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PF faz ação contra PCC após descobrir plano para atacar autoridades; Moro era um dos alvos

Ex-juiz da Lava Jato e outras autoridades do país estavam na mira de facção criminosa

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Brasília

A Polícia Federal cumpriu na manhã desta quarta (22) uma série de diligências para desarticular um plano da facção criminosa PCC que pretendia realizar ataques contra autoridades. Um dos alvos era o ex-juiz da Lava Jato e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Foram efetuados 24 mandados de busca e apreensão, 7 de prisão preventiva e 4 de prisão temporária em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. Ao menos nove foram presos, sendo seis homens e três mulheres, todos em São Paulo. Dois dos suspeitos continuam foragidos.

"Sobre os planos de retaliação do PCC contra minha pessoa, minha família e outros agentes públicos, farei um pronunciamento à tarde na tribuna do Senado. Por ora, agradeço a PF, PM/PR, Polícias legislativas do Senado e da Câmara, PM/SP, MPE/SP, e aos seus dirigentes pelo apoio e trabalho realizado", disse Moro pela manhã em suas redes sociais.

O senador Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro do governo Bolsonaro
O senador Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro do governo Bolsonaro - Pedro Ladeira - 28.fev.23/Folhapress

A ação foi batizada de Sequaz e, diz a PF, tem por objetivo desarticular o grupo que "pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, incluindo homicídios e extorsão mediante sequestro, em pelo menos cinco unidades da federação".

Como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), Moro atuou na transferência de vários chefes do PCC, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para o sistema penitenciário federal.

O principal chefe do PCC foi transferido do sistema penitenciário estadual de São Paulo para a penitenciária federal em Brasília em fevereiro de 2019. Meses depois, seguiu para uma unidade federal em Rondônia e depois retornou para a capital federal.

Além dele, outros 21 integrantes da cúpula da facção foram transportados naquele momento em um avião das Forças Armadas a partir do aeroporto da vizinha Presidente Prudente (SP) para a transferência.

Os ataques contra Moro e outras autoridades, segundo a apuração, ocorreriam de forma simultânea, e os principais alvos estavam em São Paulo e no Paraná. Em São Paulo, o alvo era o promotor Lincoln Gakiya, que atua há anos em investigações sobre a atuação do PCC.

"Foi investigado e identificado um plano de homicídios contra vários agentes públicos (dentre os quais um senador e um promotor de Justiça). Hoje a Polícia Federal está realizando prisões e buscas contra essa quadrilha. Meus cumprimentos às equipes da PF pelo importante trabalho", disse o atual ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), por meio de suas redes sociais.

A investigação, porém, acabou sendo explorada pela oposição para tentar desgastar o governo.

Sem haver nenhuma evidência, bolsonaristas tentaram associar o caso a uma fala de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia anterior, de que pensava em vingança contra Moro quando estava preso em Curitiba.

Além de refutar essa ligação, aliados do petista aproveitaram para exaltar o contrário: a ação da PF demonstrava a isenção da corporação, que atua em prol inclusive de um desafeto do presidente.

Nesta quarta, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manifestou solidariedade a Moro e ao promotor Gakiya e, sem indícios nem provas, buscou associar a ação da PF nesta quarta à facada que sofreu em Juiz de Fora (MG), em 2018, e ao assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, em 2002.

"Em 2002 Celso Daniel, em 2018 Jair Bolsonaro e agora Sergio Moro. Tudo não pode ser só coincidência. O Poder absoluto a qualquer preço sempre foi o objetivo da esquerda. A CPMI [comissão parlamentar mista de investigação] assombra os inimigos da democracia", escreveu nas redes sociais.

Integrantes do governo e aliados rebateram. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a operação mostra que o aparelhamento da Polícia Federal "acabou". Segundo ele, em outros tempos, talvez a PF "nem tivesse abordado, feito uma investigação como essa, com celeridade".

"O ministro da Justiça [Dino] não faria uma declaração pública informando a natureza da investigação, da ação da PF, se tivesse alguma razão de nature za política. Óbvio que vai ter um esforço da oposição de politizar isso. Mas o tempo que a PF foi aparelhada, a realização dessa operação hoje é a prova mais cabal que esse tempo acabou", disse.

Moro foi o juiz responsável por uma série de condenações pela operação Lava Jato, inclusive a que manteve o hoje presidente Lula (PT) preso por 580 dias entre 2018 e 2019. No final de 2018, Moro abandonou a magistratura para, no ano seguinte, assumir o cargo de ministro da Justiça da gestão de Bolsonaro.

Em 2020, porém, Moro deixou o governo Bolsonaro, rompido com o presidente, e, em 2021, foi considerado parcial pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em condenação de Lula.

O ex-juiz se filiou ao Podemos para disputar a Presidência em 2022, agora como rival tanto do petista como de Bolsonaro. Acabou decidindo concorrer a senador no Paraná pela União Brasil e foi eleito.

Na operação desta quarta, a PF encontrou esconderijos de criminosos. A cidade onde eles foram localizados, porém, não foi revelada pela corporação.

Em agosto de 2022, a PF chegou a cumprir mandados de prisão e buscas e apreensão numa investigação sobre um plano para resgatar chefes do PCC de presídios federais de segurança máxima.

Na ocasião, a polícia já apontava a suspeita de um plano para sequestrar autoridades e desenvolver outras ações para conseguir a soltura de chefes da facção.

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