Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Receita vai investigar 2º pacote com joias enviado a Bolsonaro por governo saudita

Também nesta segunda, PF instaurou inquérito para apurar o caso

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

A Receita Federal vai apurar as circunstâncias da entrada no Brasil de um segundo conjunto de joias enviado pelo governo da Arábia Saudita por intermédio da missão chefiada pelo ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque àquele país em outubro de 2021.

Esse pacote não foi interceptado pelos auditores fiscais no aeroporto de Guarulhos e, como mostrou recibo oficial ao qual a Folha teve acesso, foi entregue à Presidência em novembro passado para compor o arquivo pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em nota divulgada nesta segunda-feira (6), a Receita afirmou que "tomará as providências cabíveis no âmbito de suas competências para esclarecimento e cumprimento da legislação aduaneira, sem prejuízo de análise e esclarecimento a respeito da destinação do bem".

Também nesta segunda, a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar o caso, após solicitação do ministro da Justiça, Flávio Dino. O caso ficará sob a responsabilidade da superintendência da corporação em São Paulo.

Outro estojo com joias enviado ao Brasil pelo governo da Arábia Saudita em outubro de 2021
Segundo estojo com joias enviado ao Brasil pelo governo da Arábia Saudita em outubro de 2021 - Reprodução

Em ofício endereçado ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, Dino afirmou que as tentativas de entrada com os artigos de luxo sem declaração ao Fisco "podem configurar crimes contra a administração pública tipificados no Código Penal".

"No caso, havendo lesões a serviços e interesses da União, assim como à vista da repercussão internacional do itinerário em tese criminoso, impõe-se a atuação investigativa da Polícia Federal", diz trecho do ofício enviado à PF em que Dino pede que "sejam adotadas as medidas investigativas legalmente cabíveis".

De acordo com entendimento das autoridades, afirmou o Ministério da Justiça, os bens estariam sendo transportados por um ex-ministro e um de seus assessores, referência a Albuquerque.

"As joias, que foram apreendidas pela Receita Federal, seriam entregues ao então presidente da República, segundo reportagens veiculadas na imprensa nacional. Conforme documentos, houve, nos meses subsequentes, diversas providências visando à liberação das joias mantidas sob a guarda da Receita Federal", disse a pasta comandada por Dino.

Em outra frente de apuração, a Receita acionou o Ministério Público Federal em São Paulo. Técnicos do Fisco se reuniram com representantes da Procuradoria na tarde desta segunda. O MPF solicitou aos auditores fiscais o compartilhamento de informações disponíveis sobre a entrada das joias.

Um dos pacotes enviados pela Arábia Saudita, um conjunto de joias e relógio avaliado em R$ 16,5 milhões que seria para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, foi retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos assim que Albuquerque e equipe desembarcaram no Brasil. Estava na bagagem de um dos auxiliares do ex-ministro. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Um outro estojo, que inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard e supostamente destinados a Bolsonaro, estava em poder de um outro integrante da comitiva e não foi interceptado pela fiscalização.

"De acordo com o fato pode configurar violação da legislação aduaneira também pelo outro viajante, por falta de declaração e recolhimento dos tributos", afirmou a Receita.

O órgão afirmou no comunicado que o procedimento de seleção de passageiros leva em consideração critérios de gerenciamento de risco, baseados em um conjunto de informações relativas ao voo, ao passageiro e às características da viagem.

À Folha Albuquerque afirmou ter informado aos auditores fiscais ainda no aeroporto de Guarulhos sobre a mala contendo o segundo pacote de joias.

Procurado pela reportagem, o ex-assessor especial do MME (Ministério de Minas e Energia) Antônio Carlos Mello disse que o ministério informou e pediu orientações à Receita e à Presidência tão logo os supostos presentes foram recebidos na sede da pasta.

Mello foi, segundo recibo oficial, o responsável pela entrega do estojo de joias à Presidência no último dia 29 de novembro, a praticamente um mês do término do mandato de Bolsonaro. O pacote ficou mais de um ano sob a guarda do ministério, segundo o ex-assessor.

No caso das joias avaliadas em R$ 16,5 milhões e retidas pela Receita, houve uma série de tentativas de desembaraço por meio de "carteiradas", segundo o jornal O Estado de S. Paulo —como a do envio a Guarulhos, a três dias do fim do mandato de Bolsonaro, do militar Jairo Moreira da Silva em um avião da FAB para "atender demandas do senhor presidente da República naquela cidade".

O então secretário especial da Receita, Julio Cesar Vieira Gomes, foi nomeado em 30 de dezembro para a Embaixada do Brasil em Paris, o que foi revogado posteriormente no governo Lula.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.