontro em que a gente está tentando mostrar uma diplomacia, ter respeito entre os Poderes, fazer com que a gente consiga trabalhar. Era essa a intenção de falar com o ministro Padilha", afirmou.

Zé Trovão chegou ao Planalto com um visual muito diferente do caminhoneiro que ganhou notoriedade no país. Vestia o seu tradicional chapéu preto, mas também trajava um terno elegante cinza e a barba aparada.

A Folha obteve o áudio de sua intervenção durante o encontro com Padilha e demais parlamentares. O deputado por Santa Catarina elogiou a iniciativa do ministro, mas por outro lado pediu alguns gestos de todos os outros Poderes.

Sem citar Jair Bolsonaro (PL) e seu governo, Zé Trovão disse que é necessário manter a economia "da maneira que ela estava, em crescente, e não que ela caia". Exaltou a necessidade da reforma tributária e disse que, sem ela, continuaremos a ver brasileiros morrendo de fome.

"Eu sou oposição ao governo, e não ao Brasil. Eu não posso ser oposição aos catarinenses, aos quase 9 milhões de catarinenses que precisam do meu trabalho para que a gente consiga fazer as reformas e levar para meu estado aquilo que é necessário", afirmou o parlamentar.

Na sequência, Zé Trovão afirma que os gestos devem começar com medidas relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro. O deputado afirma que não compactua com essas ações, mas por outro lado afirma que a reação do poder público resultou em "presos políticos, que não cometeram crimes". E por isso pede uma distensão nessa questão.

"Eu gostaria de pedir aos senhores que esses gestos [dos demais Poderes] comecem desde o dia 8 de janeiro, onde aconteceram as piores tragédias do Brasil. Fui contra. Nunca em minha vida eu iria compactuar com algo daquela forma. Só que hoje estamos enxergando e está se tomando um rumo muito complicado", afirmou.

"Se hoje podemos dizer que tem pessoas presas e são presos políticos, que não cometeram crimes. Esse é o primeiro gesto que precisamos começar a enxergar, que haja uma distensão sobre isso. E que aqueles criminosos que fizeram aquilo que eu abomino, passem muitos anos na cadeia. Então o primeiro ponto é esse", completou.

Na sequência, Zé Trovão também pediu gestos do Judiciário. "O segundo ponto é que a gente comece a falar entre Câmara, Senado e Executivo, sem ser barrado pelo Judiciário. O Judiciário também tem que fazer o seu gesto. Nós precisamos de gestos de ambos, porque, se continuar dessa forma, dessa maneira, o que acontece? A oposição vai continuar batendo e barrando e fazendo coisa que eu acho que não é muito interessante para o Brasil", afirmou.

"Precisamos ser oposição, mas consciente, respeitando os limites da boa convivência e sempre pensando que é o povo brasileiro que precisa ser assistido. Se for assim, eu estou junto. Se não for assim, estou fora. Por isso vim aqui hoje para dizer aos senhores que quero trabalhar e fazer o melhor para o Brasil, mas o melhor de verdade."

Padilha, por sua vez, exaltou o fato de que parlamentares de diferentes correntes estavam presentes no evento.

"Esse encontro, que fizemos questão de fazer por região, é para deixar bem claro que cada deputada e cada deputado representa os votos do seu estado, de sua região, de algum tema, de alguma bandeira. Importante ressaltar que, para nós, as eleições acabaram lá no primeiro e no segundo turno, com resultado reconhecido, todo mundo tomou posse e o que importa agora é a gente se unir e reconstruir o país", afirmou.

Alckmin esteve presente na maior parte do evento. O vice-presidente usou parte de sua fala para tratar do agronegócio, exaltando que é uma atividade econômica importante para as regiões Sul e Centro-Oeste. Disse que um de seus esforços como ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio é fortalecer a produção de fertilizantes no país.

O vice-presidente também afirmou que um dos desafios é promover desenvolvimento com estabilidade econômica, impedindo principalmente a volta da inflação.

O deputado foi investigado e preso em outubro de 2021 por participar da organização de atos antidemocráticos, durante as festividades de 7 de Setembro. O líder bolsonarista chegou a ficar foragido e se refugiou no México, antes de ser preso pela Polícia Federal.

A prisão dele foi revogada meses depois, embora passasse a usar tornozeleira eletrônica.

Nas eleições do ano passado, acabou eleito deputado por Santa Catarina recebendo 71.140 votos, que foram angariados apesar de proibido por Moraes de acessar às redes sociais.

Após a derrota de Jair Bolsonaro para Lula, o então deputado eleito reconheceu o resultado das urnas e disse que era hora de "erguer a cabeça".

"Para nós foi uma derrota que nos entristece muito, nos assombra porque nós nunca imaginamos que o povo brasileiro iria escolher, eu vou usar até um termo bíblico, por Barrabás ao invés do Messias. Isso foi uma grande surpresa. Mas, como eu sempre digo, é hora de bater a poeira das botas, erguer a cabeça", afirmou à Folha, um dia após o segundo turno.

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