Descrição de chapéu Governo Lula

Com pneumonia, Lula cancela viagem à China por orientação médica

Kalil, médico do presidente, diz que mandatário está bem e que viagem poderia ocorrer daqui a aproximadamente dez dias

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cancelou a viagem à China que começaria neste domingo (26). O mandatário apresenta um quadro de pneumonia e, após avaliações médicas, teve que rever a agenda.

De acordo com o Palácio do Planalto, o adiamento já foi comunicado para as autoridades chinesas com a reiteração do desejo de marcar a visita em nova data.

Lula durante evento no Recife - Ivaldo Reges-22.mar.23/Photopress/Folhapress

Na última quinta-feira (23), Lula foi ao Hospital Sírio-Libanês em Brasília com sintomas gripais. Após avaliação clínica, foi diagnosticado um quadro de broncopneumonia bacteriana e viral por influenza A, sendo iniciado um tratamento com antibióticos.

O presidente já havia adiado o embarque, originalmente marcado para a manhã de sábado (25), para o domingo. Agora, o comunicado oficial fala em novo adiamento até a melhora do quadro de saúde e não prevê uma nova data.

"Após reavaliação no dia de hoje [sábado] e, apesar da melhora clínica, o serviço médico da Presidência da República recomenda o adiamento da viagem para China até que se encerre o ciclo de transmissão viral".

O médico Roberto Kalil, que acompanha a saúde de Lula, afirmou à Folha neste sábado que não houve agravamento e que o adiamento da viagem ocorreu por uma questão de coerência.

"Ele está tomando antibiótico na veia. Uma coisa é ficar aqui e tomar antibiótico, outra coisa é pegar um voo de 30 horas", disse Kalil. "O presidente está muito bem, está evoluindo bem. Mas a equipe médica da Presidência, a doutora Ana [Helena Germoglio] junto comigo, sugeriu e o presidente e a [primeira-dama] Janja decidiram [adiar]."

O médico lembra, inclusive, que a influenza pode ser transmitida a outras pessoas —o que reforça a necessidade do adiamento da viagem.

Kalil estima que Lula possa voltar a trabalhar já na semana que vem, mas que uma viagem para a China poderia ocorrer somente daqui a aproximadamente dez dias.

Na sexta, o presidente havia cancelado todas as suas agendas. No entanto, após descansar pela manhã, decidiu participar de uma reunião com ministros que aconteceria no Palácio do Planalto e passou para o período da tarde, no Alvorada, residência oficial da Presidência.

Teve ainda uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tratar da crise sobre a tramitação de MPs (medidas provisórias).

Lula apresentou o quadro ao retornar do Rio de Janeiro, após uma viagem de dois dias. Na terça-feira (21) esteve na região Nordeste, onde cumpriu agendas na Paraíba e em Pernambuco. Depois, seguiu direto para a capital fluminense, onde visitou o complexo militar naval de Itaguaí e participou de eventos da área da cultura na região central.

Agenda com a China

Na viagem, Lula teria compromissos ao longo de toda a semana. Estavam previstas reuniões com autoridades políticas de Pequim, visitas a fábricas e encontros empresariais.

Conforme mostrou a Folha, a agenda mais esperada para auxiliares do petista era a reunião bilateral com o líder chinês, Xi Jinping. O encontro seria permeado pela principal ambição de Lula no cenário internacional: apresentar-se como facilitador de um diálogo pela paz na Guerra da Ucrânia, que já dura mais de um ano e tem impacto direto sobre a economia global.

O governo brasileiro já havia recebido a sinalização positiva dos chineses de que Xi Jinping está disposto a tratar da situação na Ucrânia com Lula, inicialmente no encontro que estava previsto para o dia 28.

A posição chinesa é considerada fundamental por Lula. O petista já conversou sobre o assunto com líderes ocidentais, como os governantes da Alemanha, Olaf Scholz; dos EUA, Joe Biden; e da França, Emmanuel Macron.

A receptividade desses líderes tem sido fria. Diante desse cenário, um respaldo da China de que Lula pode ser um interlocutor no processo é considerado fundamental para a diplomacia brasileira. Pequim é vista hoje como um dos únicos atores na arena global com condições concretas de influenciar Vladimir Putin.

Na viagem à China, Lula assinaria uma série de entendimentos em outras frentes. Entre eles, conforme mostrou a Folha, um acordo de cooperação e intercâmbio em tecnologias de semicondutores, 5G, 6G e as próximas gerações de redes móveis, inteligência artificial e células fotovoltaicas (para geração de energia solar).

Os acordos em negociação, que envolvem o Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério das Comunicações e Anatel, preveem capacitação em desenvolvimento de aplicativos, nuvem, internet das coisas e algoritmos em aplicativos para a indústria.

Os chineses, como parte do pacote de recepção de honra que estava sendo preparado para Lula em Pequim, acenam com possibilidade de cooperação em fábricas de semicondutores no Brasil, com produção voltada para o mercado brasileiro.

Na agricultura, entre os principais objetivos da agenda estava fazer a China autorizar a importação de carne de mais frigoríficos brasileiros. O ministro Carlos Fávaro (Agricultura) e outros representantes da pasta já viajaram para a China na segunda-feira (20) com a missão.

Desde 2019, o gigante asiático não concede novas certificações para que empresas brasileiras possam exportar carnes bovinas, suínas e de frango.

Lula estaria acompanhado durante a visita ao país asiático de uma série de ministros e outras autoridades —como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O senador também cancelou a viagem e, em nota, desejou uma pronta recuperação a Lula.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) também acompanharia o mandatário. Ele divulgou nota dizendo que, em função do cancelamento da missão presidencial, não irá à China neste momento.

Sem Lula e Haddad, a situação dos empresários que acompanhariam a comitiva é incerta. Embora a informação inicial seja de que os compromissos empresariais não sofrerão alteração, o cenário ainda está sendo avaliado e interlocutores dizem que certamente a ausência do presidente da República e do ministro da Fazenda terá algum impacto na programação.

A Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), por exemplo, organizou para o dia 29 o Fórum Econômico Brasil-China. O presidente da agência, Jorge Viana, está em deslocamento para a China. Interlocutores dizem que, neste momento, a agenda está mantida, mas que a situação pode mudar com a chegada de Viana a Pequim e uma possível reavaliação de cenário.

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