Bolsonaro mira Lula em 1º discurso na volta ao Brasil e diz que petista não fará 'o que bem quer'

Ex-presidente desembarcou em Brasília na manhã desta quinta-feira

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Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (30) que a atual legislatura no Congresso Nacional está melhor que a anterior e por isso não vão permitir que o governo Lula faça "o que bem entender com o destino da nossa nação".

O ex-presidente na sede do PL, em Brasília, ao retornar ao Brasil após 89 dias nos EUA - PL/AFP

Bolsonaro também disse que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está "por pouco tempo no poder".

"Eu lembro lá atrás quando alguém criticava o Parlamento, Ulysses Guimarães dizia: 'espera o próximo'. Dessa vez, o próximo melhorou e muito. O Parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que, por ora, pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa nação", afirmou.

Mais tarde, em entrevista a rádio Jovem Pan, o ex-mandatário criou a primeira polêmica direta com o novo governo, criticando a equipe de Lula por ter retirado os seus veículos blindados. Bolsonaro afirmou que viu essa iniciativa como "um recado".

"Até segunda-feira eu tinha direito a dois carros blindados. Com o anúncio da minha chegada aqui, a Casa Civil retirou o carro blindado. Estou com dois carros normais aí fora. Agora, você pode falar [se] tem amparo na lei ou não tem. Não está definido", afirmou o ex-presidente.

Ele acrescenta que corre risco maior de sofrer um atentado e por isso necessitaria do carro blindado. Citou a campanha eleitoral de 2018, quando tinha 40 policiais federais para a sua segurança, enquanto alguns rivais tinham apenas dois.

"Eu tinha obviamente o maior risco de sofrer um atentado, como aconteceu, mesmo com todos esses policiais federais. Agora é a mesma coisa. A gente vê acontecer essa questão do PCC planejando, etc. A gente fica preocupado. Eu não tenho peito de aço. Eu vou tentar buscar um carro blindado para mim. Agora não é uma atitude racional por parte desse governo que está aí. Eu nunca persegui ex-presidente de nenhum governo. Tudo o que foi pedido nós concedemos, foi até além em alguma coisa", afirmou o ex-presidente.

"Agora comigo anunciam: 'agora não tem mais carro blindado para você'. Está dando um recado. Eu só posso entender isso aí", completou.

A Casa Civil do governo Lula informou em nota que nenhum ex-presidente utiliza veículos blindados.

"A Casa Civil da Presidência da República esclarece que nenhum ex-presidente tem direito a utilização de carro blindado. Conforme prevê a Lei no 7.474, de 8 de maio de 1986, os ex-presidentes têm direito a dois veículos oficiais e os respectivos motoristas. Reforçamos que os dois veículos foram disponibilizados e estão sendo utilizados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro", afirma o texto.

Bolsonaro deu as declarações ao chegar para evento na sede do PL, em Brasília, seu primeiro compromisso após retornar dos Estados Unidos. Ele vai encontrar com correligionários, entre eles o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

Também o aguardava na sede do PL a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o secretário de Relações Institucionais do partido, general Walter Braga Netto, que foi candidato a vice na sua chapa nas últimas eleições presidenciais. A entrevista à emissora também foi concedida da sede do PL.

Bolsonaro entrou pela garagem do complexo de torres comerciais, mas depois desceu para saudar alguns apoiadores pessoalmente. A ex-primeira-dama fez a mesma coisa, depois de seu marido.

Os dois depois almoçaram na sede do partido com o presidente da legenda e uns poucos aliados, antes de o ex-mandatário seguir para sua nova residência na capital federal. Em seu primeiro discurso, Bolsonaro chamou Valdemar de chefe e disse que iria despachar na sede do partido a partir da próxima semana.

O ex-presidente desembarcou na manhã desta quinta-feira (30) em Brasília, após uma temporada de 89 dias nos Estados Unidos. O ex-presidente chegou por volta de 7h, em um voo comercial que havia partido de Orlando no fim da noite de quarta.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal preparou um esquema de segurança especial para a chegada do ex-presidente.

O ex-mandatário deixou o aeroporto e seguiu direto para a sede do PL, para encontrar correligionários. A pedido de Bolsonaro, o evento não foi aberto à imprensa.

"Na semana que vem, Jair Bolsonaro assume formalmente a função de presidente de honra do Partido Liberal e deverá despachar normalmente em seu escritório", informou o PL em nota.

Ainda no aeroporto de Orlando, pouco antes de embarcar, o ex-presidente havia afirmado que não pretende liderar a oposição ao governo Lula.

"O PL detém quase 20% das bancadas da Câmara e do Senado. Digo: não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com o meu partido, como uma pessoa experiente, 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e 15 de Exército, para colaborar com aqueles que assim desejarem", afirmou ele à rede de TV.

À Folha ele não respondeu sobre a intimação feita pela Polícia Federal para depor sobre o caso das joias presenteadas pela Arábia Saudita.

Bolsonaro partiu para os Estados Unidos no dia 30 de dezembro, às vésperas do fim do seu mandato presidencial. O objetivo era não precisar passar a faixa para o presidente Lula, ignorando dessa forma o ritmo democrático de transferir simbolicamente o poder a seu sucessor.

O então presidente já vinha mantendo uma postura de reclusão após a derrota no segundo turno das eleições, com poucas aparições públicas. Alimentava assim sentimento e esperança golpistas entre seus apoiadores, em particular nos acampamentos em frente a quarteis do Exército em diferentes partes do país.

Durante sua temporada nos Estados Unidos, Bolsonaro ficou hospedado na região de Orlando, inicialmente na casa que pertence ao ex-lutador de MMA José Aldo. Costumava sair para conversar com apoiadores que se aglomeravam em frente à residência. O ex-mandatário também participou de eventos políticos conservadores.

Como a Folha mostrou, os gastos com dinheiro público da viagem do ex-presidente já se aproximavam de R$ 1 milhão ainda em fevereiro.

O ex-presidente Jair Bolsonaro acena para apoiadores pela da sede do PL, em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

O retorno de Bolsonaro ao país acontece em meio à polêmica das joias vindas da Arábia Saudita, caso que vem provocando desgaste à imagem do ex-presidente, que também pode ser responsabilizado judicialmente.

Nesta quarta-feira (29), o ex-presidente e seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, foram intimados pela Polícia Federal a depor sobre o caso. Os depoimentos foram marcados para o dia 5 de abril.

Por meio de seus advogados, Bolsonaro entregou na sexta-feira (24) à Caixa Econômica Federal em Brasília parte das joias que recebeu de presente da Arábia Saudita em 2021. O kit inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard.

No mesmo dia, um kit de armas foi entregue à Polícia Federal, também por determinação do TCU (Tribunal de Contas da União).

O tribunal ainda determinou que o conjunto de joias e relógio avaliado em R$ 16,5 milhões que seria para a ex-primeira-dama, retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos (SP) em 2021, também seja enviado à Caixa.

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