Evento com Delúbio e Vaccari tem tietagem, fala sobre caixa 2 e torcida contra Moro

Pivô de escândalos, ex-tesoureiros petistas participaram de debate na Grande SP

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Carapicuíba (SP)

Os ex-tesoureiros do PT Delúbio Soares e João Vaccari Neto, pivôs de escândalos do partido, participaram neste domingo (16) de evento que teve tietagem à dupla, fala sobre caixa 2 em campanhas e até torcida para que o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil) seja preso.

O debate contou com algumas dezenas de militantes e foi realizado em Carapicuíba (Grande SP), em um clube do Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região (Secor).

O evento intitulado "Quando a Política se Vale da Justiça" tinha como mote a versão de ambos os petistas, que se declaram inocentes sobre o mensalão e a Lava Jato. O tom foi de argumentação de que ambos os casos se trataram de tentativas de atingir o PT e Luiz Inácio Lula da Silva.

Delubio e Vaccari em evento no clube da Secor, na Grande SP
Delubio (de camisa vermelha) e Vaccari (de camisa branca) em evento no clube da Secor, na Grande SP, neste domingo (16) - Folhapress

Durante o evento, Delúbio e Vaccari foram tietados e tiraram selfies com o público, que não incluía, porém, nenhum petista de alto escalão. Os dois permanecem no partido, mas pouco têm feito aparições e declarações públicas desde que deixaram a prisão.

Delúbio foi condenado pelo crime de corrupção ativa pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no mensalão. Preso em 2013, foi autorizado no fim de setembro de 2014 a cumprir o restante da pena em prisão domiciliar. Em março de 2016, o tribunal concedeu o perdão da pena.

Depois, foi preso novamente em 2018 por suspeita de lavagem de dinheiro na Lava Jato e, posteriormente, foi liberado, passando a conseguir reviravolta nos casos.

Recentemente, decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou ação ao considerar que a 13ª Vara Federal de Curitiba, de Sergio Moro, não tinha competência para a ação contra ele e enviou o caso à Justiça Eleitoral.

"Hoje esse cidadão que fala com vocês não tem mais nenhum processo criminal em curso. Ganhei todos", disse Delúbio, que, durante o evento, distribuiu uma pequena revista com o nome de "Delúbio Soares, o réu sem crime".

Ele afirmou ainda que nunca fez nada errado e que foi colocado como "o cara mais nefasto da face da Terra" na época do mensalão, em uma crítica à mídia.

Em junho de 2005, o deputado Roberto Jefferson (PTB) falou sobre a existência do mensalão à Folha. Sete anos depois, o STF condenou 24 pessoas por participação no esquema apontado como desvio de dinheiro para abastecer a compra de apoio político no Congresso no início do governo Lula.

O ex-tesoureiro do PT afirmou ter pago "um sacrifício muito grande" pela condenação no caso, mas que pode dar início a um processo de revisão criminal se houver condições políticas para tal.

Delúbio falou sobre o financiamento de campanhas na época do caso e disse que a prática de caixa dois era usual. "Aquela época era usual. Nós fizemos campanha eleitoral e recebemos como os empresários queriam dar o dinheiro", disse.

Ele afirmou, no entanto, que nunca houve compra de deputados, conforme afirmava a denúncia. Em vez disso, ele citou pagamentos de despesas não contabilizadas de partidos aliados ao PT.

Olhando para a frente, Delúbio ainda afirmou que o partido precisa ganhar as eleições municipais de 2024 para ter condições de aumentar o poder no Congresso Nacional em 2026. "São Paulo precisa eleger um governador popular", acrescentou.

Vaccari, por sua vez, seguiu na mesma linha e cobrou mobilização da militância. "Vamos disputar os vereadores, os prefeitos, mas não vamos esquecer de que nós temos que organizar a nossa base para os enfrentamentos", disse.

Ele também fez um discurso crítico às operações e citou tentativa de enterrar o PT e criminalizar Lula.

"Inúmeras foram as manchetes que eles iam acabar com o PT, que o PT iria ser fechado por decisão da Justiça. Hoje, passada a confusão, quantos processos tem o PT? Nenhum", disse.

Condenado em segunda instância por corrupção passiva em três processos, ele foi preso em abril de 2015 durante a Lava Jato por ordem de Sergio Moro.

Foi beneficiado pelo indulto natalino concedido pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) e deixou a prisão em setembro de 2019. O TJ-PR, contudo, cassou o indulto e a decisão foi ratificada pelo ministro do STF, Edson Fachin, em outubro de 2020.

Vaccari diz que foi absolvido em cerca de dez processos e responde por volta de sete. "Eu fui o primeiro da Lava Jato a ser preso. Eu era o tesoureiro, nada melhor do que chamar o cara que mexe com dinheiro de ladrão. É fácil", disse.

O ex-tesoureiro relatou a experiência de ter ficado 1.483 dias preso e até fez uma previsão de que veria Sergio Moro passar também pelo cárcere.

"Outra coisa que eu sempre disse: nós ainda vamos Sergio Moro sendo preso. O motivo eu não sei, mas ele vai ser preso", disse.

Durante o evento, havia a preocupação com a possibilidade de aparecimentos de escândalos contra o PT.

Advogado de Delúbio, Pedro Paulo de Medeiros também participou do debate, no qual tratou as investigações como ações políticas e acusações sem provas para afetar o PT. Agora, segundo ele, o Judiciário voltou a recobrar a consciência.

"Foram acusados injustamente para evitar a perpetuação do povo no poder. Hoje, nós estamos no poder. Houve mensalão, houve petrolão, houve Lava Jato. Não havia fatos verdadeiros para ensejar uma acusação, mas as acusações vieram. Então, estejam bem preparados, não tenham dúvida. Algo está sendo preparado neste exato momento para amanhã. Um outro 'ão' vai aparecer", disse Medeiros.

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